AS VESTAIS E AS
PROSTITUTAS
O que é uma vestal ?
Seria o disfarce da prostituta
acanhada?
A pergunta poderá ficar tranquilamente sem resposta. Sendo as vestais tão raras, e as prostitutas tão numerosas, esse mimetismo
entre o prostíbulo e o altar seria
então um fenômeno sem maiores consequências para a sociedade.
O perigo reside em outro fenômeno, aquele, em que uma sociedade descrente, quase desiludida, se vê,
de repente, tentada ao erro de beatificar pessoas, seres de carne e osso,
sujeitos às reações, aos erros e fraquezas,
vaidades e arrogâncias. A
natureza humana, avassaladoramente, está a demolir a utopia da perfeição.
Depois do espetáculo televisivo que foi o mensalão, o
ministro Joaquim Barbosa apareceu como mais um dos cavaleiros andantes , cruzados em defesa da honra nacional ultrajada. O ministro Barbosa
virou quase um astro pop. Onde aparecia, despertava curiosidade, ouvia aplausos entusiasmados, acompanhando os seus passos sacrificados de dolorido paciente de vértebras cervicais
desalinhadas. Cogitam, até, em fazer de
Joaquim Barbosa candidato a Presidente da República. Ele alcançou as alturas da
presidência do Supremo Tribunal Federal. O que se espera de quem chega a tão
elevado posto ? São inúmeras as
exigências, mas, delas não podem estar excluídos o comedimento, a sensatez, o
equilíbrio, acima de tudo, o respeito ao próximo, a indispensável consideração
a todas as pessoas.
Como julgaria o mais alto juiz da República, Joaquim Barbosa,
uma ação movida por alguém que fosse ofendido com agressões verbais que
denotassem preconceito, intenção de injuriar, humilhar, menosprezar, atingir a
dignidade humana, e onde estivesse incluída a frase: ¨Não tenho nada a lhe dizer, volte para a
pocilga onde você chafurda¨.
Escandalizado, invocando certamente leis, princípios, normas,
ética, direitos humanos, o ministro Barbosa certamente condenaria o
destemperado agressor a, no mínimo, cumprir medida sócio-educativa, onde estivesse incluída a obrigação
inicial de pedir desculpas ao ofendido,
ainda a indenizá-lo, com valor
pecuniário correspondente à intensidade do agravo.
O que acontecerá ao ministro Barbosa, ele mesmo, o
destemperado autor da agressão ao jornalista, que
apenas cumpria tarefa pautada por um chefe de redação de O Estado de
S. Paulo, onde trabalha ?
Ofendido não foi somente o jornalista, foi, sobretudo, toda a imprensa; pisoteada foi
a liberdade de expressão. Ficou
evidente o desrespeito de uma alta
autoridade da República, ao profissional, também o conceito que ele tem do jornalismo, da
imprensa, o desprezo absoluto pela dignidade das pessoas. Dizer
de alguém que nem mesmo se conhece, que é um porco a chafurdar numa pocilga, é
agressão sórdida, vulgar, impiedosamente desumana, que desqualifica qualquer um
que a faça. O ministro presidente do STJ, sequer pediu desculpas, apenas, permitiu que a sua
assessoria divulgasse nota canhestra,
quase cínica, em nome dele.
Num país onde não haja lugar para vestais, o ministro Barbosa
seria levado a renunciar ao cargo, para o qual está psicologicamente inabilitado.
Entre nós, restou o
silencio. Silencio pusilânime, silencio vergonhoso, retrato dessa mídia
acovardada e facciosa, que vive a denunciar ameaças à liberdade de informação,
desde, certamente, que as ameaças não
partam dos ídolos de pés de barro que ela mesmo ajuda a construir.
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