sábado, 13 de setembro de 2014

DE ZÉ DE JULIÃO AO GRUPO DE NEGÓCIOS



 DE ZÉ DE JULIÃO AO
GRUPO DE NEGÓCIOS
O sertanejo Zé de Julião  praticou, nos idos dos anos cinqüenta, uma façanha emblemática que, na sua essência primitiva de violência e desafio representava a irresignação de um homem rude e valente contra um sistema eleitoral contaminado pela fraude. Esse sistema   se perpetuava pela omissão ou conivência de quem deveria zelar pela lisura das eleições. Lisura em pleitos eleitorais era coisa que nos anos 50, mais de vinte anos depois de uma revolução que foi feita para garantí-la, continuava sendo   apenas mais   uma   aspiração  frustrada dos ¨ tenentes¨ corajosamente rebelados contra a estrutura carcomida dos ¨coroneis ¨ que se revezavam no poder,  fraudando eleições e impedindo a participação popular.
Zé de Julião,  pequeno proprietário de terra e de gado pé-duro nos ermos entre Poço Redondo e a Serra Negra, na Bahia, acostumado à vida embrutecida nas caatingas ásperas, nada sabia de política, mas, os amigos que eram muitos, o convenceram a candidatar-se a prefeito de Poço Redondo.  Pelas adesões que recebia e o entusiasmo que se observava  na sua gente não tinha dúvidas de que venceria. Mas não foi bem assim. As urnas  dormiam sem que a apuração ocorresse, porque tudo era primitivo, manual, as comarcas grandes e com poucos juízes, os transportes precários . E havia a ¨emprenhação,¨ prática repetida até recentemente, antes das urnas eletrônicas. Com a conivência das autoridades  as urnas eram abertas, e nelas acrescentadas cédulas falsas, e suprimidas as verdadeiras. Houve em Aracaju, um cidadão, advogado por sinal,  especializado nesse tipo de ¨serviço ¨, tendo, por isso, recebido o sugestivo apelido de Doutor Gillete.
Zé de Julião teve a certeza de que acontecera da noite para o dia a temida fraude, e as urnas teriam sido  violadas.
Organizou um grupo montado e bem armado , invadiu Poço Redondo e se foi com as urnas. Refugiou-se nas vertentes da Serra Negra até ser preso. Levado a uma penitenciária  em Aracaju lá terminou assassinado. Zé de Julião era uma ¨caixa-preta ¨ da qual poderiam sair comprometedoras revelações .
A  vida do sertanejo inconformado com a realidade injusta que o cercava, transformou-se no belo filme do cineasta Hermano Pena, Aos Ventos que Virão.
Sem a ingenuidade, e muito menos a carência de Justiça que motivou a  inaudita ação transgressora do sertanejo, tão audaz quanto inconseqüente, um grupo de negócios que investiu pesadamente na política, está agora arquitetando uma estratégia destinada a  subverter em Sergipe o rumo da eleição do  dia 5 de outubro.
Não chegarão a cavalo, mas, entre outras coisas, planejam encher as ruas das principais cidades com gente paga para fazer boca de urna.  Pagam metade e a outra metade ficaria para depois da eleição, caso obtenham sucesso.
Só esbarram num obstáculo: até agora nem grandes passeatas conseguiram fazer,  uma prova de que é difícil subverter a vontade do povo.

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