É pena, mas os índices
de violência aqui entre nós insistem em não acompanhar aqueles outros que
revelam sensíveis melhorias nas condições de vida da população. A crença de que a violência era o resultado da pobreza extrema,
e que, acabando a fome a marginalidade também se reduziria,
mostra-se agora algo utópico, que a realidade desmente. A inclusão social no Brasil é agora um modelo para países que
lutam para vencer a pobreza, mas na grande maioria desses países onde a população está, desesperançadamente, afundada na miséria
absoluta, os índices de violência são incomparavelmente menores do que aqueles
por nós ainda deploravelmente exibidos.
E o pior de tudo: a violência é crescente
e descontrolada.
Nos acostumamos, e também nos conformamos a viver nesse
clima, onde a morte está sempre por perto, seja causada por um assaltante, um
bêbado dirigindo, um sádico qualquer que
resolva matar. Banalizou-se a morte e
relativizou-se a vida. Não há desgraça maior para uma sociedade. Há um
constante apelo à violência. Nos jogos
eletrônicos aparentemente inocentes surgem estranhas competições, e os vencedores são aqueles que cometem as maiores atrocidades. O atropelamento de
velhinhas ou crianças, por exemplo,
incluindo uma marcha a ré para passar
sobre o corpo estendido da vítima. Tudo isso é virtual, o sangue não escorre,
dele não se sente o cheiro, nem dos intestinos rasgados, é uma espécie de morte
asséptica, com ela as pessoas desde cedo se acostumam, depois, encaram com indiferença a morte
verdadeira, o assassinato, o atropelamento, toda a cadeia da atrocidades sem
limites.
As cifras desse circo de horrores são alarmantes, e a indiferença persiste. Dormem projetos no
Congresso, e a Justiça põe em prática a legislação leniente. Antes, dizia-se que no Brasil somente iam presos,
pobres pretos e prostitutas. Agora, acabou-se o preconceito. Todas as classes
sociais de uma forma ou de outra participam
da mortandade, e ninguém mais vai para a cadeia. Alguns, que se
transformam em atrações midiáticas, purgam no corpo as culpas coletivas.
Se somarmos assassinatos e mortes no transito, e compararmos com a carnificina na Síria, que
se dessangra numa guerra civil, o Brasil, esta terra de paz, terá mais
cadáveres a exibir.
E tudo continua como d`antes no quartel de Abrantes.
Só para relembrar uma das frases preferidas do velho e combativo jornalista Orlando Dantas, que,
de tanto clamar, passou a incorporar ao seu texto, um certo desalento.
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