sábado, 9 de março de 2013

LOURIVAL ¨PACÍFICO¨ BAPTISTA



LOURIVAL  ¨PACÍFICO¨  BAPTISTA
Lourival Baptista costumava dizer que entre o seu nome e prenome, seus pais deveriam ter incluído mais um,  que para ele seria a definição perfeita do seu temperamento, da forma de convivência que  visualizava para si  e para as relações mais amplas entre as pessoas. Ele assinaria então: Lourival Pacífico Baptista.  Nem precisou do nome próprio adjetivado para  ser o cidadão pacífico e pacificador que foi ao longo da sua vida. Lourival conseguiu mais ainda: Foi pacífico e também guerreiro. Simbolizou essa sua dupla característica na frase que transformou em inspiração e meta do seu governo: Pacificação e Desenvolvimento. Os tempos não eram de paz. Havia uma  ¨revolução¨ da direita,  onde ressentimentos misturavam-se com ódios e preconceitos, e a repressão andava solta,   estimulada pelo clima de vinganças e perseguições.  Os  ¨delegados da revolução ¨ , como eram  classificados os governadores indicados pela cúpula militar, possuíam poderes imensos. Lourival Baptista era homem identificado com o sistema, mas,  dele não se conhece um só ato de perseguição ou de mesquinhez. Contemporizou, controlou  radicalismos, teve uma atuação marcadamente política.  Em 1968,  adolescentes    ousavam protestar  contra a ditadura  e ocuparam as dependências do Atheneu, onde estudavam. O comandante do 28 BC, irritado, foi ao Palácio e disse estranhar porque o governador ainda não colocara a polícia para desalojar os estudantes. Lourival respondeu-lhe: ¨Coronel, logo eles sairão  vencidos  pelo desconforto, todos são quase crianças, eu  quero evitar um  choque desnecessário, e depois,   coronel, eu soube que sua filha está lá  também,  dentro do colégio,  protestando.¨
Lourival  pacificou a política sergipana.  Desramou espíritos,  e literalmente desarmou as pessoas, acabando o hábito arraigado    entre chefes políticos  que não se separavam do revólver à cinta. Há o caso de um deles, que, tempos depois, numa acirrada discussão na Assembleia, levou a mão à cintura procurando   a arma, e, não a encontrando, disse para um outro deputado que estava próximo:   ¨Aquele ali ( era o adversário  que estava na tribuna ) vai ficar devendo a vida a Lourival. ¨
O seu outro lado, o  de  ¨guerreiro¨,  Lourival o colocou em prática nas ações administrativas audazes que realizou para acelerar o desenvolvimento de Sergipe.  Transferir a sede da região Nordeste de Produção da Petrobras de Maceió para Aracaju foi uma delas.  Multiplicou por cinco a capacidade de matrículas  na rede pública. Começou as adutoras do São Francisco, desafiando pareceres contrários da SUDENE.  Abriu e asfaltou estradas, construiu milhares de casas populares, iniciou a reforma agrária pela legalização,  entregando títulos de posse aos ocupantes de terras contestadas.  Só em Porto da Folha foram mais de 600 títulos. Concluiu em um ano o Batistão  e o edifício Estado de Sergipe, o Maria Feliciana.  Enquanto um jornal local dizia que no  Distrito Industrial  em construção,  só haveria  ¨fábricas ¨ de massa puba e pé- de – moleque,¨ ele acelerava as obras, e  deixava  concluído o nascente parque industrial de Aracaju. Com o governo intinerante,  sempre instalado com muita pompa e circunstancia, Lourival iniciou a interiorização do desenvolvimento.  Valorizando o planejamento e a racionalização,  e valendo-se das suas influentes amizades no plano federal,  Lourival fez convergir para Sergipe recursos em profusão, dando um novo ritmo à nossa economia, que, então, beirava a indigência.
Quando se tratou de encerrar o ciclo militar, Lourival tornou-se aliado do candidato Tancredo Neves. Como senador, votou nele no Colégio Eleitoral, e em 1986, finda a ditadura, candidato ao terceiro mandato,  ( então, exercia o segundo, chamado biônico, por ter sido eleito indiretamente )  Lourival ouviu bater à sua porta, na velha casa da Rua da Frente 44, um grupo, onde havia operários, líderes sindicais, estudantes, intelectuais. Era uma delegação do PCB, Partido Comunista Brasileiro, que  fora  levar-lhe apoio. Lourival remexeu velhos papeis nas gavetas atulhadas deles, e de lá retirou uma desbotada foto da década dos trinta em Salvador. Era de um grupo de estudantes  universitários que protestavam contra a ditadura. Ele estava entre eles.
Lourival, que dizia conhecer o segredo da longevidade, morreu dia 8 em Brasilia,  onde vivia. Tinha 98 anos.  Seu segredo: Nunca ter raiva, não fumar, beber quase nada,  comer moderadamente, caminhar na praia da Atalaia, tomando sol e demorando-se na talassoterapia, os banhos de mar.
Sobre Lourival Baptista, o baiano que se tornou um dos maiores sergipanos do século passado, haverá sempre muito a dizer, e mais ainda, a dele,  sempre relembrar.

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