A CRISE NOS ÔNIBUS PODE
ESTAR APENAS COMEÇANDO
A crise nos transportes coletivos de Aracaju
que o povo já sente, sente, e sofre, poderá apenas ser o início de um longo e
penoso desdobramento com final imprevisível. A crise não é exclusiva de uma
empresa, ela é sistêmica, atinge, indiscriminadamente, todas as
transportadoras. A VCA, agora no olho do furacão, é somente a ponta de um
iceberg cujas proporções precisam, com urgência, de criteriosa avaliação
técnica. O caso, em virtude da sua complexidade e das implicações sociais e
políticas nele facilmente constatáveis, não deve ficar restrito apenas à
competência da SMTT, como se tudo ficasse resumido a uma simples troca de
ônibus velhos por outros em igual ou pior situação. Ou ainda, pela retirada de
linhas rentáveis de uma empresa, para entregá-las a outras, sem que a população
sinta reais melhorias. Não há como fazer remanejamento de fro ta ou de linhas,
porque, como já ficou demonstrado, nenhuma das empresas que operam o transporte
urbano em Aracaju têm hoje capacidade para cobrir as deficiências de outras. Se
uma teve veículos temporariamente arrestados por decisões judiciais favoráveis
ao banco credor, outras, já tiveram bens levados a hasta pública. Não há como
selecionar eventuais culpados pela crise, se todos estão no mesmo barco que
afunda, a espera, certamente, dos salva-vidas do bom senso que poderão evitar o
colapso derradeiro, um colapso que, acontecendo, penalizará a maioria da
população aracajuana usuária do transporte público.
Melhor e mais produtivo do que atribuir culpas
será, sem duvidas, dividir responsabilidades.
O prefeito João Alves Filho, apenas começando o
mandato, poderia até escolher a opção politicamente mais fácil de despejar a
culpa sobre os antecessores, e desviar o assunto para uma acalorada polêmica,
em que o povo ficaria como impotente espectador. Não parece ser da índole do
calejado gestor público, que não tem cara de avestruz, optar pela comodidade da
escapatória, em vez de enfrentar problemas, correndo também, no caso, o risco
de vir a ser depois acusado de omissão, quando os terminais da cidade se
encherem de passageiros revoltados com o tempo alongado da espera inevitável,
em virtude do desmonte de uma frota agora já insuficiente.
A solução não será fácil, nem virá em curto prazo,
e o arguto político João Alves deve ter avaliado as consequências de um
eventual agravamento da crise, que poderá comprometer a imagem de administrador
eficiente que ele reconquista, renovada pelo voto popular do mais politizado
eleitor sergipano, que, dizem, é aquele morador da capital.
No momento, para que prevaleça o interesse público,
é essencial o diálogo, um diálogo direto com o próprio João Alves, ou, se ele
preferir, que seja designado interlocutor o seu vice, o confiável e também
calejado gestor público José Carlos Machado, sem excluir, evidentemente, os
outros protagonistas, mas, com o nível da discussão chegando e permanecendo no
gabinete do Prefeito. Isso, porque existe a necessidade urgente de medidas que
vão além das atribuições específicas da SMTT. Sobre o problema que é
gravíssimo, não há outra forma de solução que não passe pela abrangência de
duas visões que se completam: Uma, a essencialmente técnica, outra, a política,
da qual fazem parte inseparável a sensibilidade, o bom senso, e a noção de responsabilidade
pública.
Se isso ocorrer, se porá fim ao imediatismo de
medidas paliativas, que até agora apenas estão a agravar a crise, e colocando o
peso maior dela sobre os ombros já tão sofridos do povo.
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