sábado, 6 de julho de 2013

A DESCOBERTA DA DEMOCRACIA



A DESCOBERTA DA DEMOCRACIA

A  História do Brasil registra, numa sucessão de eventos, a  trajetória  de uma ideia em busca de afirmação. Não foi um percurso exemplarmente cumprido,  sequer traçado com a clareza da escolha,  nem mesmo  a coerência das motivações. A marcha da democracia no Brasil tem sido um labirinto de contradições. Talvez por isso mesmo, e embora  exaltada,  aquela concepção de ¨governo  do povo, pelo povo e para o povo ¨, sempre juntou na mesma praça em delírio retórico,  ou no mesmo quartel em  ânsias de rebelião, os equívocos das escolhas e as incoerências das ações. Aquelas senhoras  transidas de sentimentos patrióticos que dedilhavam terços nas marchas ¨Com Deus pela pátria e pela família ¨  pouco antes  do epílogo final do golpe de 1964,  definiam-se todas, como sendo a intimorata barreira levada às ruas das cidades brasileiras para deter o avanço do comunismo   que ameaçava a democracia brasileira. Logo,  elas estariam transidas de um outro sentimento. Ao ouvirem aquelas vozes cavernosas que anunciavam cassações, prisões, nos estertores da liberdade, as senhoras dedilhavam os terços,  entravam numa espécie de  histeria,   as insatisfações do corpo  disfarçadas ou aplacadas pela inconsequente adesão ao autoritarismo. Mas, nem uma  só entre elas deixaria de se definir, orgulhosamente, como democrata pura. Os políticos que alertavam para as ameaças  à democracia, logo decoraram o hino de exaltação aos generais ¨salvadores das instituições ¨.  Democracia e hipocrisia não se casam bem, e desse desencontro visceral,  nascem ditaduras, ou, um dia, quando a   hipocrisia é identificada algo de salutar acontece.
As ruas que clamam, nos fazem descobrir as virtualidades que a democracia oferece   quando  a presunção que é o pior vírus a infectar o poder, termina por desmascarar o equivoco,  ou a hipocrisia de acreditar na plenitude democrática com o povo mudo.
Se um dia transformar-se em realidade a utopia  da plenitude das satisfações humanas,  poderemos, quem sabe, conviver com a  paralisia social, onde somente se ouvirá a chatice uníssona de um SIM. Talvez essa concordância absoluta  torne desnecessária a democracia.    A humanidade  se reduziria a um bando de idiotas  em abobalhado êxtase de  unanimidade.
 Enquanto isso felizmente não acontece,  diante da falsa imagem do melhor dos mundos, as ruas que dizem NÃO fazem a descoberta da democracia ampla, geral e irrestrita, desde que não haja, no meio, a fúria selvagemente totalitária dos arruaceiros.

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