LOURIVAL ¨PACÍFICO¨
BAPTISTA
Lourival Baptista costumava dizer que entre o seu nome e
prenome, seus pais deveriam ter incluído mais um, que para ele seria a definição perfeita do seu
temperamento, da forma de convivência que
visualizava para si e para as
relações mais amplas entre as pessoas. Ele assinaria então: Lourival Pacífico
Baptista. Nem precisou do nome próprio
adjetivado para ser o cidadão pacífico e
pacificador que foi ao longo da sua vida. Lourival conseguiu mais ainda: Foi
pacífico e também guerreiro. Simbolizou essa sua dupla característica na frase
que transformou em inspiração e meta do seu governo: Pacificação e
Desenvolvimento. Os tempos não eram de paz. Havia uma ¨revolução¨ da direita, onde ressentimentos misturavam-se com ódios e
preconceitos, e a repressão andava solta,
estimulada pelo clima de vinganças e perseguições. Os ¨delegados da revolução ¨ , como eram classificados os governadores indicados pela
cúpula militar, possuíam poderes imensos. Lourival Baptista era homem
identificado com o sistema, mas, dele
não se conhece um só ato de perseguição ou de mesquinhez. Contemporizou,
controlou radicalismos, teve uma atuação
marcadamente política. Em 1968, adolescentes
ousavam protestar contra a ditadura e ocuparam as dependências do Atheneu, onde
estudavam. O comandante do 28 BC, irritado, foi ao Palácio e disse estranhar
porque o governador ainda não colocara a polícia para desalojar os estudantes.
Lourival respondeu-lhe: ¨Coronel, logo eles sairão vencidos
pelo desconforto, todos são quase crianças, eu quero evitar um choque desnecessário, e depois, coronel, eu soube que sua filha está lá também, dentro do colégio, protestando.¨
Lourival pacificou a
política sergipana. Desramou espíritos, e literalmente desarmou as pessoas, acabando o
hábito arraigado entre chefes
políticos que não se separavam do
revólver à cinta. Há o caso de um deles, que, tempos depois, numa acirrada
discussão na Assembleia, levou a mão à cintura procurando a arma, e, não a encontrando, disse para um
outro deputado que estava próximo:
¨Aquele ali ( era o adversário
que estava na tribuna ) vai ficar devendo a vida a Lourival. ¨
O seu outro lado, o de
¨guerreiro¨, Lourival o colocou
em prática nas ações administrativas audazes que realizou para acelerar o
desenvolvimento de Sergipe. Transferir a
sede da região Nordeste de Produção da Petrobras de Maceió para Aracaju foi uma
delas. Multiplicou por cinco a capacidade
de matrículas na rede pública. Começou
as adutoras do São Francisco, desafiando pareceres contrários da SUDENE. Abriu e asfaltou estradas, construiu milhares
de casas populares, iniciou a reforma agrária pela legalização, entregando títulos de posse aos ocupantes de
terras contestadas. Só em Porto da Folha
foram mais de 600 títulos. Concluiu em um ano o Batistão e o edifício Estado de Sergipe, o Maria
Feliciana. Enquanto um jornal local
dizia que no Distrito Industrial em construção, só haveria
¨fábricas ¨ de massa puba e pé- de – moleque,¨ ele acelerava as obras,
e deixava concluído o nascente parque industrial de
Aracaju. Com o governo intinerante, sempre instalado com muita pompa e
circunstancia, Lourival iniciou a interiorização do desenvolvimento. Valorizando o planejamento e a racionalização,
e valendo-se das suas influentes
amizades no plano federal, Lourival fez
convergir para Sergipe recursos em profusão, dando um novo ritmo à nossa
economia, que, então, beirava a indigência.
Quando se tratou de encerrar o ciclo militar, Lourival
tornou-se aliado do candidato Tancredo Neves. Como senador, votou nele no
Colégio Eleitoral, e em 1986, finda a ditadura, candidato ao terceiro mandato, ( então, exercia o segundo, chamado biônico,
por ter sido eleito indiretamente )
Lourival ouviu bater à sua porta, na velha casa da Rua da Frente 44, um
grupo, onde havia operários, líderes sindicais, estudantes, intelectuais. Era
uma delegação do PCB, Partido Comunista Brasileiro, que fora levar-lhe apoio. Lourival remexeu velhos
papeis nas gavetas atulhadas deles, e de lá retirou uma desbotada foto da
década dos trinta em Salvador. Era de um grupo de estudantes universitários que protestavam contra a
ditadura. Ele estava entre eles.
Lourival, que dizia conhecer o segredo da longevidade, morreu
dia 8 em Brasilia, onde vivia. Tinha 98
anos. Seu segredo: Nunca ter raiva, não
fumar, beber quase nada, comer
moderadamente, caminhar na praia da Atalaia, tomando sol e demorando-se na
talassoterapia, os banhos de mar.
Sobre Lourival Baptista, o baiano que se tornou um dos
maiores sergipanos do século passado, haverá sempre muito a dizer, e mais
ainda, a dele, sempre relembrar.
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