PLANTE QUE A ESPERANÇA GARANTE
A ditadura na área econômica não
foi aquele horror da repressão contra as ideias e os movimentos sociais. Os cérebros pensantes do regime de força,
entre os quais eram maioria os tecnocratas civis, tinham um perfil bem
diferente daqueles que andavam de
chicote na mão, como o general Newton Cruz, que se lamenta por não ter espaldeirado com mais
força um parlamentar que participava de uma manifestação contra o fechamento do
Congresso Nacional. Havia entre os que não resumiam tudo a uma carga de
baionetas, a convicção de que a economia precisava crescer, o pleno emprego ser assegurado, mas, com a quietude social assegurada através da domesticação dos sindicatos, a repressão a tudo que fosse
reivindicação de trabalhadores. Os empresários precisavam do clima de ¨paz social ¨, sem os incômodos das reivindicações
salariais. Greve era subversão comunista. O regime forte assegurava essa ¨paz¨ . E houve crescimento econômico, mas,
segundo Delfim Neto, era preciso fazer crescer o bolo para depois reparti-lo. A dívida externa agigantou-se e com a crise
do petróleo, lá se foi o ¨milagre brasileiro ¨.
Mas houve algumas boas iniciativas, uma delas foi o programa ¨plante que o governo garante ¨, dando ao
produtor a certeza de que receberia o preço mínimo.
Muitos avanços ocorreram desde
então, e nos últimos dez anos a reforma agrária, o apoio à agricultura familiar
e a incorporação de tecnologias pelos
grandes produtores fizeram o Brasil dar um formidável salto na produção de
grãos. Mas o agricultor brasileiro ainda está longe de comparar-se aos seus
colegas norte-americanos ou europeus, onde subsídios sustentam até a falta de competitividade, e os bancos não
avançam impunemente sobre o patrimônio de produtores endividados. Aqui, plantar, colher
e criar, ainda é um caminho áspero a ser percorrido. E no nordeste, no semiárido nordestino, as
asperezas se multiplicam.
Mas a chuva chegou, molhou a
terra, que não sentia o refrigério de
uma só gota há muito tempo. Então o tormento logo virou esperança, e todos se
puseram a plantar. Dá gosto ver como no sertão que tão árido ficou, tudo de repente se renova, surge o verde, e os
sabiás se juntaram cantando, numa ode à alegria; as sementes estão sendo
jogadas à terra, o sertanejo que já é forte, retempera-se com qualquer aguinha,
mais ainda, quando chove ensopando a terra.
Segundo estima o nosso homem do tempo, Overland Amaral, todos podem
plantar confiantemente, pois ele garante que as chuvas perdem intensidade na
segunda quinzena deste mês, mas, logo voltarão com mais vigor em junho e
esticarão até agosto.
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