sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

NO PALÁCIO OS VELHOS CARNAVAIS



 NO PALÁCIO OS VELHOS CARNAVAIS

  Houve grito de carnaval no Palácio  Museu Olímpio Campos. Que desatino teria sido este da direção do austero sobradão  que guarda hoje a memória republicana em Sergipe ? Aquietem-se porem os que imaginariam a invasão da fuzarca momesca a quebrar a liturgia de  sossego contemplativo,  recomendável para todos os museus. O que se fez foi um retrospecto dos carnavais em Aracaju, com ênfase para os anos  40 até a década dos 60.  

Recordar  antigos carnavais é sempre uma viagem nostálgica, um folhear romântico de páginas da vida, para os que estiveram entre pierrôs e colombinas, nas batalhas de lança-perfume e confete.

 ¨Quantos  risos, oh! quanta  alegria, mais de mil palhaços no salão, pierrô está chorando  pelo amor da colombina, no meio da multidão ¨.

  Parece haver acordes das barcarolles de Chopin, ou  das sonatas de Beethoven, embutidas na despretensiosa marchinha.

 Tantas daquelas músicas carnavalescas,    preparadas para efêmeros quatro dias, venceram as décadas, resistindo ao tempo,   e  foram relembradas no ¨grito ¨ museu-palaciano, sendo executadas pela primorosa Banda de Música da Polícia Militar.   Memorialista,  da mesma linha do nunca esquecido Luiz Antônio Barreto, e de tantos outros do mesmo naipe operoso,   Murilo Mellins  foi o palestrante.  Especializado  em Aracaju, por prazer intelectual, aliado a tantos outros prazeres que ele ao longo da vida soube sorver  com o gosto quase epicurista dos que adicionam intensidade à sofreguidão da vida, Murilo, relembrando carnavais, conduziu  a todos  numa  visita pelo passado, o seu, e o da cidade,  tendo como ponto de parada os clubes, as ruas, os blocos.

 Para juntar o poder da imagem às palavras lá estava outro memorialista,  Lineu Lins, arguto caçador de instantes, de luzes, de sombras, de emoções, de rostos, de alegrias e dores transformadas em fotos.

 A mestria  do artista  que usa o ¨pincel¨ de laicas, nikons e hasselblads, percorrendo ruas, clubes, subúrbios, deixou gravadas preciosas imagens dos nossos velhos carnavais. Todo o seu acervo valioso está hoje preservado na UNIT, outra iniciativa do mecenas da cultura sergipana, Joubert Uchoa.

Murilo, discreto boêmio,  feliz e voluntariamente aposentado há tantos anos na ancora amorosa de um casamento, gostaria que Lineu também houvesse, como ele, se não vivido, pelo menos, visto de perto e fotografado a efusão carnavalesca  no injustamente chamado ¨bas-fond¨, porque na realidade a prostituição é outra.  Evocação melhor não poderia haver,  se mostrada a alegria que  até nem era devassa,  contagiando as damas da noite  sem fantasias, nos salões fumarentos e encardidos do  Imperial, Bela Vista,  Fresca,  Shangay, Mira – Mar; na época  as colmeias, ou formigueiros,  da vida política, intelectual, e também da pistolagem sergipanas.

 Excelente a ideia da operosa equipe que conduz o Museu Palácio. Melhor ainda,  o convite feito por uma das diretoras, a percuciente Eliana Borges, ao memorialista e ao fotógrafo,  dupla perfeita para a reminiscência viva e poética , sem deixar de ser nostálgica, daqueles carnavais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário