O TAMANHO DO ¨RABO¨ DE CADA UM DE NÓS
Francisco de Araújo Macedo
prometeu fazer um baile de tamancos no palácio Olímpio Campos no dia da
sua posse no governo do estado. A posse nunca aconteceu, mas o proletariado que usava tamancos ( a
havaianas daquele tempo) sempre assegurou para ele uma vaga certa na Câmara Federal. Macedo era rico
herdeiro de muitas terras, mas morreu
pobre, mesmo tendo, como prestigiado líder petebista, controlando todos os
Institutos de previdência em Sergipe. E
naquele tempo eram muitos. Certa vez, Macedo desentendeu-se com o bispo Dom Jose
Tomaz. Chamou o professor Nunes Mendonça,
amigo e redator do seu jornal O Nordeste e disse-lhe: ¨Nunes , eu quero que você faça uma série de
artigos contra o Bispo. ¨ Nunes, bom jornalista e
homem culto, não hesitava muito em
cumprir aquelas ordens, mas ponderou:
¨Macedo, Dom Jose é um religioso cheio de virtudes, fica difícil
bater nele , o homem não tem rabo.¨ E
ouviu rápido de Macedo a resposta inusitada: ¨É mais fácil assim, se ele não tem rabo, você bota o rabo do tamanho que quiser¨ ¨.
No primeiro artigo da série, houve a insinuação depois repetida, de que,
na moringa com a água fresca que o bispo bebia, havia mesmo era aguardente, cachaça da boa.
Verdade ou não, pessoas que costumavam visitar o Bispo, ¨muito reservadamente¨, passaram a comentar
que sentiam, no hálito do idoso prelado,
um cheiro denunciador da branquinha.
Os dois jovens parlamentares federais que protagonizaram o deplorável bate boca radiofônico no programa A Hora da Verdade, de George
Magalhães, já se apressaram em reconhecer o erro cometido.
Daquele episódio, resultou
um ensinamento que deveria ser
cuidadosamente guardado por todos os políticos,
e que assim poderá ser resumido: A descrença profunda que existe na
sociedade em relação aos homens públicos não permite que nenhum deles se transforme em censor do comportamento
alheio.
Gustave Le Bon, fez,
antes da ascensão dos totalitarismos no século passado, uma análise
social que se revelou contraditória,
porque, enquanto negava racionalidade
ao comportamento das massas, mostrava-se adepto do autoritarismo . Como a História viria logo a demonstrar,
todos os governos de força nasceram, exatamente, dos movimentos de massas que
criaram os ditadores. Aquele, foi
o tempo em que as massas se moviam alimentadas por esperanças e convicções que
as ideologias justificavam. Os líderes, encarnavam ,
cada um, a própria justiça e a verdade das ideias em confronto. As
massas se aquietaram na medida em que as ideologias se corporificavam em experiências
fracassadas e traumatizantes. São os ciclos da História, nunca o seu fim, nem a
insolvência das ideologias.
Fanatizada pelo
discurso demolidor e messiânico de Carlos Lacerda, a classe média carioca tornou-se propagadora da ideia
moralista-golpista, que estabelecia uma divisão maniqueista na sociedade brasileira, onde, de um lado
estariam os corretos, éticos, puros; do
outro, a escória corrupta que teria de
ser varrida do poder.
Quando Lacerda dizia que nos porões do Palácio do Catete corria um mar de
lama, todos os seus adeptos nele acreditavam, a sonhavam com a Vila Militar avançando a
disparar seus canhões contra Getúlio
Vargas, antes chamado de Pai dos Pobres, e a quem Lacerda acrescentou o
sobrenome de Mãe dos Ricos e Ladrões. A
sociedade envolvia-se com entusiasmo nessa contenda
desajuizada.
Hoje, ninguém mais bate no peito para usar o nome de qualquer
político como forma de identificação partidária ou ideológica, antes, até
matava-se e morria por um líder político. Quantas vezes isso sucedeu em
Sergipe. Aquele tempo acabou.
Aconteceu, também,
e isso é lamentável, um processo
de descrédito alcançando toda a classe política.
Acreditar em político , como de resto até no Papa, tornou-se coisa
extremamente difícil. Descobrem-se, agora, as orgias, ou surubas homossexuais vaticanas.
Quem mais poderá falar, sem deixar dúvidas, sobre as virtudes da castidade?
O povo meteu na cabeça que cada político, tem o rabo preso a alguma coisa, um interesse,
um deslize a esconder, uma fraqueza
pessoal que deve ser mantida em segredo. O diabo é que o personagem público
vive cercado pelos holofotes, piores até do que línguas de comadres.
Jornalistas que se
fizeram censores da sociedade, e escrevem livros dando lições de ética, sem
atentarem para o fato de que a liberdade de expressão vai até aonde permite o
interesse dos donos das mídias, não escapam de ter, pelas costas, algum rabo
preso. O desvirtuado jornalismo investigativo virou o esporte da busca e da
quantificação do rabo alheio.
Que se deixe ao bom
senso de cada personagem da vida pública o crescimento desmesurado ou o
controle cuidadoso sobre a dimensão do inescapável apêndice traseiro. E que
cada um passe a olhar para o seu,
principalmente se forem políticos, talvez os mais desacreditados.
Ninguém mais se
interessa pela revelação do tamanho dos rabos, de políticos, ou até mesmo dos Papas, porque nada
mais surpreende, nada mais escandaliza.
Para o povo, pelo menos neste momento, a política é o campo
onde os protagonistas devem agir em busca de resultados concretos, palpáveis,
principalmente, se forem sentidos no bolso.
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