DE ZÉ DE JULIÃO AO
GRUPO DE NEGÓCIOS
O sertanejo Zé de Julião praticou, nos idos dos anos cinqüenta, uma
façanha emblemática que, na sua essência primitiva de violência e desafio
representava a irresignação de um homem rude e valente contra um sistema
eleitoral contaminado pela fraude. Esse sistema
se perpetuava pela omissão ou
conivência de quem deveria zelar pela lisura das eleições. Lisura em pleitos
eleitorais era coisa que nos anos 50, mais de vinte anos depois de uma
revolução que foi feita para garantí-la, continuava sendo apenas mais
uma aspiração frustrada dos ¨ tenentes¨ corajosamente
rebelados contra a estrutura carcomida dos ¨coroneis ¨ que se revezavam no
poder, fraudando eleições e impedindo a
participação popular.
Zé de Julião, pequeno
proprietário de terra e de gado pé-duro nos ermos entre Poço Redondo e a Serra
Negra, na Bahia, acostumado à vida embrutecida nas caatingas ásperas, nada
sabia de política, mas, os amigos que eram muitos, o convenceram a
candidatar-se a prefeito de Poço Redondo.
Pelas adesões que recebia e o entusiasmo que se observava na sua gente não tinha dúvidas de que
venceria. Mas não foi bem assim. As urnas
dormiam sem que a apuração ocorresse, porque tudo era primitivo, manual,
as comarcas grandes e com poucos juízes, os transportes precários . E havia a
¨emprenhação,¨ prática repetida até recentemente, antes das urnas eletrônicas.
Com a conivência das autoridades as
urnas eram abertas, e nelas acrescentadas cédulas falsas, e suprimidas as
verdadeiras. Houve em Aracaju, um cidadão, advogado por sinal, especializado nesse tipo de ¨serviço ¨,
tendo, por isso, recebido o sugestivo apelido de Doutor Gillete.
Zé de Julião teve a certeza de que acontecera da noite para o
dia a temida fraude, e as urnas teriam sido
violadas.
Organizou um grupo montado e bem armado , invadiu Poço Redondo
e se foi com as urnas. Refugiou-se nas vertentes da Serra Negra até ser preso.
Levado a uma penitenciária em Aracaju lá
terminou assassinado. Zé de Julião era uma ¨caixa-preta ¨ da qual poderiam sair
comprometedoras revelações .
A vida do sertanejo
inconformado com a realidade injusta que o cercava, transformou-se no belo
filme do cineasta Hermano Pena, Aos Ventos que Virão.
Sem a ingenuidade, e muito menos a carência de Justiça que
motivou a inaudita ação transgressora do
sertanejo, tão audaz quanto inconseqüente, um grupo de negócios que investiu
pesadamente na política, está agora arquitetando uma estratégia destinada
a subverter em Sergipe o rumo da eleição
do dia 5 de outubro.
Não chegarão a cavalo, mas, entre outras coisas, planejam
encher as ruas das principais cidades com gente paga para fazer boca de
urna. Pagam metade e a outra metade
ficaria para depois da eleição, caso obtenham sucesso.
Só esbarram num obstáculo: até agora nem grandes passeatas
conseguiram fazer, uma prova de que é difícil
subverter a vontade do povo.
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