A MAÇÃ DAS CAATINGAS E O MANDACARU QUE SECOU
Paulo Viana, que deve estar próximo de comemorar
40 anos como engenheiro agrônomo, é ainda um cultivador de sonhos, daqueles
juvenis, iniciados na faculdade em Cruz das Almas, depois, mais ainda, no
mestrado que foi fazer na França. Ele tem absoluta crença na agricultura feita
com modernidade, incorporando tecnologia, na busca constante de eficiência e
produtividade, e sem degradar o meio ambiente. Paulo passou duas vezes pela
Secretaria da Agricultura, numa delas no governo de Valadares, quando enfrentou
o desafio de viabilizar o audacioso Projeto Califórnia. João Alves construíra
em seu mandato todo o sistema de captação, as adutoras, os canais, mas, deixou
apenas poucos lotes irrigados implantados.
Viana entusiasmou-se com a tarefa, transformou em
manchetes alvissareiras o primeiro cultivo de melão, alcançado por um
paranaense, Natalino, que chegou a Canindé, fixando-se à terra, depois do
nomadismo errante de madeireiro que devastou, e disso se penitenciava, uma
parcela da selva amazônica. Mas o quiabo foi tomando conta de tudo. Cultivo
relativamente fácil, rentável, destinado a atender o consumo sempre crescente
dos terreiros baianos. Não há demérito para o legume, ( seria mesmo legume ? )
que gera mais de 600 empregos e movimenta a incipiente economia de Canindé.
Paulo hoje está na CODEVASF, executa projetos importantes de construção de
adutoras e instalação de cisternas no sertão, e está encantado com a ideia de
produzir maçãs nos perímetros irrigados.
Nas regiões onde faz frio e cai neve, os
produtores de maçãs se alegram quando o inverno é rigoroso e o gelo recobre os
galhos desfolhados da macieira. Na serra catarinense como em todas as partes do
mundo onde se cultiva a maçã, isso é sinal de que a colheita será farta e os
frutos ainda mais suculentos e saborosos. Fica difícil acreditar que em clima
seco e temperatura além dos 40 graus, a macieira vingue e frutifique. Paulo
Viana dá exemplos reais de maçãs produzidas no sertão pernambucano.
Depois que a Embrapa com suas pesquisas fez o
cerrado produzir soja, e até trigo, não há como duvidar das possibilidades
criadas pelas novas tecnologias agrícolas.
A seca, com a qual ainda não nos habilitamos a
conviver, vai devastando os sertões nordestinos. A lama já virou pedra e o
mandacaru secou. No sertão sergipano, onde não chegaram os caminhões high-tec
prometidos pelo ministro Bezerra, o gado alimenta-se com os mandacarus que
restam . São comidos com espinhos e tudo, tal é a fome dos rebanhos.
Desse quadro de tragédia surge a lição que o
homem do semiárido precisa aprender, e que o poder público deve insistir em
ensinar-lhe.
A pecuária se expandiu, criando pastagens onde antes
havia a caatinga . Foi um grande erro, evidenciado agora pela cena do gado
faminto comendo mandacaru. Talvez seja interessante ou exótica uma experiência
de plantio da maçã no mesmo lugar onde nasce o umbuzeiro, o mandacaru, o
facheiro, mas, a caatinga guarda uma variedade imensa de xerófilas que estão a
merecer pesquisas para compor um mix substancioso de plantas forrageiras que
desafiam as estiagens. .
O semiárido precisa de um projeto abrangente ,
uma tentativa concreta , racional e prática para transformá-lo definitivamente
numa área como tantas outras existentes pelo mundo a fora, que convivem, sem
tragédias humanas, com as adversidades da natureza.
O prefeito eleito de Canindé, o deputado federal
Heleno Silva, sertanejo pobre vítima da seca em sucessivas ocasiões, embora
seja ainda jovem, estabeleceu como prioridade a criação de um modelo de
convivência com a seca. O projeto se desdobra em duas vertentes: o arranjo
produtivo baseado principalmente na pecuária leiteira, e a superação das
dificuldades geradas pelo clima. Isso engloba ações hídricas, como a perfuração
de poços numa área onde existe um aquífero subterrâneo com possibilidade para a
irrigação, em outras áreas, onde a água salinizada serviria apenas para os
rebanhos; além do barramento de rios intermitentes, que somente enchem nas
trovoadas; construção de dois grandes açudes e recuperação de outros menores,
agora abandonados, e ainda a preservação de várias nascentes que existem no
município, apesar da secura da terra. Paralelamente, Heleno pensa produzir
forragens numa área não utilizada do Projeto Califórnia, montar um sistema de
ensilagem, e disseminar o plantio da palma e de tantas outras xerófilas ,
algaroba, gliricídia, leucena, e de espécies da própria caatinga, como o
mororó. O acesso à água para o consumo humano alcançando-se os pontos mais
remotos do município, será tentado através de parceria com a CODEVASF e a DESO,
que já realizam obras de ampliação das adutoras. Garantindo a água e a
alimentação do rebanho com recursos do próprio meio, o novo prefeito acredita
que poderá fazer de Canindé um bem sucedido campo de experiências. Se ele
conseguir alcançar essas metas, se transformará em referencia de gestão
adequada para todo o semiárido.
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