A ARTE DE BEM GOVERNAR
ENSINADA POR MAQUIAVEL
Nicolo Maquiavel discreto
amanuense florentino, viveu numa época em que o feudalismo entrava em agonia e o surgimento do
sistema mercantil, vestibular do capitalismo, exigia a criação de uma nova
forma de Estado, aparelhado para governar, para fazer a guerra e garantir a
ordem sobre o seu território. No lugar dos feudos dominados por senhores
poderosos que desafiavam o poder dos príncipes, era preciso um poder
centralizado e forte. Maquiavel,também historiador
que escreveu a longa e épica saga da sua
terra , Florença, centro de comércio e berço das artes renascentistas,
tornou-se então o que hoje presunçosamente
se intitula ¨cientista político ¨. Ele, frequentador das salas e alcovas
dos príncipes, bem conhecia o que nelas se passava, e jamais se intitularia ¨cientista de uma coisa que é tão fluida, tão
inexata, tão imprevisível, que nunca poderia ser tratada como se fosse algo
semelhante às ciências exatas.
Maquiavel resolveu então escrever
um pequeno livro,que ofereceria ao Príncipe como contribuição para que ele, com eficiência, exercesse e presservasse o seu poder. Maquiavel, tão incompreendido,
porque não o situam na época em que viveu, época dos punhais, dos venenos,
terminou sendo adjetivado, e maquiavelismo tornou-se sinônimo de esperteza ou
maldade permeando os atos da política. Na verdade a partir de O Príncipe, o
miúdo opúsculo, surgiram as bases do Estado moderno.
Os que estudam a repercussão da
obra de Maquiavel através dos tempos, assinalam o interessante detalhe de que,
na cabeceira de tantos poderosos o livro era um manual permanente de consulta,
e revelam que em todos se encontra
sublinhada a frase sucinta: ¨Governar é gerar
expectativas ¨. Isso aconteceu nos
opúsculos que estiveram nas cabeceiras de Napoleão, de Gaulle, Churchill,
Stalin, Lênin, Mussolini,Catarina da Rússia, até Hitler. Raquel de Queiroz, boa escritora, muito amiga do ditadorzinho
marechal Castelo Branco, primeiro de uma série, insistia em nele identificar
traços de um intelectual. Dela Castelo teria recebido
um exemplar de O Príncipe, não se sabe se o folheou e, se o fez, certamente
ficou no capítulo referente aos venenos e punhais.
Maquiavel tem razão, nada melhor
para um governante do que criar expectativas, e lutar para realizá-las, sem
esquecer de despertar outras novas. Foi
o que fez Lula, ele próprio uma expectativa, por ser operário,oriundo do movimento
sindical e criador de um partido de esquerda. O sindicalista soube transitar muito bem,
tanto entre os pobres como entre banqueiros e outros magnatas. Mas o pobre sem
duvidas foi beneficiado no seu governo. Concorde-se ou não com os programas
sociais, eles na verdade mudaram o Brasil para melhor e deram mais folego à
economia. Dilma entrou sem gerar expectativas a não ser a de que seria a gerente
eficaz que tocaria adiante os projetos de Lula. Veio a crise, começaram as
dificuldades, e uma presidente no inicio bem avaliada começou a desabar. A
encruzilhada em que nos encontramos agora é que,no momento maquiavélico que o
país atravessa, parece não existir nenhum personagem capaz de gerar expectativas,
ou seja, de entender os ensinamentos ainda válidos de um homem do século 15,
que moldou a imagem do estadista, válida hoje , desde que evidentemente
atualizada.
Em Sergipe, Jackson Barreto
parece ter sublinhado também a frase de Maquiavel, e não tem feito outra coisa
senão gerar expectativas, que alimenta com
a intensidade da dedicação absoluta ao
cargo, que não imaginava viesse a ocupar
nas circunstancias tão dramáticas que se sabe.
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