sábado, 9 de março de 2013

O TAMANHO DO ¨RABO¨ DE CADA UM DE NÓS



O TAMANHO DO  ¨RABO¨ DE CADA UM DE NÓS

Francisco de Araújo Macedo  prometeu fazer um baile de tamancos no palácio Olímpio Campos no dia da sua posse no governo do estado. A posse nunca aconteceu,  mas o proletariado que usava tamancos ( a havaianas daquele tempo) sempre assegurou para ele uma  vaga certa na Câmara Federal. Macedo era rico herdeiro de muitas terras,   mas morreu pobre, mesmo tendo, como prestigiado líder petebista, controlando todos os Institutos de previdência em  Sergipe. E naquele tempo eram muitos. Certa vez,  Macedo desentendeu-se com o bispo Dom Jose Tomaz. Chamou o professor Nunes Mendonça,  amigo e redator do seu jornal O Nordeste e disse-lhe:   ¨Nunes , eu quero que você faça uma série de artigos   contra o Bispo. ¨ Nunes, bom jornalista e homem  culto, não hesitava muito em cumprir aquelas ordens, mas ponderou:  ¨Macedo, Dom Jose é  um  religioso cheio de virtudes, fica difícil bater nele  , o homem não tem rabo.¨ E ouviu rápido de Macedo a resposta inusitada: ¨É mais fácil assim,   se ele não tem rabo,  você bota o rabo do tamanho que   quiser¨ ¨.
No primeiro artigo da série, houve  a insinuação depois repetida,  de que,  na moringa   com  a água fresca que o bispo bebia, havia  mesmo era  aguardente, cachaça da boa.
Verdade ou não, pessoas que costumavam visitar o Bispo,  ¨muito reservadamente¨,  passaram    a comentar que sentiam, no hálito do  idoso prelado, um cheiro denunciador da branquinha.
Os dois jovens parlamentares federais que protagonizaram o  deplorável bate boca radiofônico  no programa A Hora da Verdade, de George Magalhães, já se apressaram em reconhecer o erro cometido.
Daquele episódio,  resultou  um ensinamento que  deveria ser cuidadosamente guardado por todos os políticos,  e que assim poderá ser resumido: A descrença profunda que existe na sociedade em relação aos homens públicos não permite que nenhum deles  se transforme em censor do comportamento alheio.
 Gustave Le Bon,  fez,  antes da ascensão dos totalitarismos no século passado, uma análise social  que se revelou contraditória, porque, enquanto  negava racionalidade ao  comportamento das massas,   mostrava-se adepto do autoritarismo .  Como a História viria logo a demonstrar, todos os governos de força nasceram, exatamente, dos movimentos de massas  que  criaram os ditadores. Aquele,  foi o tempo em que as massas se moviam alimentadas por esperanças e convicções que as ideologias justificavam. Os líderes,    encarnavam ,  cada um, a própria justiça e a verdade das ideias em confronto. As massas se aquietaram na medida em que as ideologias se corporificavam em experiências fracassadas e traumatizantes.  São os  ciclos da História, nunca o seu fim, nem a insolvência das ideologias.
  Fanatizada pelo discurso demolidor e messiânico de Carlos Lacerda,  a classe média   carioca tornou-se propagadora da ideia moralista-golpista, que estabelecia uma divisão maniqueista  na sociedade brasileira, onde, de um lado estariam os corretos, éticos, puros;  do outro,  a escória corrupta que teria de ser varrida do poder.
Quando Lacerda dizia que nos  porões do Palácio do Catete corria um mar de lama, todos os seus adeptos nele acreditavam,  a sonhavam com a Vila Militar avançando a disparar seus canhões contra  Getúlio Vargas, antes chamado de Pai dos Pobres, e a quem Lacerda acrescentou o sobrenome de Mãe dos Ricos e Ladrões.  A sociedade envolvia-se com entusiasmo nessa   contenda desajuizada. 
Hoje, ninguém mais bate no peito para usar o nome de qualquer político como forma de identificação partidária ou ideológica, antes, até matava-se e morria por um líder político. Quantas vezes isso sucedeu em Sergipe.  Aquele tempo acabou.
 Aconteceu,  também,  e isso é lamentável, um  processo de descrédito alcançando toda a classe política.
Acreditar em político ,  como de resto até no Papa, tornou-se coisa extremamente difícil. Descobrem-se, agora,  as orgias, ou surubas homossexuais vaticanas. Quem mais poderá falar, sem deixar dúvidas, sobre as virtudes da castidade?
O povo meteu na cabeça que cada político,  tem o rabo preso a alguma coisa, um interesse, um  deslize a esconder, uma fraqueza pessoal que deve ser mantida em segredo. O diabo é que o personagem público vive cercado pelos holofotes, piores até do que línguas de comadres.
 Jornalistas que se fizeram censores da sociedade, e escrevem livros dando lições de ética, sem atentarem para o fato de que a liberdade de expressão vai até aonde permite o interesse dos donos das mídias, não escapam de ter, pelas costas, algum rabo preso. O desvirtuado jornalismo investigativo virou o esporte da busca e da quantificação do rabo alheio.
 Que se deixe ao bom senso de cada personagem da vida pública o crescimento desmesurado ou o controle cuidadoso sobre a dimensão do inescapável apêndice traseiro. E que cada um passe a olhar para o seu,  principalmente se forem políticos, talvez os mais desacreditados.
Ninguém  mais se interessa pela revelação do tamanho dos rabos, de  políticos, ou até mesmo dos Papas, porque nada mais surpreende, nada mais escandaliza.
Para o povo, pelo menos neste momento, a política é o campo onde os protagonistas devem agir em busca de resultados concretos, palpáveis, principalmente, se forem sentidos no bolso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário