NO PALÁCIO OS
VELHOS CARNAVAIS
Houve grito
de carnaval no Palácio Museu Olímpio
Campos. Que desatino teria sido este da direção do austero sobradão que guarda hoje a memória republicana em
Sergipe ? Aquietem-se porem os que imaginariam a invasão da fuzarca momesca a
quebrar a liturgia de sossego
contemplativo, recomendável para todos
os museus. O que se fez foi um retrospecto dos carnavais em Aracaju, com ênfase
para os anos 40 até a década dos 60.
Recordar antigos carnavais é sempre uma viagem
nostálgica, um folhear romântico de páginas da vida, para os que estiveram
entre pierrôs e colombinas, nas batalhas de lança-perfume e confete.
¨Quantos risos, oh! quanta alegria, mais de mil palhaços no salão, pierrô
está chorando pelo amor da colombina, no
meio da multidão ¨.
Parece haver
acordes das barcarolles de Chopin, ou
das sonatas de Beethoven, embutidas na despretensiosa marchinha.
Tantas
daquelas músicas carnavalescas, preparadas para efêmeros quatro dias,
venceram as décadas, resistindo ao tempo,
e foram relembradas no ¨grito ¨
museu-palaciano, sendo executadas pela primorosa Banda de Música da Polícia
Militar. Memorialista, da mesma linha do nunca esquecido Luiz Antônio
Barreto, e de tantos outros do mesmo naipe operoso, Murilo
Mellins foi o palestrante. Especializado
em Aracaju, por prazer intelectual, aliado a tantos outros prazeres que
ele ao longo da vida soube sorver com o
gosto quase epicurista dos que adicionam intensidade à sofreguidão da vida,
Murilo, relembrando carnavais, conduziu
a todos numa visita pelo passado, o seu, e o da
cidade, tendo como ponto de parada os
clubes, as ruas, os blocos.
Para juntar o
poder da imagem às palavras lá estava outro memorialista, Lineu Lins, arguto caçador de instantes, de
luzes, de sombras, de emoções, de rostos, de alegrias e dores transformadas em
fotos.
A
mestria do artista que usa o ¨pincel¨ de laicas, nikons e
hasselblads, percorrendo ruas, clubes, subúrbios, deixou gravadas preciosas
imagens dos nossos velhos carnavais. Todo o seu acervo valioso está hoje
preservado na UNIT, outra iniciativa do mecenas da cultura sergipana, Joubert
Uchoa.
Murilo, discreto boêmio, feliz e voluntariamente aposentado há tantos
anos na ancora amorosa de um casamento, gostaria que Lineu também houvesse,
como ele, se não vivido, pelo menos, visto de perto e fotografado a efusão
carnavalesca no injustamente chamado
¨bas-fond¨, porque na realidade a prostituição é outra. Evocação melhor não poderia haver, se mostrada a alegria que até nem era devassa, contagiando as damas da noite sem fantasias, nos salões fumarentos e
encardidos do Imperial, Bela Vista, Fresca,
Shangay, Mira – Mar; na época as
colmeias, ou formigueiros, da vida
política, intelectual, e também da pistolagem sergipanas.
Excelente a
ideia da operosa equipe que conduz o Museu Palácio. Melhor ainda, o convite feito por uma das diretoras, a percuciente
Eliana Borges, ao memorialista e ao fotógrafo,
dupla perfeita para a reminiscência viva e poética , sem deixar de ser
nostálgica, daqueles carnavais.
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