DO MALECÓN DE HAVANA
À NOSSA
13 DE JULHO
O Malecón era o bairro dos
magnatas no prostíbulo americano do qual Havana era a capital. Em 1960, depois da
revolução eles fugiram, deixaram os imóveis em Cuba e foram desfrutar os
dólares que haviam precavidamente
depositado nos bancos em Miami. Hoje, o
bairro é um conjunto de casarões em ruinas, que se tornaram tugúrios habitados
por centenas de famílias. Era o cartão de visitas da cidade , mas o governo socialista dos dois irmãos que
desafiam o tempo, não parece dar importância aquele tão flagrante atestado de desmazelo. Em frente
ao Malecón fica o mar caribenho, de
águas frequentemente furiosas, açoitadas por vendavais e furacões. Já faz mais
de um século que o calçadão fronteiriço ao mar foi construído sobre um sólido
muro de contenção onde as vagas estouram
com inaudita violência. Caminhar sobre
aquele calçadão é uma inusitada experiência de regressão, de volta aos anos cinquenta, desde que se solte a
imaginação para visualizar uma paisagem apenas retocada. Os palacetes estariam novos, e no azáfama da
dolce- vita habanera, em frente a eles, estariam aqueles mesmos
carrões americanos, quase os únicos que
agora passam pela avenida litorânea,
arrastando sofridamente o peso do tempo,
e ostentando o milagre de uma manutenção feita com o improviso dos jeitinhos
cubanos, que fazem deles uma espécie de ferros –velhos semi-novos. Não fosse o
passar dos anos que as ruinas
atestam, ali, nada teria mudado.
Uma onda forte ensopando o
transeunte imaginativo, causa-lhe um
susto, e o retorno à realidade.
O mar e o cais do Malecón se
enfrentam, sem que nunca tenha sido necessário interromper o transito na
avenida fronteiriça.
Aqui, na nossa Treze de Julho, (nome
evocativo de uma daquelas rebeliões cheias de
coragem e idealismo e sempre carentes de ideias, que vivemos
intensamente nos anos 20 e 300,) o mar, dizem, anda a ameaçar não só a avenida,
mas também as edificações, no nosso caso,
na sua maioria novas, símbolos de uma prosperidade que se espalhou pela cidade
expandida. Quer o prefeito João Alves,
naquela sua permanente ânsia obreira, realizar mais uma das suas audácias de
cimento: um novo cais e um calçadão .
Segundo ele, e a Justiça já o corrobora, com a ordem de interdição, o
mar, avançando em ondas que agora
quebram sobre a murada, estaria causando
uma perigosa infiltração que acarretará, em pouco tempo, o afundamento do
asfalto, talvez até ameaçando as fundações dos prédios alinhados paralelamente.
A ADEMA, requisitada a dar a licença ambiental,
alega problemas técnicos que exigiriam algum tempo até serem devidamente
analisados. Genival Nunes, o Secretário, é técnico abalizado e consciencioso.
Há ambientalistas que estão na linha de frente em oposição à obra que, entendem
desnecessária, e que se quer fazer a
toque de caixa e repique de sino. O
Secretario Municipal do Meio Ambiente, o
promotor público Eduardo Matos, é
personagem de primeira linha entre os que se dedicam ao estudo e à preservação
do meio ambiente, e com impaciência até, alega que a licença ambiental já
poderia ter sido concedida, insinuando
obstáculos resultantes de antagonismos político-ideológicos. O governador
Marcelo Déda entrou na contenda sugerindo que
Eduardo Matos baixasse a bola, e que se mantivesse o diálogo e a
apreciação técnica do problema.
Agora, com a rua já interditada, a questão é saber quem a opinião pública afetada
pelo congestionamento irá apontar como culpado pelo transtorno.
Enquanto isso, para dirimir
dúvidas e sanar divergências, se poderia solicitar um parecer conclusivo ao
CREA, o conselho de engenharia, órgão isento e tecnicamente habilitado,
sobre a situação real do cais da Treze de Julho e, principalmente, se existiria
a alegada infiltração perigosa que
estaria a ameaçar a verticalidade dos prédios, ou seja, correriam eles o risco
de desabamento. Há quem afirme, inclusive engenheiros experientes, que, se
alguma infiltração existir, seria mínima, e bastaria uma camada de concreto sobre a
amurada para impermeabiliza-la, Outros engenheiros, também e igualmente
responsáveis, garantem que o risco é iminente.
Diante do parecer do CREA, conclusivo e acatado, haveria então três
alternativas: Fazer urgentemente a obra, por cima de qualquer outra
consideração. Esquecer definitivamente a obra por ser desnecessária, ou, apenas, realizar a empreitada mais modesta, que seria
a vedação dos pontos de infiltração onde
eles existirem na amurada. Aliás, sobre
aquele cais da Treze de Julho dizem engenheiros que andaram a vistoriá-lo que
ele, construído faz muitos anos, tem uma sólida
e resistente estrutura, bem
diferente de outros que logo desabaram na Coroa do Meio, inclusive um, que
incorporava a tecnologia nova, ¨o cais a
gabião¨, destroçado aos primeiros impactos das ondas.
Em matéria de cais, não temos
tido boas experiências, basta que lembremos daqueles da Coroa do Meio, da Atalaia Nova, da
praia da Caueira, da Sarney, e alguns
outros.
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