sábado, 1 de setembro de 2012

O MANGUE QUE DEVE SER SAGRADO


O MANGUE QUE DEVE SER SAGRADO
Petrônio  Gomes, tem semblante enfezado, é duro no que escreve, faz, quase sempre, crítica cáustica  aos erros  omissões e vícios, e essa é a sua forma  mais  coerente de  colocar-se á serviço da sociedade como cronista exemplar  e sensível do nosso cotidiano. Petrônio, além  das suas virtudes pessoais, tem a felicidade de ter dado ao mundo filhos como aquele médico e intelectual que lhe herdou o nome.  Depois desses prolegômenos, como antigamente se dizia, assim tão merecidamente elogiosos,  se permite o escrevinhador a licença de discordar, e discordar veementemente, do nosso cronista Petrônio, pela injustiça que ele fez ao nosso manguezal, de início, por aderir ao preconceito de classificar de ¨matagal ¨ aquele verde exuberante dessa vegetação que se torna cada dia mais rara,  e que a nossa Aracaju tem a felicidade de vê-la a invadir a sua área chamada mais nobre, ou seja, aquela onde o metro quadrado é mais caro.
Petrônio chamou o mangue de  ¨Matagal Sagrado ¨,   entendendo essa sacralização como uma adoração indevida a um mato que nem mereceria todas essas honras e deferências. O  mangue resistente, o mangue sobrevivente, onde Petrônio afirma que  está morto e nele não encontra caranguejos  , que ele diz  conhecer de longe pelo estralar  das mandíbulas, ou melhor das presas, é um espaço  estuante  de vida. O caranguejo existe, mas é bicho silente, não emite sons, que são,  dentro daquele bendito matagal  à beira d`´agua  gerados pelos aratús e os gorés, também conhecidos por outros nomes. No ¨Mangue Sagrado ¨da Treze de Julho que nos cabe defender contra os que sonham em destruí-lo, há vida em profusão. Petrônio, que além de cronista é também poeta, poderia, ao amanhecer e ao por do sol ver a revoada das garças, dos jaburus,  dos gaviões, todos eles habitantes daquela mancha de verde com a qual toda   cidade  civilizada deveria sonhar em tê-la , e se a tiver, tratar cuidadosamente de  preserva—la.   Definem as convenções sintonizadas com a modernidade que um espaço verde de pelo menos  12 metros quadrados por habitante seria o ecologicamente perfeito para uma cidade. Não fosse o mangue que  abençoadamente nos cerca, Aracaju estaria a amargar uma classificação muito ruim no ranking das cidades onde o verde se integra à paisagem urbana. O Rio de Janeiro ganhou agora o galardão de cidade patrimônio da humanidade, entre outras coisas por ter a Floresta da Tijuca, que é  o maior ¨matagal ¨urbano do mundo. Paris com seu Bois de Boulogne,   Berlim, tão ecologicamente verde com o seu Tiergarten,  perdem longe para o nosso  Rio de Janeiro.  Se o mangue da Treze de Julho está hoje fedendo, é somente a consequência nefasta dos esgotos que ali despejam. Agora , quando se  faz a ampliação da rede de esgotos de Aracaju   é preciso pensar rapidamente em localizar e destruir as ligações clandestinas,  feitas irresponsavelmente, levando  aos esgotos pluviais, a.... exatamente,  merda, que deveria ter destino diverso. Lembra corretamente  Petrônio,  que no ¨matagal ¨da Treze de Julhos bandidos encontram esconderijo certo, mas esses são bandidos até menos inofensivos do que aqueles outros que se refestelam nas suas mansões de alto luxo.  Se perdemos a visão privilegiada ao estuário do Sergipe numa parte da orla da  Treze, por outro lado,  ganhamos o verde refúgio de vida e purificador do ar. Há, de cima daqueles apartamentos que margeiam o Poxim , quem se compraz  , diariamente se deleita em contemplar o   Matagal Sagrado. Um deles, é o  senador  Valadares, residente num dos mais modestos daqueles edifícios, outro, o  ex-governador Albano Franco.   A vereadora Mírian Ribeiro, nas visitas  quase diárias que faz ao amigo, passa um bom tempo a contemplar o verde à margem do rio.  Há por ali também, admirando  e bendizendo o ¨mato , ¨o ex-senador Francisco Rolemberg,  o empresário Joel  e sua esposa a deputada Suzana, os conselheiros aposentados Heráclito Rollemberg e Antônio Manoel , a professora e ambientalista Lílian Wanderley, sempre a reclamar contra os esgotos e a reconhecer, no mangue, um filtro natural de impurezas.
Seixas Dória e sua  mulher Meire, velhinhos e tão modernos, enriqueciam os seus dias olhando sobre o mangue a revoada dos pássaros. O nosso matagal, o mangue da Treze de Julho,  é mesmo sagrado.

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