SER GOVERNO SEM MAIORIA
Há frases, ditas por luminares da política, querepetidamente surgemcomo
oportunas ou mesmo providenciais lembranças. Há aquela,emblemática, construída pela mineirice sapiente de um dos
mais argutos políticos brasileiros,
Magalhães Pinto. Dessa frase, lembravano
Rio de Janeiro, onde passou o alongado fim de semana, o ex-governador Albano Franco, ao constatar
que, há oito meses,Belivaldo Chagas estava antecipadamente ungido Conselheiro do Tribunal
Contas, tendo, a seu favor, o compromisso solene de uma lista de apoio assinada por todos os 24 deputados , inclusive pela presidente
Angélica Guimarães. Como a nuvem da
metáfora de Magalhães Pinto,os fatos políticos foram passando, mudaram,
transformaram-se, e o Conselheiro
previamente escolhido foi derrotado numa controversa eleição. Nela, a
vitoriosa Suzana Azevedo obteve 13 votos,e Belivaldo, derrotado, apenas 9.
Depois da primeira e
surpreendente derrota, quando,atropelando tudo se fez uma eleição antecipada
para renovar o mandato da presidente Angélica Guimarães, o governo viu minguar a sua base de apoio
diante da irresistível atração exercida
pelo novo senhor das decisões políticas sergipanas, o espertíssimo Edivan Amorim. Elecarrega a tiracolo 11 partidos políticos ,
e conta com aprestimosidade absoluta de um crescente bloco onde desponta a figura do senador
Eduardo Amorim , seu dileto e agradecido irmão.
O governo tenta agora conseguir a
autorização legislativa para contrairo empréstimo de 720 milhões do Proinveste.
Quase todos os estados já saíram na frente,com as suas Assembleias aprovando,
sem maiores delongas, o pedido do
Executivo.
No total, 40 bilhões de reais
serãodistribuídos entre os estados escolhidos por estarem com as suas contas em dia, suas finanças
equilibradas. Esses bilhões utilizados em obras, em projetos de infraestrutura,
servirão comoblindagem para a travessia
da crise que ninguém sabe ao certo
quanto tempo irá durar. Quanto mais longa for, mais susceptível o Brasil aos
seus efeitos. Aqui, aindaconseguimos
exibir cifras excelentes na criação de empregos. Enquanto a Espanha
chega ao calamitoso recorde de 25 % de desempregados, aEuropa anda numa média
em torno de 10 por cento, os Estados Unidos em volta de 8 %, o Brasil fica com
o desemprego em torno de 5 %. Os 720 milhões,se vierem mesmo, servirão para
gerar aqui mais de 20 mil empregos. Se não vierem,os sergipanos terão de buscar
trabalho na Bahia, em Alagoas, onde muitas oportunidades irão surgir , porque
lá o Proinveste não foi recusado.
Mas essas considerações de pouco
ou quase nada valerão diante do absoluto predomínio de uma nova forma de fazer
política,da qual o governo se transforma
duplamente em refém. Primeiro, pela
incapacidade de não ter conseguido assegurar a indispensável maioria na
Assembleia,em segundo lugar , pelo constrangimento natural que sente em lidar
com essa inesperada conjuntura política,
na qual, para se ter sucesso, a
exigência inicial é o abandono completo de quaisquer escrúpulos de natureza
ética.
O último governador que se viu acuado pela
Assembleia numa situação de minoria foi João Alves. Isso ocorreu em 1986,
quando já era acirrada a disputa pela sucessão.
Jose Carlos Teixeiracandidato ao governo, e João Alves lançava o seu vice, Antônio
Carlos Valadares para sucedê-lo. Em tempos de hiperinflação, o governo
precisava de uma autorização legislativapara
suplementar o orçamento. Sem isso, seriadifícil até pagar os salários do funcionalismo. Fazer obras,
novas contratações, mandar dinheiro para prefeituras do interior, nem
pensar. Antes da Constituição de 88,
tudo isso era muito fácil. Contratava-se à vontade, não havia os limites
rigorosos da Lei de Responsabilidade Fiscal. O Ministério Público não tinha as
amplas atribuições que hoje exercita, e
o governo não estava tão circunscrito às decisões da Procuradoria Geral
e da Controladoria. João perdera a
maioria na Assembleia ao romper com o grupo Francoque se uniu ao PMDB, apoiando Jose Carlos, enquanto
uma parte daquele partido liderada por Jackson Barreto ficou ao lado de João, apoiando Valadares. Jacksonindicou o
deputado federal Benedito Figueiredo para vice.
A batalha se afigurava duríssima,
e João Alves sem o orçamento liberado, enfrentaria o caos. Ele precisava de
dois votos,e concentrou-se então na conquista dos deputados Jose Ribeiro e Jose
do Arroz, ambos de Lagarto.
A negociação concentrou-se em
Jose Ribeiro, ligado ao grupo Franco, compadre de Albano, e que recebera para
sua eleição o apoio de Heráclito Rolemberg, também seu compadre, e na ocasião,
prefeito de Aracaju.
Assim, Heráclito necessariamenteseria
parte integrante no acordo, e a ele João Alves ofereceu a possibilidade de
tornar-se conselheiro do Tribunal de Contas, desde que convencesse seu compadre
Jose Ribeiro a votar a suplementação
do orçamento e a ¨trabalhar ¨seu colega
lagartense, Jose do Arroz. Jose Ribeiro
fez ainda outras exigências, que, sorrindo muito, elehoje se recusa a revelar
aos amigos, mas, não esquece de lembrar
da surpresa, do susto mesmo que levou o deputado Jose do Arroz, quando, tendo ido à casa dele, o convidou para uma conversa
reservada, amiga e convincente, dentro do seu automóvel. Jose Ribeiro está preparando um livrode memórias,
e sem dúvidas, nele dará maiores
detalhes do episódio.
Resumo da ópera: João Alves
reconquistou a maioria, governou como quis, e também venceu a eleição.
Embora Edivan Amorim esteja
manobrando para evitar o empréstimo justamente por entender que o dinheiro
facilitaria a provável eleição de Jackson, é bom lembrar que a realidade de
hoje é totalmente diversa daquela de 1986, pré-Constituição de 88, e
que a aplicação da dinheirama será minuciosamente fiscalizada.
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