segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A MAÇÃ DAS CAATINGAS E O MANDACARU QUE SECOU



A MAÇÃ DAS CAATINGAS E O MANDACARU QUE SECOU
Paulo Viana, que deve estar próximo de comemorar 40 anos como engenheiro agrônomo, é ainda um cultivador de sonhos, daqueles juvenis, iniciados na faculdade em Cruz das Almas, depois, mais ainda, no mestrado que foi fazer na França. Ele tem absoluta crença na agricultura feita com modernidade, incorporando tecnologia, na busca constante de eficiência e produtividade, e sem degradar o meio ambiente. Paulo passou duas vezes pela Secretaria da Agricultura, numa delas no governo de Valadares, quando enfrentou o desafio de viabilizar o audacioso Projeto Califórnia. João Alves construíra em seu mandato todo o sistema de captação, as adutoras, os canais, mas, deixou apenas poucos lotes irrigados implantados.
Viana entusiasmou-se com a tarefa, transformou em manchetes alvissareiras o primeiro cultivo de melão, alcançado por um paranaense, Natalino, que chegou a Canindé, fixando-se à terra, depois do nomadismo errante de madeireiro que devastou, e disso se penitenciava, uma parcela da selva amazônica. Mas o quiabo foi tomando conta de tudo. Cultivo relativamente fácil, rentável, destinado a atender o consumo sempre crescente dos terreiros baianos. Não há demérito para o legume, ( seria mesmo legume ? ) que gera mais de 600 empregos e movimenta a incipiente economia de Canindé. Paulo hoje está na CODEVASF, executa projetos importantes de construção de adutoras e instalação de cisternas no sertão, e está encantado com a ideia de produzir maçãs nos perímetros irrigados.
Nas regiões onde faz frio e cai neve, os produtores de maçãs se alegram quando o inverno é rigoroso e o gelo recobre os galhos desfolhados da macieira. Na serra catarinense como em todas as partes do mundo onde se cultiva a maçã, isso é sinal de que a colheita será farta e os frutos ainda mais suculentos e saborosos. Fica difícil acreditar que em clima seco e temperatura além dos 40 graus, a macieira vingue e frutifique. Paulo Viana dá exemplos reais de maçãs produzidas no sertão pernambucano.
Depois que a Embrapa com suas pesquisas fez o cerrado produzir soja, e até trigo, não há como duvidar das possibilidades criadas pelas novas tecnologias agrícolas.
A seca, com a qual ainda não nos habilitamos a conviver, vai devastando os sertões nordestinos. A lama já virou pedra e o mandacaru secou. No sertão sergipano, onde não chegaram os caminhões high-tec prometidos pelo ministro Bezerra, o gado alimenta-se com os mandacarus que restam . São comidos com espinhos e tudo, tal é a fome dos rebanhos.
Desse quadro de tragédia surge a lição que o homem do semiárido precisa aprender, e que o poder público deve insistir em ensinar-lhe.
A pecuária se expandiu, criando pastagens onde antes havia a caatinga . Foi um grande erro, evidenciado agora pela cena do gado faminto comendo mandacaru. Talvez seja interessante ou exótica uma experiência de plantio da maçã no mesmo lugar onde nasce o umbuzeiro, o mandacaru, o facheiro, mas, a caatinga guarda uma variedade imensa de xerófilas que estão a merecer pesquisas para compor um mix substancioso de plantas forrageiras que desafiam as estiagens. .
O semiárido precisa de um projeto abrangente , uma tentativa concreta , racional e prática para transformá-lo definitivamente numa área como tantas outras existentes pelo mundo a fora, que convivem, sem tragédias humanas, com as adversidades da natureza.
O prefeito eleito de Canindé, o deputado federal Heleno Silva, sertanejo pobre vítima da seca em sucessivas ocasiões, embora seja ainda jovem, estabeleceu como prioridade a criação de um modelo de convivência com a seca. O projeto se desdobra em duas vertentes: o arranjo produtivo baseado principalmente na pecuária leiteira, e a superação das dificuldades geradas pelo clima. Isso engloba ações hídricas, como a perfuração de poços numa área onde existe um aquífero subterrâneo com possibilidade para a irrigação, em outras áreas, onde a água salinizada serviria apenas para os rebanhos; além do barramento de rios intermitentes, que somente enchem nas trovoadas; construção de dois grandes açudes e recuperação de outros menores, agora abandonados, e ainda a preservação de várias nascentes que existem no município, apesar da secura da terra. Paralelamente, Heleno pensa produzir forragens numa área não utilizada do Projeto Califórnia, montar um sistema de ensilagem, e disseminar o plantio da palma e de tantas outras xerófilas , algaroba, gliricídia, leucena, e de espécies da própria caatinga, como o mororó. O acesso à água para o consumo humano alcançando-se os pontos mais remotos do município, será tentado através de parceria com a CODEVASF e a DESO, que já realizam obras de ampliação das adutoras. Garantindo a água e a alimentação do rebanho com recursos do próprio meio, o novo prefeito acredita que poderá fazer de Canindé um bem sucedido campo de experiências. Se ele conseguir alcançar essas metas, se transformará em referencia de gestão adequada para todo o semiárido.

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