A SERINGUEIRA QUEM DIRIA
CAPITULOU FEIO AO MERCADO
O que é mercado? Da origem latina mercatu, até esses dias
globalizados, o local primitivo onde num
canto qualquer das cidades ou aldeias as
pessoas se encontravam para comprar, vender e trocar, a palavra que é substantivo, adquiriu conotações tão amplas e
variadas que até desafiam as categorias gramaticais.
Qual o significado
mesmo que teria hoje a palavra mercado? Todo dia se ouve nos noticiários que o mercado revela
esta ou aquela tendência, que o mercado está insatisfeito, que o mercado
sinaliza isso ou aquilo, a baixa ou
elevação dos juros, o crescimento da economia ou a recessão; que o mercado
reage às pesquisas eleitorais, que o mercado aprova ou não aprova ações do
governo, que o mercado indica a subida
do dólar ou uma fuga de capitais, que o mercado quer a autonomia do Banco
Central, que o mercado reprova ou aprova
nomes indicados para ministérios, e por aí se estendem, ilimitadamente, as
demonstrações de onipresença e onipotência de tudo o que está embutido no
substantivo mercado. O mercado vai ainda mais longe: comanda e determina as
ações de grandes potencias como os Estados Unidos e a Comunidade Européia por exemplo. Agora mesmo os embargos
que estão sendo anunciados contra a Rússia
resultam do interesse do mercado em fazer retornar o clima da guerra
fria. A distensão após a queda do Muro
de Berlim,e o fim da União Soviética, afetou os ganhos do complexo industrial
financeiro militar. Então, pela vontade
do mercado cria-se um confronto artificial que vai ressuscitar a corrida
armamentista. Com esse mesmo objetivo se fez o desastre, a hecatombe da
Primeira Grande Guerra, que neste ano chega ao centenário. Foi o mercado sequioso
de lucros que inventou um conflito, imaginando que a guerra seria breve e
redundaria em grandes lucros para as corporações industriais e o sistema
financeiro. E aconteceu a carnificina.
O mercado superou os
governos, é aquele monstro incontrolável que causou a bolha imobiliária nos
Estados Unidos, cuja conseqüência foi a recessão mundial , da qual ainda
estamos a pagar o preço. No auge da crise, quando o governo americano retirava
recursos de programas sociais para salvar banqueiros falidos e a pobreza
aumentava e as ruas enchiam-se de
desempregados sem rumo, surgiu o movimento ¨Occupy Wall- Street ¨, uma
reação forte da sociedade americana contra a sem-vergonhice do sistema
financeiro que submetia, ao seu talante , as decisões do governo americano.
Surgiu, do presidente da ainda maior potencia do mundo, a leve, cautelosa
insinuação, de que o poderio representado pelos bancos e especuladores não
poderia ficar sem submeter-se ao controle social. Começou a ser questionada a
tão abençoada autonomia do Banco Central, um tema recorrente hoje entre os mais
atualizados pensadores que buscam saídas viáveis para a crise decorrente do
neoliberalismo globalizado.
Cornelius Castoriadis,
filósofo que morreu em 1997, ja advertia para o bloqueio que os dogmas do
capitalismo levantam contra os que ousam questioná-los. Um desses dogmas é a
autonomia dos bancos centrais, requisito indispensável, juram, para que o sistema
financeiro funcione às mil maravilhas, ou seja, garantindo lucros ilimitados
para os banqueiros e especuladores.
Escreveu Castoriadis no volume VI da série Figuras do
Pensável : ¨Os cantores do
neoliberalismo apresentam suas aberrações como evidências de um bom senso no
qual a liberdade absoluta dos movimentos do capital vem arruinando setores
inteiros da produção de quase todos os países e a economia mundial se
transforma em um cassino planetário. ¨
A ex-seringueira Marina, revelou-se ao país depois de tanto
prantear Chico Mendes,e consolidou sua imagem de mulher pobre alfabetizada aos
14 anos e sobrevivente das febres da malária; com mais um pranto derramado,
dessa vez por Eduardo Campos, tornou-se
candidata à presidência. Depois disso,
logo começa a renegar
tudo o que antes afirmava.
Se antes Marina e o grupo Natura tanto se identificavam em
nome da ecologia, agora, surge uma nova identificação, dessa vez com o sistema
financeiro, no caso representado pelo poderosíssimo Grupo Itaú , o esteio da candidata.
E a ex-seringueira esquece as origens, lança ao lixo suas
raízes populares, sua identidade com os povos da selva, e passa a defender a
autonomia do Banco Central, ou seja, despreza os interesses de 99,9 % da
sociedade brasileira para atrelar-se a uma tese que até a matriz do capitalismo
começa a renegar.
Caso o Brasil se curve ao globalizado cassino financeiro e conceda autonomia ao Banco Central a nossa permanência nos BRICS onde não existe
um só país com Banco Central autônomo, começaria a ser ameaçada, porque o
modelo da parceria entre emergentes não agrada aos que fazem mover as
engrenagens da agiotagem global que o
neoliberalismo idolatra.
Aonde nos quer levar a seringueira cooptada pelos barões da
alta finança?
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