ANÍSIO DÁRIO UM CRIME A ESCLARECER
O assassinato pela polícia do operário Anísio
Dário, em novembro de 47 é um crime encoberto pela penumbra da dissimulação. As
circunstancias imediatas do assassinato são bem conhecidas, e sobre ela tantos
já escreveram, mas, o que se seguiu ao
trucidamento revela o clima de uma época, em que o tropel dos cavalos desnudava
o simularco de uma democracia bem mais frágil do que a ¨plantinha tenra ,¨ da metáfora de Otávio
Mangabeira.
Operários, intelectuais,
estudantes, reuniam-se no Cinema Rio Branco, centro da cidade, Rua João Pessoa, para um protesto contra a
cassação do registro do Partido Comunista Brasileiro e dos mandatos dos seus representantes
nos parlamentos e prefeituras. O ato fora proibido pelo Chefe de Polícia, o Dr.
Monteirinho. Esvaziado o cinema, os
manifestantes sairam em passeata. Chegou a cavalaria e investiu contra o povo.
Anisio Dário foi morto a tiros e sobre ele passaram alguns cavalarianos, até
que o corpo ficasse destroçado. Antonio Garcia Filho, médico, que tentou socorrer Anísio, e também um dos
manifestantes, depois descreveria a cena.
O enterro foi acompanhado de perto pela polícia, e o corpo colocado em um
caixão vedado. A família de Anisio
Dário, sua esposa e filhos menores tiveram de deixar Aracaju e foram viver no
Rio de Janeiro. Anos depois, quando a viúva de Anísio faleceu, o filho, Zacarias tentou abrir o inventário, mas lhe faltava a
certidão de óbito do pai. Constatou, então, que o documento nunca fora emitido,
e que também não se fizera a indispensável necropsia para atestar a
causa da morte.
Agora, Zacarias está em Aracaju,
tenta incluir a atrocidade cometida pela polícia sergipana entre os crimes
contra os direitos humanos a serem
esclarecidos pela Comissão da Verdade.
Zacarias, acompanhado do primo Diógenes , do
professor Antonio Bitencourt, reuniu-se
na Ouvidoria- Geral do Estado com os historiadores Gilfrancisco e Murilo
Mellins, depois, foram à Secretaria dos Direitos Humanos. O Secretário Luiz Eduardo Oliva os recebeu, e
a assessora Jéssica Oliveira de Carvalho
preencheu a ficha de atendimento assim
concluída: ¨Vem o requerente pedir à Comissão da Verdade a abertura de
investigações sobre o assassinato do líder sindical e operário da construção
civil Anísio Dário de Andrade a fim de que se possa garantir o direito ao
reconhecimento da memória do mesmo, bem como garantir à família o direito de
identificar os verdadeiros responsáveis, e ter ainda o direito de recuperar /
reaver todos os documentos do Sr. Anísio Dário, os quais foram na época
confiscados pelas autoridades policiais ¨.
Finalmente se poderá saber por
que a cavalaria e seus cavaleiros, pagos pelo povo investiram contra o povo,
para assassinar um homem do povo. Foi em 1947, mas o tempo não apaga o crime.
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