sábado, 24 de novembro de 2012

A SOLIDARIEDADE MINEIRA E A SOLIDARIEDADE SERGIPANA



A SOLIDARIEDADE MINEIRA E
A SOLIDARIEDADE SERGIPANA
Dizem, que foi Otto Lara Rezende o autor da frase: ¨ Mineiro só é solidário no câncer.¨ O escritor  nascido nas Minas Gerais,  grande  frasista,   como tantos outros da sua geração,  veio tornar-se famoso no Rio de Janeiro,  desculpava-se, e dizia que embora não discordando completamente  do significado da afirmação a ele equivocadamente atribuída, recusava a autoria, até por acreditar que aquele jeito mineiro de ser, definido  como ¨mineirice¨ guardava,  na sua essência, uma  forma de convivência solidária.
  Lembrando   da frase que restou condenada a uma insolúvel orfandade, um político sergipano que já foi  há muito tempo, no dizer de Machado de Assis, ¨estudar a geologia dos campos santos ¨,  ampliava o seu conteúdo, acrescentando: ¨e o sergipano nem nesse caso.¨
 Ao reforçar a frase  definidora,  com exagero,  do caráter dos mineiros, tornando-a ainda mais áspera em relação à maneira de ser dos sergipanos, o político, batido por desagradáveis experiências, ressentido com atitudes que classificava como traições,  apenas externava uma mágoa que deformava,  a nunca posta em causa generosidade dos nascidos na província de Sergipe D`Del Rei.
O sergipano não é mais nem menos cordial ou solidário,  da mesma forma o mineiro,  do que toda a gente brasileira. Este país onde nunca prosperaram por muito tempo os extremismos, é a grande nação onde convivem lado a lado,  pacifica e harmoniosamente, povos, etnias, religiões,  que em outros cantos do planeta andam a se exterminar mutuamente em infindáveis  carnificinas.
 Sergipe faz parte deste país  no qual Buarque de Holanda identificou os traços marcantes de uma cordialidade que pode ser entendida também como generosa espontaneidade para conviver,  desfazendo sempre aquela barreira que separa  as pessoas, tornando-as inimigas, ou, no mínimo permanentemente desconhecidas uma das outras. 
Em Sergipe, faz muito tempo, a política deixara de ser praticada com  radicalismo e ódio. Sobre aqueles tempos que já vão longe, o procurador de Justiça aposentado Jose Gilson dos Santos, acaba de escrever um livro onde conta tantos episódios da forma truculenta  de se fazer política,  que na verdade foi uma violenta deformação do comportamento  moderado e pacífico dos sergipanos.
Gilson não conta um episódio ocorrido naquele tempo, a demonstrar o potencial do ódio que contaminou a política sergipana. Aqui o relembramos: Numa emissora de rádio um famoso radialista com   entonação de voz que não escondia a satisfação, anunciou em horário líder em audiência: ¨Atenção, atenção, muita atenção para esta notícia. O jornalista Orlando Dantas e usineiro falido,  viaja hoje ao Rio de Janeiro buscando tratamento para um câncer que lhe apareceu exatamente no ânus. ¨  E finalizava com uma gostosa risada.
 Detalhe: o jornalista, na ocasião, tinha excelente saúde.
 Mais de meio século transcorrido,  programas em algumas emissoras sergipanas, andam  quase a imitar aquele episódio.
 Mesmo naqueles tempos  de disputas extremadas,  os homens públicos    não perdiam o senso de responsabilidade,  quando necessário, se entendiam no Rio de Janeiro, então capital da República, cumprimentavam-se, sentavam para conversar e trocar ideias sobre a melhor forma de servir a Sergipe, de atender as demandas do estado.  
 Quando Lourival  assumindo o governo em 67 fez um apelo para que os políticos se desarmassem, literalmente, tirando os 38 da cinta, a odiosidade entre os protagonistas da cena política sergipana foi desaparecendo, embora,  naquele tempo,  começasse a aumentar a truculência do regime contra as liberdades democráticas e os direitos humanos . Houve então o registro de fatos que servem para exaltar a índole das lideranças políticas sergipanas, que contiveram, na medida do possível, a onda de perseguições. Para isso, muito contribuíram políticos marcadamente conservadores, como Celso de Carvalho,  Lourival Baptista, Jose Rolemberg   Leite, Paulo Barreto de Menezes, João Andrade Garcez,  Augusto Franco, Djenal Tavares de Queiroz, João Alves Filho, que governaram Sergipe em  tempos bravos ou amansados da ditadura.  Esse registro se faz como depoimento   que engrandece a  história  política sergipana, que nunca perdeu, completamente, o elo da convivência e o sentimento de respeito entre adversários.
O sergipano não destoa da índole brasileira, e  ontem,  como hoje, apesar de tudo, continua cultivando os mesmos hábitos cordiais, os mesmos sentimentos de solidariedade, a mesma capacidade de conviver, pacífica e respeitosamente,  em meio a todas as divergências.

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