A OAB O CORONEL IUNES
E AS FRASES INFELIZES
Talvez a violência seja hoje, no
cotidiano das pessoas o assunto que mais
preocupa, que deve ter ultrapassado o
tempo ocupado pelo futebol nos bate papos entre amigos. Há uma
enorme insatisfação grassando
entre os brasileiros, que se sentem
desprotegidos pelo Estado e a toda hora tornam-se vítimas da bandidagem que cresce em número e em ousadia. Hoje, se
houver um plebiscito para que a população diga se concorda com a aplicação da Pena de Morte para autores de crimes de latrocínio, sequestro,
estupro, é bem provável que pelo menos quarenta por cento dos brasileiros
aprovem a execução desse tipo de
bandidos, alguns, até prefeririam a execução sumária, sem a delonga dos
julgamentos.
O Estado brasileiro não tem conseguido
proporcionar uma sensação de segurança à sociedade, e há, o que é pior, um
sentimento de desconfiança em relação
ao funcionamento e à estrutura do aparato policial. Um candidato a Prefeito de Aracaju, o ex-governador João
Alves, diz numa reunião com empresários
que, se for eleito, vai ampliar a Guarda
Municipal , e que promoverá e dará gratificação ao guarda que matar
bandidos. O que disse o ex-governador,
essa prometida volta ao far-west, é um absurdo, algo que numa situação normal
destruiria uma candidatura. Mas alguém imaginaria que João Alves teria perdido
votos com a frase infeliz ? Pelo
contrário, deve ter conseguido mais adesões. Nessa fase da vida aracajuana João Alves se transformou em modismo, numa
moda retrô, é verdade, mas , há coisas
do passado que invadem o presente, e esse seria um tema a ser analisado por sociólogos com faro
sensível para a psicologia das massas.
Conspícuos doutores estiveram muito tempo
reunidos a preparar o anteprojeto do novo Código Penal . Uma das sugestões incluídas no texto
produzido pelos sapientes jurisconsultos
foi a criação de uma pena superior a três anos para o infeliz que, dirigindo um veículo , venha a atropelar um
animal, um bicho qualquer, e não lhe
prestar socorro. Se alguém trafegando numa dessas estradas sertanejas vier a chocar-se com um jegue, e, conseguindo escapar vivo, não prestar
imediata assistência à alimária ferida, será acusado por Omissão de Socorro. Poderá ir para a
cadeia. Enquanto autoridades passam a
mão pelas cabeças de bandidos menores de 18 anos, alguns com um avultado
histórico de assassinatos, e os chamam
de ¨vítimas da sociedade¨; enquanto uma
legislação frouxa, complacente, confere
privilégios a criminosos, como visitas íntimas em penitenciárias, saídas para o
Natal, Dia das Mães, dos
Pais e do que lá seja, e eles sempre fogem e voltam a matar, e existem
sérias restrições ¨legais¨ ao uso
da tornozeleira eletrônica; enquanto
a aplicação equivocada do conceito civilizado de direitos humanos tolhe
a ação da polícia, e nos faz, sem termos guerra ou terrorismo, muito pior do que a Síria , o Afeganistão ou o
Iraque; enquanto tudo isso acontece e
amplia-se a sensação frustrante de que
o bandido zomba do Estado, uma congregação de eminencias do saber jurídico,
sugere a Lei do Jegue.
Em Sergipe a Polícia Militar tinha um baixo rendimento operacional , compensado, talvez, pelo esforço redobrado e a
energia de uma boa parte da tropa. A
remuneração era péssima, os equipamentos
sucateados. Déda deu salário decente às duas policias, equipou-as,
mas, os resultados operacionais não
correspondiam aos investimentos feitos. Na Civil, agravou-se o problema da
redução do efetivo, principal obstáculo que enfrenta hoje o competente delegado
João Eloy feito Secretário de Segurança. Na Militar,
aconteceu o pior, agravou-se o descompasso entre comandantes e comandados, houve o que de mais desastroso pode acontecer na vida
castrense: a ruptura sistemática da
hierarquia. O governador fez o que a base da tropa esperava há tanto
tempo: reduziu o excessivo número de
coronéis sem efetivo para comandar , e deu a possibilidade de ascensão aos mais
novos, e foi buscar o coronel Iunes para fazê-lo comandante. A partir da posse acabou, quase imediatamente,
o desmonte da hierarquia, e a polícia
saiu às ruas. Os PMs burocratas, acostumados à maciota do ar refrigerado,
foram postos a trabalhar de forma mais eficiente e operacional. A PM ganhou um
novo ritmo e os resultados estão surgindo. Neste exato momento, uma frase dita ou não pelo coronel , durante uma exposição feita à empresários, provoca uma reação desproporcional, de certa
forma forjada. Quem leu o texto do jornalista Ivan Valença na sua coluna dominical do Jornal da
Cidade, observou o desenrolar da
palestra na qual o comandante da PM traçou um panorama objetivo e realista da
corporação. Enumerou as ações desenvolvidas, pediu o apoio dos empresários para que a eficiência policial cresça. Num determinado
momento, Iunes, relata Ivan, teria, pelo que se depreende, à margem da palestra, feito alusão a uma frase que bem ou mal é
recorrente entre policiais: ¨ A polícia não mata, apenas faz os buracos, quem mata é Deus ¨.
A OAB é uma das instituições mais avançadas entre os guardiães atentos da cidadania, e logo saiu a anunciar uma ação contra o
coronel por
causa do equivoco semântico ou momento descontraído de humor, e ao humor tudo
se permite, mas, que fora
entendido como ofensa ao ¨politicamente correto¨.
Já procuraram saber os senhores conselheiros e dirigentes da OAB, qual a
reação causada na sociedade em consequência
da suposta frase infeliz de Iunes? Se o fizessem, constatariam: da nossa conflagrada periferia, chegando até os locais mais
chiques da zona sul, há o generalizado sentimento de que ¨bandido bom é bandido
morto ¨. Trata-se, sem dúvidas, de grave
enfermidade social que estamos a padecer, mas a etiologia do mal tem causas bem mais
profundas, que estão a exigir algo
mais do que a busca de frases infelizes. E entre esse ¨ algo mais¨,
impõe-se a busca da eficácia do organismo policial,
exatamente o que faz agora o coronel Iunes.
Temos que mudar, de métodos, de
leis, de sistemas, de concepções, sem esquecer, todavia, daquelas nunca envelhecidas expressões do latinório
jurídico: Summum jus, summa injúria ,e Nulla poena sine lege .
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