sábado, 7 de julho de 2012

O PRIMEIRO TOMBO DO ¨REI SOL¨


O PRIMEIRO TOMBO  DO  ¨REI SOL¨
Edivan  Amorim, menino pobre de Itabaiana,  saiu do anonimato onde vivem todas as pessoas comuns para tornar-se, em pouco tempo,  figura preeminente em Sergipe. E ultrapassou nossas acanhadas  fronteiras.  Sua fama de articulador político chegou  à região das alterosas onde fixou-se como fazendeiro,  próspero criador de milhares de bois em moderníssimo sistema de confinamento. Também fora de Sergipe não deixa de fazer  o que mais gosta: contatos políticos e negócios.      Quando está em Aracaju,  a central da Rede Ilha, seu   ramo empresarial na área da comunicação,  transforma-se numa espécie de quartel general da política sergipana. No aeroporto da sua fazenda mineira  aterrissam e decolam aeronaves conduzindo políticos e empresários que o procuram para  proveitosas confabulações,  aquelas boas  conversas ao pé do ouvido. São sergipanos, mineiros, e também de outras procedências.
Edivan  traçou em Sergipe uma arquitetura de poder com que tantos sonham, aquela, capaz de abranger num amplíssimo edifício,    vasta  estrutura política e  econômica.  Sem empecilhos de natureza ideológica ou compromissos com o que não seja  garantia de sucesso,  Edivan tornou-se    personagem central  no  palco restrito onde estão os que mandam e traçam rumos.  Tem gosto pelo poder,  fascinação pela força que provem  de um patrimônio amplo e das ligações construídas com a argamassa forte de interesses convergentes.  Se algum dia chegou a ler a biografia do Rei Sol, deve  ter sido contagiado pela ânsia  da grandeza terrena que inspirou todas as ações de Luiz XIV. Ao itabaianense  alpinista vencedor  daquele paredão íngreme que dificulta o caminho de quem   nasce em berço humilde, melhor do que  a metáfora de um papel onde ele representasse algo como uma espécie de Rei Sol  da reinventada Província de Sergipe  Del  Rei, caberia, mais adequadamente, a semelhança ao Cardeal  Duque de Richelieu,  o astuto  potentado francês, a quem,  apesar do barrete cardinalício, mais interessavam as leituras de Maquiavel do que os  ensinamentos bíblicos.
Semana passada, Edivan  viveu o seu  tormentoso momento de Cardeal  Richelieu.  Foi quando  sentiu ameaçados os sonhos de grandeza de um Rei Sol,  e, no decorrer de uma noite estressante, desprezou os fundamentos básicos  de uma estratégia política , que,   de acordo com a sua própria explicação,   seria um comportamento onde a palavra empenhada valeria mais do que tudo,  e o ¨olho no olho¨   representaria  a tradução exata da confiança, da fidelidade e do compromisso.   Com essa simplificação da arte do possível que é a política, afastaram-se considerações outras sobre ideias, propostas  e projetos  que , além das ambições pessoais,   representassem a prevalência dos interesses coletivos, do estado, do povo sergipano.   Com essa forma  de agir  que ainda se adapta muito bem ao gosto de tantas lideranças decadentes ou emergentes de Sergipe,  Edivan  viu-se  cercado por um grupo cada vez mais numeroso , sempre dispensando a ele um tratamento que ultrapassa a corriqueira convivência entre correligionários , e  mais se assemelha a uma  reverencial cerimonia de respeito e obediência,  usual em outras organizações, não exatamente  político-partidárias.
 Então, veio a noite inesperada,  quando Edivan    descobriu-se incapaz    de  botar  em Aracaju o seu bloco na rua.
    Naquela noite tensa, aguardando uma palavra de  Edivan,  estavam, em diferentes locais,   o deputado federal Almeida Lima e  o deputado estadual  Venâncio Fonseca ,    este último,   experiente e resignado,  pressentia  o desfecho, o mesmo que afetara  antes o deputado Zeca da Silva. Almeida,  porém, permanecia  convicto de que o acertado seria  mantido.
   Chegou então a  notícia de que Edivan    fora abrigar-se à sombra do ex-sogro João Alves Filho , sem nada pedir em troca, sem muito menos exigir.
Almeida sentiu-se traído, da mesma forma que o deputado Augusto Bezerra,  abandonado em Nossa Senhora do Socorro e tendo de desistir da candidatura a prefeito.  Surge agora o coro dos decepcionados, tanto em Aracaju como  no interior.
 Sobre aquele dia em que,  um  quase Rei Sol  na Província de Sergipe Del Rei,  sentiu um tombo na sua marcha de sucessos, vale lembrar a frase de um aristocrata francês ,   dita no momento em que se engalfinhavam,  em partidos diferentes,  o rei e a rainha, e o Cardeal Richelieu ,  trocando de aliados, apoiou o monarca:  ¨C´est  la   journée des  dupes¨.
Tradução livre:  Foi o dia dos  enganados.

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