O PRIMEIRO TOMBO DO ¨REI SOL¨
Edivan Amorim, menino
pobre de Itabaiana, saiu do anonimato
onde vivem todas as pessoas comuns para tornar-se, em pouco tempo, figura preeminente em Sergipe. E ultrapassou
nossas acanhadas fronteiras. Sua fama de articulador político chegou à região das alterosas onde fixou-se como
fazendeiro, próspero criador de milhares
de bois em moderníssimo sistema de confinamento. Também fora de Sergipe não
deixa de fazer o que mais gosta:
contatos políticos e negócios. Quando está em Aracaju, a central da Rede Ilha, seu ramo empresarial na área da comunicação, transforma-se numa espécie de quartel general
da política sergipana. No aeroporto da sua fazenda mineira aterrissam e decolam aeronaves conduzindo
políticos e empresários que o procuram para
proveitosas confabulações, aquelas boas
conversas ao pé do ouvido. São sergipanos, mineiros, e também de outras
procedências.
Edivan traçou em
Sergipe uma arquitetura de poder com que tantos sonham, aquela, capaz de abranger
num amplíssimo edifício, vasta
estrutura política e econômica.
Sem empecilhos de natureza ideológica ou compromissos com o que não
seja garantia de sucesso, Edivan tornou-se personagem central no
palco restrito onde estão os que mandam e traçam rumos. Tem gosto pelo poder, fascinação pela força que provem de um patrimônio amplo e das ligações
construídas com a argamassa forte de interesses convergentes. Se algum dia chegou a ler a biografia do Rei
Sol, deve ter sido contagiado pela
ânsia da grandeza terrena que inspirou
todas as ações de Luiz XIV. Ao itabaianense alpinista vencedor daquele paredão íngreme que dificulta o
caminho de quem nasce em berço humilde, melhor do que a metáfora de um papel onde ele representasse
algo como uma espécie de Rei Sol da
reinventada Província de Sergipe
Del Rei, caberia, mais
adequadamente, a semelhança ao Cardeal
Duque de Richelieu, o astuto potentado francês, a quem, apesar do barrete cardinalício, mais
interessavam as leituras de Maquiavel do que os
ensinamentos bíblicos.
Semana passada, Edivan
viveu o seu tormentoso momento de
Cardeal Richelieu. Foi quando sentiu ameaçados os sonhos de grandeza de um Rei
Sol, e, no decorrer de uma noite
estressante, desprezou os fundamentos básicos de uma estratégia política , que, de acordo com a sua própria explicação, seria
um comportamento onde a palavra empenhada valeria mais do que tudo, e o ¨olho no olho¨ representaria a tradução exata da confiança, da fidelidade e
do compromisso. Com essa simplificação
da arte do possível que é a política, afastaram-se considerações outras sobre
ideias, propostas e projetos que , além das ambições pessoais, representassem a prevalência dos interesses
coletivos, do estado, do povo sergipano. Com essa forma de agir que ainda se adapta muito bem ao gosto de
tantas lideranças decadentes ou emergentes de Sergipe, Edivan
viu-se cercado por um grupo cada
vez mais numeroso , sempre dispensando a ele um tratamento que ultrapassa a
corriqueira convivência entre correligionários , e mais se assemelha a uma reverencial cerimonia de respeito e
obediência, usual em outras organizações,
não exatamente político-partidárias.
Então, veio a noite
inesperada, quando Edivan descobriu-se incapaz de botar em Aracaju o seu bloco na rua.
Naquela noite tensa, aguardando uma palavra
de Edivan, estavam, em diferentes locais, o
deputado federal Almeida Lima e o
deputado estadual Venâncio Fonseca , este último,
experiente e resignado, pressentia o desfecho, o mesmo que afetara antes o deputado Zeca da Silva. Almeida, porém, permanecia convicto de que o acertado seria mantido.
Chegou então a notícia de que Edivan fora abrigar-se à sombra do ex-sogro João
Alves Filho , sem nada pedir em troca, sem muito menos exigir.
Almeida sentiu-se traído, da mesma forma que o deputado
Augusto Bezerra, abandonado em Nossa
Senhora do Socorro e tendo de desistir da candidatura a prefeito. Surge agora o coro dos decepcionados, tanto
em Aracaju como no interior.
Sobre aquele dia em
que, um quase Rei Sol
na Província de Sergipe Del Rei, sentiu um tombo na sua marcha de sucessos,
vale lembrar a frase de um aristocrata francês , dita no momento em que se engalfinhavam, em partidos diferentes, o rei e a rainha, e o Cardeal Richelieu , trocando de aliados, apoiou o monarca: ¨C´est
la journée des dupes¨.
Tradução livre: Foi o
dia dos enganados.
Veja como ficou no Revista Canindé.
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