DE SPENGLER A CLAUSEWITZ E CHEGANDO A EDIVAN
AMORIM
Oswald Spengler, aquele que prematuramente
escreveu sobre a decadência do ocidente, definia a política como ¨a arte da
possível ¨. Existem controvérsias sobre a autoria da frase. Um outro pensador,
¨filósofo da guerra ¨, o prussiano Carl von Clausewitz, dizia que a política
era a continuação da guerra, por outros meios. Nos tempestuosos episódios que o
escritor americano John Reed, chamou de ¨Dez dias que abalaram o mundo ¨,
título do seu célebre livro sobre a chegada ao poder dos revolucionários
bolcheviques, no Palácio de Inverno em São Petersburgo, onde esfarrapados
vencedores ocupavam as dependências luxuosas dos Tzares, um homem, Leon
Trotsky, antevendo o desdobrar da batalha, remodelava a frase do grande
estrategista militar, entendendo que era chegada a hora de fazer da guerra a
continuação da política.
Tanto em um como em outro caso, a permanência do
conflito humano é admitida, e a inevitabilidade da guerra está subjacente,
tanto na visão do teórico alemão, com na dos revolucionários russos. Voltando a
Spengler, e na crença de que a política é a arte do possível, surge a prática
da democracia como única forma viável até hoje encontrada, para a superação dos
conflitos sem a descida ao abismo da guerra.
Alinham-se essas considerações a propósito dos
recentes episódios que levaram os deputados a rejeitarem o Proinveste.
O que aconteceu com a política sergipana?
Qual, ou quais os responsáveis pela
degenerescência que teria levado a nossa prática política a transformar-se em
guerra ? O governo aponta o empresário Edivan Amorim como o grande responsável
pelo aviltamento dos costumes políticos. Já Edivan e seu grupo, acusam Marcelo
Déda de ser arrogante e inacessível, até sem levar em conta a fase difícil que
atravessa o governador, lutando para vencer um câncer em meio a um tumulto
político.
A busca de responsáveis pelo descarrilamento da
lógica e da sensatez é agora absolutamente inútil.
Existe, bem clara, a evidencia dolorosa de que o
grande prejudicado nesse enorme desacerto foi o povo sergipano. Diante disso,
antes de ampliar arestas, é preciso urgentemente eliminá-las, naquilo que for
possível. E aí entra a indispensável arte da política.
A sociedade sergipana não se contentará com meias
explicações, diante da comprovação de que todos os estados brasileiros aderiram
ao Proinveste, receberam milhões, bilhões de reais, e só Sergipe ficará de
fora. Não é admissível que todos estejam errados e só Sergipe tenha sido
colocado no lugar certo, por obra e graça da negativa dos deputados. A
sociedade sergipana não se conformará vendo obras multiplicando-se em Alagoas,
que receberá mais de um bilhão, na Bahia, que ficará com quase dois bilhões, e
aqui, o estado mergulhado na pindaíba , reduzidas as chances no mercado de
trabalho , a começar pelos concursos públicos que não serão realizados em 2013.
É oportuno que se leia artigo publicado pelo lúcido senador Valadares, sobre a
não aprovação do Proinveste.
Diante desse panorama será improducente a troca
de acusações e ataques. De nada adiantará exibir o prontuário dos problemas e
das peripécias empresariais de Edivan. A deputada Ana Lúcia apontou na
Assembleia a existência de um privilégio que permitiu a Rede Ilha açambarcar um
obeso contrato para fazer ¨transmissões dos atos da Assembléia ¨, enquanto
deputados se dizem preocupados com o equilíbrio financeiro do estado, por isso,
votando contra o empréstimo. A deputada não mentiu, mas hoje não interessa
saber com quem está a verdade, ou quem age motivado pelo bem ou pelo mal. Tudo
isso agora seria, digamos assim, irrelevante.
De nada adiantará mobilizar a sociedade, que
aliás dificilmente será mobilizada, tal o desencanto com os rumos da política;
de nada adiantarão apelos à militância, seja ela qual for, de nada adiantará
radicalizar um clima onde a política já se confunde com a guerra.
Antes de mais nada é preciso retirar as emoções
desse conturbado palco, estabelecendo-se uma pausa para que a troca de
acusações ceda lugar ao início de um diálogo producente. Não se perderá com
isso a dignidade, pelo contrário, a valorização da arte da política, que
pressupõe a possibilidade do entendimento, mesmo quando existe um cenário de
hostilidades e quase guerra, será vista pelos sergipanos como o roteiro único
que restaria para ser percorrido, a fim de que, ao final, sejam contemplados os
interesses maiores de Sergipe.
Vem aí o Natal, chega o Ano Novo. Haverá tempo
para reflexões, haverá oportunidades para os acenos pela desmobilização do
radicalismo. Depois, quem sabe, em janeiro, se poderá voltar a conversar
transparentemente sobre o Proinveste. Em outro período legislativo a Assembleia
pode reexaminar projeto do empréstimo com nova feição, abrindo-se espaço para a
inclusão de sugestões feitas pelo Legislativo, pelas lideranças políticas.
Dessa forma, não se poderia acusar o governo de ser arrogante, nem restariam
grupos políticos vencedores ou derrotados, mas, se teria a certeza de que os
prejuízos resultantes da transformação momentânea da política em guerra, não recairiam,
como inevitável castigo, sobre o estado de Sergipe.
E os interesses de Sergipe, como têm lembrado
expressivas lideranças da oposição, o prefeito eleito de Aracaju João Alves, e
mais intensamente ainda o deputado federal Mendonça Prado, historicamente,
sempre estiveram acima das divergências políticas, por mais radicalizadas que
fossem.
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