ANDORRA TÃO MIÚDA E
O BRASIL TÃO GRANDE
Andorra, minúsculo principado encravado nas alturas dos
Pirineus entre a Espanha e a França, é o sexto menor país da Europa. Supera em
extensão apenas o Vaticano, o menor de todos, San Marino,
Mônaco, o Linchenstein e a ilha de
Malta, no mar Mediterrâneo. Para que se tenha ideia da reduzido tamanho do fantástico paisinho, em Sergipe, menor estado brasileiro, caberiam
mais de dez Andorras. Mas, apesar dessa astronômica desproporção,
Andorra supera o Brasil em diversos setores da economia. No turismo, por
exemplo. Lá, chegam todos os anos mais
de 9 milhões de turistas, quase o dobro dos que por aqui se aventuram,
pagando as mais caras diárias de hotéis,
e contas surpreendentes em restaurantes, bares e serviços, que espantam até a
quem ganha em euros ou dólares, mais ainda, tendo de constatar o visitante, que nós,
brasileiros, ainda não aprendemos requisitos básicos de higiene, como por
exemplo o mais elementar: manter sanitários rigorosamente limpos. E o que é
pior: aqui, o turista estrangeiro torna-se um indefeso chamariz de bandidos,
podendo ser assaltado a qualquer momento, por aqueles mais ostensivos, os que
usam armas. Uma bala perdida é outra eventualidade pavorosa. Se for a uma praia nordestina, terá de
batalhar contra as moscas que lhe
recobrirão o prato, e de olho vivo nos
menores que o assediam pedindo qualquer
coisa. Se, contudo, vier o turista com a
intenção criminosa de fazer sexo com menores, daqui, ele sairá certamente
satisfeito.
Andorra, antigo feudo, existe há
mais de mil anos, e, buscando proteção, tornou-se co-governado pelo Bispo de Urgel, cidade espanhola vizinha, e pelo rei de
França. Hoje, no lugar do rei está o
presidente francês, que nunca vai a Andorra. Mas o bispo de Urgel lá comparece
regularmente, e trata de receber a parte que lhe cabe no reduzido latifúndio. O
país tem um primeiro ministro eleito e um conselho de estado, formado por
representantes também eleitos. Os cerca de 80 mil habitantes convivem,
permanentemente, com o tripulo de
turistas que se deliciam com os preços menores em mais de duas mil lojas, e em cerca de 500 bons
hotéis. Em Andorra a segurança é absoluta. Praticamente não existem cadeias,
porque não há criminosos. O acesso ao país é complicado, somente possível
através de uma estrada estreita, que serpenteia subindo a montanha até mais de
2 mil metros. No rigoroso inverno a neve tudo recobre, e o tráfego torna-se uma
aventura arriscada. Tudo o que é
consumido em Andorra chega transportado por caminhões. Na última semana de
maio, a temperatura ao pé dos Pirineus andava por volta dos 20 graus, quase no meio da subida já havia neve caindo,
amontoando-se sobre a estrada, e a
temperatura descia a um grau negativo. A
temporada de esqui vai normalmente de novembro a março. Em Andorra a
pestilência do jogo de azar é proibida e a vida noturna flui sossegadamente,
sem excessos. Também não há prostituição ostensiva, pelo menos.
Andorra é uma fascinante aventura
para o corpo e para o espirito. De cima
daquelas cumeadas recobertas de gelo, dá para imaginar as dificuldades que ali
existem e foram vencidas, e as facilidades que aqui no Brasil temos e são
inaproveitadas. Seria extremamente
ambicioso imaginar quando poderíamos ter uma renda per capita pelo menos próxima
da metade que hoje ostenta Andorra, além dos 70 mil euros ? Uma expectativa de vida chegando a 84 anos,
uma mortalidade infantil de quase zero, o mesmo acontecendo com a criminalidade? Mas, já
descendo a ladeira íngreme, nos reconfortando com temperaturas amenas e buscando um reencontro menos decepcionado com a
realidade brasileira, daria, pelo menos,
para acreditar que poderíamos, aos poucos, ir deixando de ser tão
incivilizados, sem ter a pretensão exagerada de pensar que um dia, numa cidade
brasileira, entraríamos num ônibus onde
um motorista atencioso, impecavelmente vestido, responderia às nossas perguntas, se necessário
em 5 idiomas, e que no seu rádio
estivesse ouvindo As Quatro Estações, de Vivaldi, e comentasse: ¨Essa parte é a da primavera, a estação que agora
estamos vivendo, apesar de tanta neve ¨.
PS- Num restaurante simples, mas especializado em presunto
espanhol ¨pata negra ,¨ uma garçonete portuguesa de olhos rutilantemente
verdes, temendo a crise europeia, sonhava
em transferir-se para o Brasil, mas,
tinha medo da violência, e indagou se aqui as leis eram rigorosas com quem
cometia assaltos e assassinava. Ficou
atônita ao saber que dificilmente, no
Brasil, um preso passaria mais de 5 anos na cadeia, e que, enquanto isso, sua família receberia uma ajuda do Estado de
quase dois salários mínimos. A rapariga
¨alfacinha ¨, ou seja, de Lisboa, com os
olhos agora quase a faiscar, perguntou indignada: ¨E quanto recebem as famílias dos assassinados, quanto recebem os que são assaltados ? Aqui, em Andorra, na hipótese quase
impensável de alguém ser vítima de um assalto, o governo prontamente o indenizaria ¨.
Ficou sem resposta, porque houve
apenas o pensamento contido, sem a verbalização: Somos o melhor país do mundo,
sufocado pela mais deplorável elite que se possa imaginar.
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