sábado, 6 de julho de 2013

DOS CAVALOS DE FIGUEIREDO AOS JATINHOS DE RENAN E HENRIQUE



DOS CAVALOS DE FIGUEIREDO AOS
JATINHOS DE RENAN E  HENRIQUE
Quando o general Ernesto Geisel, saído da presidência da Petrobras, preparava-se para assumir a Presidência da República e ia compondo o seu ministério, deparou-se logo com a primeira dificuldade. Seu irmão o general Orlando Geisel era Ministro do Exército. Oficial que se identificava com  a truculência da ¨linha dura ¨,   facção radical das forças armadas, ele comandara a pesada repressão durante os 4 anos do general Garrastazu Médici,  e não demonstrava vontade de abandonar o posto. O irmão presidente o decepcionou escolhendo outro general para Ministro. Orlando Geisel conformou-se,  mas resolveu continuar morando no Palácio Duque de Caxias,  residência oficial no Rio de Janeiro dos  ministros do exército. Orlando Geisel ,  mesmo vestindo  pijama de militar reformado, lá ficou vivendo com a família, desfrutando de todas as mordomias , e recebendo, às expensas dos cofres públicos,  o longo tratamento da enfermidade que o levou à morte. Já um  outro  general,  o último deles escolhido para presidente, João Batista Figueiredo, era vidrado em  equitação. Montava todos os dias, praticava salto,  e  de tanto conviver nas baias, até  disse que preferia o cheiro dos seus cavalos ao cheiro do povo. Esse, pelo menos, era sincero.  Figueiredo era ministro-chefe do SNI,  - Serviço Nacional de Informações- o imenso aparato bisbilhoteiro que invadia a vida pública e privada das pessoas. O general  instalou-se durante muito tempo na Granja do Torto, e lá também viviam os seus cavalos, que  gostavam de comer aveia .  Na presidência,  continuou morando na Granja do Torto para não sair da  proximidade dos seus  cavalos, todos alimentados e tratados com o dinheiro do contribuinte.  Figueiredo, nos quase 4 anos à frente do SNI,  cuidou de investigar a vida dos políticos , dos servidores públicos, dos empresários, e muitos deles, carimbados  como corruptos , foram expostos à sanha persecutória do regime. Já o general Orlando Geisel, morador do Palácio Duque de Caxias, deu plena sustentação à ditadura que,  segundo ele, tinha como principal meta livrar o Brasil de  corruptos e subversivos. Mas os dois não se constrangiam,  um, em viver à custa dos cofres públicos em um palácio, e o outro, a alimentar e tratar suas exigentes montadas com dinheiro  da mesma procedência. Iniciada a abertura, relaxada a rotina repressiva, restabelecida as eleições diretas para  governadores, decretada a anistia, suspensa a censura, Figueiredo participava de um ato político em Florianópolis, e um grupo de estudantes começou a vaiá-lo. Ele não perdeu o humor até que um deles gritou: ¨ Figueiredo, Figueiredo dos seus cavalos o povo não tem  medo ¨. Nem os seguranças conseguiram segurar o general furioso que desceu à rua para  brigar com os estudantes. Eles,  prudentemente correram. 
A ditadura que agonizava, enfim, e felizmente, morreu.  Entre os seus generais presidentes, pelo que se sabe, só  Costa e Silva tinha gostos que iam bem além da mordomia equina. Amante de um carteado,  ele, principalmente quando foi comandante do II Exército, tornou-se conhecido pelas dívidas feitas nas mesas de jogo, pelos cheques voadores  espalhados, até quando, finalmente,  lhe socorreu o providencial amparo  de uma velha e riquíssima senhora, também frequentadora da tavolagem, que vinha a ser, exatamente, a mãe de um engenheiro   quase desconhecido, chamado Paulo Maluf,  logo  nomeado prefeito da cidade de São Paulo.  Nem o mais ousado dos agiotas imaginaria um retorno tão excepcional para o  capital utilizado.
Instalada a equivocadamente chamada Nova República, os  condestáveis e os seus pajens tornaram-se ginetes de outras cavalgadas,  bem  mais destemidas. Houve o tropel nunca interrompido em direção aos segredos dos cofres da pátria amada. A velha mistura entre público e privado  exigia algo mais do que  cavalos, e entre outras coisas  se fez corriqueiro o uso desordenado dos jatinhos.  Feito governador do ainda território  federal de Fernando Noronha, o jornalista Fernando Mesquita recepcionava,  quase todas as semanas, ministros, familiares e amigos,  que nas asas da Força Aérea Brasileira  chegavam para o animado  week-----end. Com FHC, a ilha  fascinante que deixara de ser  território federal,  não desativou a Casa de Hóspedes localizada num privilegiado local,  de onde se podia ver o Mar de Fora, na direção da África, e o Mar de Dentro, na direção do Brasil, de onde escapavam os fatigados ministros sempre,  nos jatos da FAB,  deixando longe as canseiras.
A farra  dos jatinhos começou a ser denunciada, e os seus usuários se viram obrigados a um certo recato.
 Hoje, com o povo nas ruas em indignada fúria contra os descaminhos e equívocos do poder, pensava-se que o simples recato fosse substituído pela obrigatoriedade do respeito ao povo.
Mas  que nada, os velhos vícios são  resistentes.
 Encontrava-se o presidente da Câmara Federal Henrique Eduardo Alves, em Natal, sua terra,  quando  resolveu atender aos familiares  e amigos que queriam assistir, no Maracanã, o jogo Brasil e Espanha. Lá se foram todos num jato da FAB.
Já o presidente  do Senado Federal,  Renan Calheiros, saiu da sua Maceió, também num avião da Força Aérea, e foi a Porto Seguro, na Bahia, participar da festa do casamento de um casal amigo   No dia seguinte, após a ressaca da festa, retornou a Brasília. Para ele, nada de errado aconteceu, como presidente do Senado, alegou,   tem direito aos privilégios considerados ¨representação oficial ¨.  Certamente representava o Senado na festança do casal festejador. Henrique Eduardo Alves inventou uma audiência que teria com o Prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, estranhamente num domingo, e dia do jogo, mas devolveu aos cofres públicos 9 mil e 700 reais, que seriam correspondentes às passagens da sua despreocupada comitiva.   O  ministro da previdência Garibalde Alves, aquele que tem sempre no rosto um sorrisinho inocente de coelhinho, também andou aprontando . Foi de Fortaleza ao Rio assistir o final da Copa das Confederações num jatinho da FAB. Levou parentes e aderentes, entre eles um grande empresário. Todos já anunciam agora a devolução aos cofres públicos do que foi gasto. O cálculo porem é inexato, até inexpressivo. E por que todos não fazem melhor,  em chendo-se de vergonha e devolvendo os seus cargos?  Por aqui perto,  a Mesa da Assembleia nem pensa em devolver aos mirrados cofres de Sergipe, os 250 mil reais pagos ao ex-ministro do Supremo, Sepúlveda Pertence, para que faça a defesa dos interesses da deputada Suzana Azevedo .
 É  preciso agora que os jovens manifestantes nas ruas ouçam  os relatos de velhos que , quando jovens, enfrentaram nas ruas a cavalaria da ditadura, para que, diante da farra impudica  dos jatinhos ,e outras farras que continuam não venham a se sentir tentados a considerar ingênuos, aqueles que  transformaram  cavalos em pensionistas do Estado, ou fizeram  de prédios federais  residências vitalícias.

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