sábado, 9 de março de 2013

AS VESTAIS E AS PROSTITUTAS



 AS VESTAIS E AS PROSTITUTAS
 O que é uma  vestal ?    Seria o disfarce da prostituta acanhada?
A pergunta poderá ficar tranquilamente sem resposta.  Sendo as vestais tão raras,  e as prostitutas tão numerosas, esse mimetismo entre o prostíbulo e o altar   seria então um fenômeno sem maiores consequências para a sociedade.  
O perigo reside em outro fenômeno, aquele, em que uma  sociedade descrente, quase desiludida, se vê, de repente, tentada ao erro de beatificar pessoas, seres de carne e osso, sujeitos  às reações,  aos erros e  fraquezas,  vaidades e arrogâncias.   A natureza humana, avassaladoramente, está  a demolir a utopia da perfeição.
Depois do espetáculo televisivo que foi o mensalão, o ministro Joaquim Barbosa apareceu como mais um dos cavaleiros andantes  , cruzados em defesa  da honra nacional ultrajada. O ministro Barbosa virou quase um astro pop. Onde aparecia, despertava curiosidade, ouvia  aplausos entusiasmados,  acompanhando os seus passos sacrificados  de dolorido paciente de vértebras cervicais desalinhadas. Cogitam, até,  em fazer de Joaquim Barbosa candidato a Presidente da República. Ele alcançou as alturas da presidência do Supremo Tribunal Federal. O que se espera de quem chega a tão elevado  posto ? São inúmeras as exigências, mas, delas não podem estar excluídos o comedimento, a sensatez, o equilíbrio, acima de tudo, o respeito ao próximo, a indispensável consideração a todas as pessoas.
Como julgaria o mais alto juiz da República, Joaquim Barbosa, uma ação movida por alguém que fosse ofendido com agressões verbais que denotassem preconceito, intenção de injuriar, humilhar, menosprezar, atingir a dignidade humana, e onde estivesse incluída a frase:  ¨Não tenho nada a lhe dizer, volte para a pocilga onde você chafurda¨.
Escandalizado, invocando certamente leis, princípios, normas, ética, direitos humanos, o ministro Barbosa certamente condenaria o destemperado agressor a, no mínimo, cumprir medida sócio-educativa,  onde estivesse incluída a obrigação inicial   de pedir desculpas ao ofendido, ainda a indenizá-lo, com  valor pecuniário correspondente à intensidade do agravo.
O que acontecerá ao ministro Barbosa, ele mesmo, o destemperado autor da agressão ao jornalista,  que  apenas cumpria  tarefa   pautada por um chefe de redação de O Estado de S. Paulo,   onde  trabalha ?  Ofendido não foi somente o jornalista, foi, sobretudo, toda a imprensa;  pisoteada foi  a liberdade de expressão.   Ficou evidente  o desrespeito de uma alta autoridade  da República, ao profissional,  também  o conceito que ele tem do jornalismo, da imprensa, o desprezo absoluto pela dignidade das pessoas.  Dizer  de alguém que nem mesmo se conhece,  que é um porco a chafurdar numa pocilga, é agressão sórdida, vulgar, impiedosamente desumana, que desqualifica qualquer um que a faça. O ministro presidente do STJ,  sequer pediu  desculpas, apenas, permitiu que a sua assessoria divulgasse  nota canhestra, quase cínica, em nome dele.
Num país onde não haja lugar para vestais, o ministro Barbosa seria levado a renunciar ao cargo, para o qual está  psicologicamente inabilitado.
Entre nós, restou  o silencio. Silencio pusilânime, silencio vergonhoso, retrato dessa mídia acovardada e facciosa, que vive a denunciar ameaças à liberdade de informação, desde, certamente,  que as ameaças não partam dos ídolos de pés de barro que ela mesmo ajuda a construir. 

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