domingo, 1 de junho de 2014

O URBANISTA O ARQUITETO E A FLECHADA DO ÍNDIO



O URBANISTA O ARQUITETO
  E A FLECHADA  DO ÍNDIO
Lúcio Costa a quem Juscelino Kubitschek pediu que projetasse no meio do nada uma cidade inovadora,e Oscar Niemayer a quem foi feito o outro pedido para que ocupasse o traçado urbano com prédios modernos, logo surpreenderiam o presidente apresentando-lhe um esboço de Brasília que ia além da expectativa que ele criara    ainda prefeito de Belo Horizonte  quando os dois para ele projetaram o Parque da Pampulha, onde havia aquela igrejinha de linhas futuristas que o Arcebispo  da capital mineira, o sergipano Dom  Antônio  Cabral, recusou-se a sagrar.
 Niemayer e Lúcio Costa tinham a mesma ideia sobre o que a nova capital representaria para o país  que iniciava o arrojado salto de desenvolvimento. Entenderam, que naquela cidade símbolo,tudo teria de ser revolucionariamente criador,  emblematicamente descomplicado, uma estética despojada de atavios e ostentações, buscando a simplicidade das formas geométricas, sobretudo uma arquitetura brasileira que não fosse  cópia de modelos europeus ou norte- americanos. Lúcio Costa rabiscou o plano piloto da cidade: o eixo e duas asas, ou uma flecha. Pensava-seno  país do futuro, no que aquela cidade representaria,  e nada melhor do que o traçado de um avião ou de uma  flecha para simbolizar  a ousadia do vôo.  Niemayer traçou as linhas essenciais do Alvorada, do Supremo, da Catedral ,  do Palácio do Itamaraty, e nelas, mais ainda, configurava-se  a imagem da flecha, da sensação de movimento e leveza,  de desafio , superação e liberdade. Enquanto surgiam nas pranchetas do arquiteto e do urbanista as formas e o delírio da nova capital, cresciam de intensidade as investidas dos¨arqueólogos do presente¨, perdidos na escavação do passado, vozes catastróficas, clamor negativista, traçando horrorosos panoramas para um país cujo governante,
patriota e visionário, cometia o crime de acreditar na capacidade do seu povo para construir uma grande nação.   Antes de inaugurar Brasília, preparando-se para recepcionar as delegações estrangeiras convidadas para a festa de entrega da ¨novacap¨ , JK  telefonou para um acérrimo adversário , o economista e também engenheiro Eugênio Gudin. Eleprofetizava na sua coluna semanal no jornal O Globo, que a capital isolada, quase  ponto geodésico central do país, ficaria   muito tempo sem poder comunicar-se por telefone. Gudin, ao ouvir a voz do presidente, indagou-lhe de onde ele estava falando, e JK respondeu: ¨Estou no meu gabinete no palácio da Alvorada em Brasília, espero contar amanhã com a sua presença na  festa.¨
O Brasil felizmente tem conseguido vencer o pessimismo e o maus presságios, os brasileiros costumam ter um arsenal poderoso deamuletos e sortilégios para superar o mau agouro.
  Assim, temos atravessado crises, atenuado decepções e afastado o azar.
Mas, no começo da semana que passou uma flecha  insólita, surgiu, e não se tratava de  representação artística , de algo que houvesse sido concebido nos desenhos pioneiros de Niemayer e Lúcio Costa. Foi disparada pelo arco de um índio bom de pontaria , penetrou no corpo de um cavalariano que tentava conter a fúria da horda truculenta. Queriam marchar atravancando e paralisando as ruas, até o estádio onde estava a Taça da Copa, e impedir  que uma multidão visse de perto o dourado troféu. Os índios, misturados aos desordeiros, antes protestavam contra a  lei de demarcação das terras que dizem lhes pertencer, aliás, o Brasil todo lhes pertenceria, antes de serem subjugados pelos brancos que conheciam como  usar a pólvora, e  pela força das armas
traziam para a  fé cristã o bugre, na¨ piedosa tarefa¨ de salvar-lhe a alma.
 De onde vem esse ódio do índio contra a Copa do Mundo no Brasil? Certamente ele,muito bem informado, dispondo de Internet, celular, tablet e computador, sabe que a FIFA,  máfia do futebol, é  antro de ladrões,  sabe também que grande parte das obras permanentes, além do delírio megalomaníaco das ¨arenas ¨impostas pela FIFA, ainda não estão concluídas.  Um índio assim, tão bem informado, deve saber que manifestação não se confunde com depredação e saque,sabe que disparar uma flecha e ferir alguém é crime. Mas o índio não foi preso, apenas apreendido, no linguajar e procedimentos técnicos para os inimputáveis, menores de 18 anos, índios, loucos. Também os baderneiros, se chegaram a ser presos, logo foram postos em liberdade, como determinam as nossas leis.
 No episódio brasiliense da baderna e da flecha,conjuminaram-se dois equívocos: Primeiro, a transposição para as nossas leis daquela ideia romântica de Jean Jacques Rousseau, segundo a qual o homem primitivo é  portador  de uma inocência, ingenuidade e bondade inatas, ¨O Bom Selvagem ¨, e a civilização o corrompe, daí, sendo ingênuo ou aculturado, todos os índios são, na prática, tratados da mesma forma, mesmo se estiverem ¨civilizadamente ¨participando de um tumulto e esticando o arco para disparar flechas contra policiais. O outro equivoco é supor que a democracia pode sobreviver no vácuo das leis não obedecidas, e da omissão de quem deveria fazê-las respeitadas.

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