O MANGUE QUE DEVE SER SAGRADO
Petrônio Gomes, tem semblante enfezado, é duro no que
escreve, faz, quase sempre, crítica cáustica
aos erros omissões e vícios, e
essa é a sua forma mais coerente de
colocar-se á serviço da sociedade como cronista exemplar e sensível do nosso cotidiano. Petrônio,
além das suas virtudes pessoais, tem a
felicidade de ter dado ao mundo filhos como aquele médico e intelectual que lhe
herdou o nome. Depois desses
prolegômenos, como antigamente se dizia, assim tão merecidamente elogiosos, se permite o escrevinhador a licença de
discordar, e discordar veementemente, do nosso cronista Petrônio, pela
injustiça que ele fez ao nosso manguezal, de início, por aderir ao preconceito
de classificar de ¨matagal ¨ aquele verde exuberante dessa vegetação que se
torna cada dia mais rara, e que a nossa
Aracaju tem a felicidade de vê-la a invadir a sua área chamada mais nobre, ou
seja, aquela onde o metro quadrado é mais caro.
Petrônio chamou o mangue de ¨Matagal Sagrado ¨, entendendo essa sacralização como uma
adoração indevida a um mato que nem mereceria todas essas honras e deferências.
O mangue resistente, o mangue
sobrevivente, onde Petrônio afirma que está morto e nele não encontra caranguejos , que ele diz
conhecer de longe pelo estralar
das mandíbulas, ou melhor das presas, é um espaço estuante
de vida. O caranguejo existe, mas é bicho silente, não emite sons, que
são, dentro daquele bendito matagal à beira d`´agua gerados pelos aratús e os gorés, também
conhecidos por outros nomes. No ¨Mangue Sagrado ¨da Treze de Julho que nos cabe
defender contra os que sonham em destruí-lo, há vida em profusão. Petrônio, que
além de cronista é também poeta, poderia, ao amanhecer e ao por do sol ver a
revoada das garças, dos jaburus, dos gaviões,
todos eles habitantes daquela mancha de verde com a qual toda cidade
civilizada deveria sonhar em tê-la , e se a tiver, tratar cuidadosamente
de preserva—la. Definem as convenções sintonizadas com a
modernidade que um espaço verde de pelo menos
12 metros quadrados por habitante seria o ecologicamente perfeito para
uma cidade. Não fosse o mangue que
abençoadamente nos cerca, Aracaju estaria a amargar uma classificação
muito ruim no ranking das cidades onde o verde se integra à paisagem urbana. O
Rio de Janeiro ganhou agora o galardão de cidade patrimônio da humanidade,
entre outras coisas por ter a Floresta da Tijuca, que é o maior ¨matagal ¨urbano do mundo. Paris com
seu Bois de Boulogne, Berlim, tão ecologicamente verde com o seu
Tiergarten, perdem longe para o
nosso Rio de Janeiro. Se o mangue da Treze de Julho está hoje
fedendo, é somente a consequência nefasta dos esgotos que ali despejam. Agora ,
quando se faz a ampliação da rede de
esgotos de Aracaju é preciso pensar rapidamente em localizar e
destruir as ligações clandestinas,
feitas irresponsavelmente, levando
aos esgotos pluviais, a.... exatamente, merda, que deveria ter destino diverso. Lembra
corretamente Petrônio, que no ¨matagal ¨da Treze de Julhos bandidos
encontram esconderijo certo, mas esses são bandidos até menos inofensivos do
que aqueles outros que se refestelam nas suas mansões de alto luxo. Se perdemos a visão privilegiada ao estuário
do Sergipe numa parte da orla da Treze,
por outro lado, ganhamos o verde refúgio
de vida e purificador do ar. Há, de cima daqueles apartamentos que margeiam o
Poxim , quem se compraz , diariamente se
deleita em contemplar o Matagal
Sagrado. Um deles, é o senador Valadares, residente num dos mais modestos
daqueles edifícios, outro, o ex-governador
Albano Franco. A vereadora Mírian Ribeiro, nas visitas quase diárias que faz ao amigo, passa um bom
tempo a contemplar o verde à margem do rio.
Há por ali também, admirando e
bendizendo o ¨mato , ¨o ex-senador Francisco Rolemberg, o empresário Joel e sua esposa a deputada Suzana, os
conselheiros aposentados Heráclito Rollemberg e Antônio Manoel , a professora e
ambientalista Lílian Wanderley, sempre a reclamar contra os esgotos e a
reconhecer, no mangue, um filtro natural de impurezas.
Seixas Dória e sua mulher Meire, velhinhos e tão modernos,
enriqueciam os seus dias olhando sobre o mangue a revoada dos pássaros. O nosso
matagal, o mangue da Treze de Julho, é
mesmo sagrado.
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