AINDA HÁ JUIZES EM SERGIPE
O grupo Amorim e Companhia acostumou-se, inspirado no seu criador e líder, a driblar regras, a desconhecer princípios, a atropelar as
leis. Com muita ousadia, a convivência que desfrutou por muito tempo no poder,
o fortaleceu, primeiro , montando uma rede de interesses
patrimonialistas, depois, sabendo espertamente juntar esses interesses a
objetivos políticos. Paralelamente , criou-se
uma inteligente estrutura de comunicação, e com ela, e mais ainda,
exercitando a arte de influenciar e
conquistar pessoas, eis que o líder maior, e de fato único, entendeu que era o
momento de começar o avanço irresistível rumo às entranhas das instituições.
Nisso, tem sido muito bem sucedido. Alojou-se , faz tempo, no Executivo, de um certo momento para cá, restou-lhe o abrigo no
Legislativo, mas lá não se fez hóspede ou simples visitante, tornou-se o dono
da Casa. Não conseguiu fincar pé no
Judiciário, embora tenha feito insistentes e sutis investidas. Essa habilidade
em avançar sobre as instituições lhe valeu projeção fora de Sergipe, e ei-lo
também a exibir influencia além fronteiras ( Sergipe é diminuto para tantas
ambições e vaidades ) e surgiu o ¨patrono ¨ de candidaturas bem sucedidas em
outros estados, da mesma forma como, aqui, arvorou-se ¨patrono ¨de candidaturas ao Tribunal de
Contas, fez senador, deputados, prefeitos.
Essa trajetória, alias de muitos sucessos, deixa atrás de si
um acumulo de peripécias e muitas suspeitas ainda não esclarecidas. Ao sucesso
alcançado, estariam associados métodos não afinados com a ética e os bons costumes.
Isso pouco importou, não resultou em
prejuízos, porque a arte de contornar obstáculos ainda que legais, vinha até hoje
se revelando infalível.
Surgiu o episódio da Assembleia
Legislativa envolvendo dois candidatos: a deputada Suzana Azevedo e o
ex-deputado, ex-vice - governador e
atual Secretário da Educação Belivaldo Chagas.
São bem conhecidas de todos os sergipanos, as manobras que envolveram a
disputa. Aliás, essa volúpia pela
conquista de cadeiras do TC, onde se juntam interesses político-eleitorais em
torno de um cargo que deveria ser eminentemente
técnico, não exclui nenhum
dos grupos políticos do cometimento do pecado, todavia, facultado pela lei. Essa
mistura perniciosa de interesses, seria evitada se prosperasse no
Congresso Nacional o projeto de lei
apresentado pelo deputado federal
Mendonça Prado, acabando a escolha política e tornando o cargo de conselheiro
privativo de técnicos do próprio Tribunal.
Os métodos vigentes, ou disposições legais, foram, no caso da eleição realizada,
frontalmente desrespeitados, feridos,
acintosamente transgredidos.
Não se quer aqui desqualificar
a pessoa, no caso, a vencedora da
eleição. Tem, a deputada Suzana Azevedo,
plenas condições para exercer o cargo de Conselheira, mas, que o alcançasse
numa eleição limpa, respeitando-se a Constituição e o regimento da Assembleia. Isso não aconteceu, e assim,
desqualifica-se a escolha. Em vez de um
reconhecimento da vitória, há que se lamentar a ignominia, a esperteza , transformadas em comportamento usual no
Legislativo, desde que se consumou a antecipada reeleição da deputada Angélica
Guimarães, agora, igualmente contestada.
Cabe ao governo assegurar a base parlamentar a fim de garantir a aprovação
dos seus projetos. Isso se chama governabilidade. Se não conseguir a maioria, cabe-lhe,
também, a
tarefa mais difícil de manter a governabilidade, fortalecendo sua base, dialogando com a maioria que lhe faz oposição.
A democracia é o regime que faculta a convivência dos divergentes, mas, não pode subsistir sem que haja pleno respeito
às leis. Quando desaparece o rito indispensável de obediência às leis , e se um remédio não vem na ação pronta do Judiciário, corre-se o
risco de um colapso institucional. Caminhávamos, em Sergipe, para esse colapso.
Faz tempo que desapareceu o jogo político. Em seu lugar entraram a chicana, a chantagem, a mistificação, o engodo, o desrespeito à lei.
Veio o recurso à Justiça, que se
manifestou, célere, sapiente e pedagógica, na liminar concedida pela
desembargadora Suzana Maria Carvalho de Oliveira.
Valeria imprimir e distribuir a
consistente peça de saber jurídico, que
é, também , aula magistral de comportamento republicano. Os deputados,
os políticos de um modo geral, os sergipanos que acompanham
os descaminhos da política, deveriam
ler, principalmente meditar, sobre os
ensinamentos que afloram do texto
primoroso escrito pela desembargadora que enobrece a toga.
Caberia sobre aquele texto
meditar, mais detidamente ainda, a
presidente Angélica Guimarães, responsável pela desprimorosa ocorrência, a
primeira que se tem noticia em Sergipe, levando à judicialização de ato
praticado pelo Poder Legislativo, agora tornado sem efeito, ainda que
liminarmente, pelo Poder Judiciário. A liminar da desembargadora Suzana
dificilmente será suspensa pelo plenário do Tribunal, tantas são as inconstitucionalidades, as
transgressões ao regimento, os abusos de poder cometidos.
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