terça-feira, 4 de junho de 2013

ANDORRA TÃO MIÚDA E O BRASIL TÃO GRANDE



ANDORRA TÃO MIÚDA E
O BRASIL TÃO  GRANDE

Andorra,  minúsculo principado encravado nas alturas dos Pirineus entre a Espanha e a França, é o sexto menor país da Europa. Supera em extensão  apenas o  Vaticano, o menor de todos, San Marino, Mônaco, o Linchenstein e a ilha de  Malta, no mar Mediterrâneo. Para que se tenha ideia da reduzido tamanho  do fantástico paisinho, em Sergipe,  menor estado brasileiro,  caberiam  mais de  dez Andorras.  Mas, apesar dessa astronômica desproporção, Andorra supera o Brasil em diversos setores da economia. No turismo, por exemplo. Lá,  chegam todos os anos mais de 9 milhões de turistas, quase o dobro dos que por aqui se aventuram, pagando  as mais caras diárias de hotéis, e contas surpreendentes em restaurantes, bares e serviços, que espantam até a quem ganha em euros ou dólares, mais ainda,  tendo de constatar o visitante, que nós, brasileiros, ainda não aprendemos requisitos básicos de higiene, como por exemplo o mais elementar: manter sanitários rigorosamente limpos. E o que é pior: aqui, o turista estrangeiro torna-se um indefeso chamariz de bandidos, podendo ser assaltado a qualquer momento, por aqueles mais ostensivos, os que usam armas. Uma bala perdida é outra eventualidade pavorosa.  Se for a uma praia nordestina, terá de batalhar  contra as moscas que lhe recobrirão o prato,  e de olho vivo nos menores que o assediam  pedindo qualquer coisa.  Se, contudo, vier o turista com a intenção criminosa de fazer sexo com menores, daqui, ele sairá certamente satisfeito.
Andorra, antigo feudo, existe há mais de mil anos, e,   buscando proteção,  tornou-se co-governado pelo Bispo de Urgel,  cidade espanhola vizinha, e pelo rei de França.  Hoje, no lugar do rei está o presidente francês, que nunca vai a Andorra. Mas o bispo de Urgel lá comparece regularmente, e trata de receber a parte que lhe cabe no reduzido latifúndio. O país tem um primeiro ministro eleito e um conselho de estado, formado por representantes também eleitos. Os cerca de 80 mil habitantes convivem, permanentemente, com o tripulo  de turistas que se deliciam com os preços menores em mais de  duas mil lojas, e em cerca de 500 bons hotéis. Em Andorra a segurança é absoluta. Praticamente não existem cadeias, porque não há criminosos. O acesso ao país é complicado, somente possível através de uma estrada estreita, que serpenteia subindo a montanha até mais de 2 mil metros. No rigoroso inverno a neve tudo recobre, e o tráfego torna-se uma aventura arriscada.  Tudo o que é consumido em Andorra chega transportado por caminhões. Na última semana de maio, a temperatura ao pé dos Pirineus andava por volta dos 20 graus,  quase no meio da subida já havia neve caindo,  amontoando-se sobre a estrada, e a temperatura descia a  um grau negativo. A temporada de esqui vai normalmente de novembro a março. Em Andorra a pestilência do jogo de azar é proibida e a vida noturna flui sossegadamente, sem excessos. Também não há prostituição ostensiva, pelo menos.
Andorra é uma fascinante aventura para o corpo e para o espirito.  De cima daquelas cumeadas recobertas de gelo, dá para imaginar as dificuldades que ali existem e foram vencidas, e as facilidades que aqui no Brasil temos e são inaproveitadas.  Seria extremamente ambicioso imaginar quando poderíamos ter uma renda per capita pelo menos próxima da metade que hoje ostenta Andorra, além dos 70 mil euros ?   Uma expectativa de vida chegando a 84 anos, uma mortalidade infantil de quase zero,  o mesmo acontecendo com a criminalidade?  Mas,  já descendo a ladeira íngreme, nos reconfortando com temperaturas  amenas e buscando  um reencontro menos decepcionado com a realidade brasileira, daria,  pelo menos, para acreditar que poderíamos, aos poucos, ir deixando de ser tão incivilizados, sem ter a pretensão exagerada de pensar que um dia, numa cidade brasileira,   entraríamos num ônibus onde um motorista atencioso, impecavelmente vestido,  responderia às nossas perguntas, se necessário em 5 idiomas,  e que no seu rádio estivesse ouvindo As Quatro Estações, de Vivaldi, e comentasse:  ¨Essa parte é a da primavera, a estação que agora estamos vivendo, apesar de tanta neve ¨.
PS-  Num restaurante  simples, mas especializado em presunto espanhol ¨pata negra ,¨ uma garçonete portuguesa de olhos rutilantemente verdes,  temendo a crise europeia, sonhava em  transferir-se para o Brasil, mas, tinha medo da violência, e indagou se aqui as leis eram rigorosas com quem cometia assaltos e assassinava.  Ficou atônita ao saber que  dificilmente, no Brasil, um preso passaria mais de 5 anos na cadeia,  e que, enquanto isso,  sua família receberia uma ajuda do Estado de quase dois salários mínimos. A  rapariga ¨alfacinha ¨, ou seja,  de Lisboa, com os olhos agora quase a faiscar, perguntou indignada:  ¨E quanto recebem as famílias dos  assassinados,  quanto recebem os que são assaltados ?  Aqui, em Andorra, na hipótese quase impensável de alguém ser vítima de um assalto, o governo prontamente o  indenizaria ¨.
Ficou sem resposta, porque houve apenas o pensamento contido, sem a verbalização: Somos o melhor país do mundo, sufocado pela mais deplorável elite que se possa imaginar.

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