sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A BABA DAS ANDORINHAS



 

  A BABA DAS ANDORINHAS

 Qual a palavra na língua portuguesa com o mesmo significado da francesa gourmet ?

Ela existiria no inglês, no rascante alemão, no rompante russo, no salivoso espanhol ?

Lin-Yu-tang, um esquecido e não mais publicado  excelente escritor chinês, num dos seus livros, agora dificilmente encontráveis até nos sebos, comparando a gastronomia  francesa com a chinesa,  movia pauzinhos para demonstrar que a arte de bem cozinhar no seu pais,   cultivava insuspeitados requintes , que deixariam  os  compatriotas de Asterix e Obelix de boca aberta, literalmente. Os chineses, acrescentava  Lin – Yu-tang, também tinham,  da mesma forma que os   franceses, uma palavra especial para definir  a alta sofisticação de exigentes comensais. 

Lin,  certamente gourmet e gourmand ,  requintado no paladar e também guloso, descia a detalhes no preparo de uma sopa  tão  estranha  como capitosa. O  paraíso das papilas exigia inauditos sacrifícios.   Uma andorinha do mar, habitante de  falésias rochosas varridas pelas ondas do Mar Amarelo, depositava sua baba gomosa sobre as fendas do paredão.  Assim construíam os seus ninhos .

  Primeiro,  entrava em cena a técnica  corajosa de improvisados alpinistas . Eles escalavam as pedras escorregadias, e  nas alturas recolhiam os ninhos.    Depois, os vendiam  como preciosidades. 

  Feito isso, na segunda e decisiva etapa, entrava a arte ou a alquimia dos cozinheiros chins,   para manipular a gosma pegajosa de passarinhos do mar que comiam peixe.   Já se imagina ,  então, o cheiro daqueles ninhos,  principal ingrediente da sopa,  que, todavia,   fervia depois  na panela espalhando um aroma de êxtase,  não  resumido ao olfato,  mas,  também,  despertando outras excitações.

 Para acompanhar a sopa de ninho  das andorinhas regurgitantes,   Lin-Yu-tang  recomendava um vinho fabricado numa distante província  do antigo Império do Meio, que era transportado em barcos ao longo do rio Amarelo, isso, para que se evitasse o sacolejo nas estradas. Assim, o  ¨espírito do vinho ¨¨   não seria perturbado.

Os gourmets chineses, são franceses de olhinhos apertados.

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