OU A ¨FARINHA DE ARARIPINA¨
O aparato de marketing do senador
Eduardo Amorim o envolve com os adereços sedutores de uma atraente promessa de
renovação política. O irmão do poderoso
Edivan , seria, assim, uma espécie de John Kennedy, provinciano, é verdade, cuja semelhança com o
outro, o americano, reside unicamente no
fato de que também foi preparado por um líder da família
para que chegasse ao topo do cenário político. Uma
parte da meta foi alcançada, Edivan já
tem um gabinete no Senado Federal que
lhe serve de escritório brasiliense, onde trata de política e dos seus interesses
empresariais. Mas resta a segunda etapa
do seu projeto que seria a subida triunfal das escadas do Olímpio
Campos ao lado do irmão governador, e , em seguida, lá
instalar-se em outro gabinete com as
mesmas finalidades.
Esse não seria exatamente um projeto
renovador, apenas uma ambição pessoal, uma ideia ambiciosa, de certa forma
egocêntrica, que se foi transformando em realidade graças a um jogo inteligente de somação de interesses
políticos acoplados à edulcoradas
expectativas. Nisso, o irmão do senador é mestre consumado, juntando habilidade
política, senso de oportunidade a uma sedutora e convincente prosa, onde se
desenham os frutos prontos para caírem no cesto de cada um, através de um
habilidoso manejo da colheitadeira do
poder.
Para essa expectativa de colheita
futura a terra vem sendo muito bem semeada.
Mas, onde estaria a renovação, a novidade?
Com o passar do tempo constata-se
que o senador é uma espécie de farinha do mesmo pirão, e de uma farinha como
aquela de Araripina, que, dizem os pernambucanos, não agrada ao paladar, é
insossa.
O que faz mesmo o jovem - antigo senador? Incorpora-se ao segmento mais atrasado e preconceituoso da sociedade, que mantem na Comissão de Direitos Humanos da
Câmara Federal o deputado Feliciano, aquele que classifica como ¨amaldiçoados ¨,
os africanos, isto é, os negros, e
também os judeus e os homossexuais, e ainda chegou ao absurdo de afirmar que o assassinato
de John Lenon e a tragédia que vitimou o grupo
Mamonas Assassinas, foram ¨castigos divinos ¨. Que castigo divino mereceriam Lenon, que
compôs Imagine, a utopia sublime de um
novo mundo ? E os Mamonas, que espalharam em curto tempo,
pelo país, a alegria descontraída da irreverencia ?
O mundo anda regurgitando de ideias
novas, discute-se e contesta-se a modernidade. Em busca de novos caminhos, um
filósofo da atualidade, Zygmunt Bauman estabelece nexos com o mal- estar da civilização que Freud identificou, e constata que a essência da
pós-modernidade é a ânsia de liberdade, contraponto das mudanças tecnológicas, econômicas,
culturais, que afetam o cotidiano das pessoas. E aqui, o nosso jovem–antigo
senador vai ficar encalhado no que existe de mais passadiço e anacrônico?
Alguém dirá: Esse debate não é o
nosso, aqui, sergipanamente afundados no cotidiano de mediocridades, nem
podemos pensar em modernidade, quanto mais em pós-modernidade. Certo, mas não se vence o
atraso político, cultural, social, sem ideias
renovadoras , objetivas, práticas e consistentes. Essa política de ¨olho no olho ¨ , ¨
confiança na palavra dada ¨de que tanto fala o senador, repetindo
cansativamente o irmão, é coisa retirada
dos baús encardidos do velho coronelismo, é entulho da Velha República, que, na
carência de ideias, serve como frase de efeito para impressionar alguns
desavisados. O ¨ olho no olho¨ a
¨palavra empenhada ¨ eram a segurança para os acordos entre coronéis, onde
também entravam o fio da barba, do cavanhaque ou do bigode. Hoje, quando
rareiam a barba, o bigode, e nem mais se sabe o que é cavanhaque, Edivan reinventa em Sergipe os acordos entre o ¨
coronel ¨e os ¨coroneizinhos¨
remanescentes, e neles só uma coisa não entra : o povo.
Agora, o novo-antigo senador quer
retirar do ar um programa radiofônico
que o incomoda, entrando com uma representação para que as emissoras retransmitindo o radialista George Magalhães
paguem elevada multa. O mesmo senador
beneficia-se, faz tempo, da rede de
emissoras do seu irmão empresário, mas, quer cercear a liberdade de informação, impedir o pluralismo, o livre transito das
ideias, ou seja, quer ser o intocável, porém, com direito a em todos tocar, e como bem entender, porque armas poderosas de
comunicação estão sempre ao seu inteiro dispor.
Para o jovem – antigo senador uma
redoma de intocabilidade seria a
blindagem indispensável para que ocupe, sem contestações o palco político, como se fosse o anjo anunciador, enquanto os outros seriam demônios ou
fantasmas do passado.
Os demais, as outras lideranças
repetidamente apontadas como velharia pelo
pool de emissoras a serviço do senador, são, todavia, personalidades bem
conhecidas, com seus defeitos, suas virtudes, suas realizações, suas inações e
suas ações, seus erros e acertos; uma gente que tem passado conhecido, origem
política identificada, ideias e pensamentos, expostos através de muitos anos de
participação direta na vida pública, seguindo caminhos próprios, sem se deixarem comandar por cordéis manejados
nos bastidores
Gente como João Alves, Jackson
Barreto, Valadares, Albano.
Gente como Déda, cuja voz viva, sintonizada
com a modernidade, para Sergipe é essencial.
Essa gente, é a farinha conhecida
do nosso pirão político. Outros, que se
insinuam como novidade virtuosa e única nesse pirão, podem não ser nada mais do que a rançosa
farinha de Araripina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário