O VENTO QUE FAZ A LUZ
É
possível gerar luz com o vento, para iluminar cidades, fazer correr a
energia pelos fios e mover máquinas ? Perfeitamente. Isso estará
acontecendo em Sergipe a partir do próximo julho. Não se trata de um
processo novo, usinas eólicas já existem faz algum tempo em vários
países do mundo, e aqui mesmo no Brasil. Em Fortaleza, onde são
intensos e permanentes os ventos, tomou-se a iniciativa pioneira de
instalar algumas torres encimadas por cata-ventos, e o porto passou a
ser alimentado com aquela energia nova. Hoje, multiplicam-se projetos
em todo o Ceará, no Rio Grande do Norte, em quase todo o nordeste. E
Sergipe recebe agora um portentoso investimento para a instalação de
uma usina eólica que se coloca entre as maiores do país. O processo é
simples, o vento move as enormes pás colocadas a uma altura de cem
metros, e elas até giram lentamente, mas um sistema de engrenagens
faz com que, no interior daquelas formas bojudas, geradores rodem em
alta velocidade e produzam a energia. E aí alguém logicamente
perguntará: - E quando falta o vento? A resposta é simples: quando não
há vento as pás deixam de girar e cessa a produção de energia. Cessa e
ninguém sentirá consequências, porque as usinas eólicas integram um
sistema de geração onde entram as hidrelétricas, preponderantes aqui no
Brasil, e as usinas térmicas. Na hora em que o vento para, o
sistema, que é interligado, aciona compensações, em nosso caso, as
turbinas de Xingó recebem mais água e rodam rápidas, evitando
colapsos. Por enquanto, a participação da geração eólica é mínima e não
substitui significativamente as hidrelétricas ou térmicas, mas a
inclusão na matriz energética de mais usinas eólicas complementará o
sistema, evitando futuros apagões. Isso porque, enquanto trabalham,
as eólicas economizam a água nos reservatórios das hidrelétricas, que
podem operar com menor potência. Sergipe entra nesse mundo da
geração de energia de forma privilegiada. Aqui está localizada a grande
usina hidrelétrica de Xingó, produzimos petróleo, gás, etanol,
biodiesel ainda em pequena escala, e já temos o primeiro parque eólico,
com boas perspectivas de novos investimentos na área. Na medida em que
se ampliarem os parques eólicos, estaremos mais distantes da maldição de
uma usina nuclear, aqui, ou nas vizinhanças, com a vantagem inigualável
de que a eólica é uma forma de energia absolutamente limpa. O
governador Marcelo Déda, que montou uma bem sucedida estratégia para
captar o investimento e derrubar os obstáculos burocráticos, comemorava a
chegada de mais uma turbina vindo da China, e desembarcando em nosso
porto. Depois, quase debaixo das enormes pás da primeira torre já
erguida, recheando sempre sua poderosa oratória com literatura e
poesia, foi buscar inspiração em Miguel de Cervantes, no episódio em que
o ¨fidalgo da triste figura , Dom Quixote de La Mancha, de lança em
riste, põe a trotar o seu lerdo Rocinante e investe contra moinhos de
vento, não ouvindo as admoestações do simplório e cético escudeiro,
Sancho Pança, convicto de que os moinhos de vento eram ameaçadores
monstros, que até poderiam ameaçar o sossego da casta donzela
Dulcineia de Toboso, a quem devotou os seus feitos de cavaleiro
andante. Deu-se mal o cavaleiro, chocando-se com uma das pás do moinho
e desabando, do sonho, e do cavalo. Déda disse que ali, entre os
coqueiros da Barra dos Coqueiros, não havia enganos, as torres estavam
instaladas, a energia seria gerada, e abria-se, com um investimento
aproximado de cem milhões de dólares, uma nova fase que ele garantira,
de geração da energia limpa, enquanto lutava, também, pela consolidação
de uma política limpa. Vale a pena, num fim de semana, tomar o carro
e ir com a família ver as torres da usina eólica. Basta cruzar a ponte
da Barra, ir em direção à Atalaia Nova, e no cruzamento que leva a
Pirambu seguir pela esquerda, pela já duplicada estrada até o porto,
ultrapassar o acesso ao porto, continuar seguindo em direção a
Pirambu. Logo adiante, no terreno da CODISE que fora destinado ao Polo
Cloroquímico que não vingou, já podem ser avistadas as primeiras
torres de um total de vinte e três que serão erguidas.
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