O JORNAL O ESTADO DE S. PAULO E OS MINÉRIOS DE SERGIPE
Sexta-feira,
dia 27, o jornal O Estado de S. Paulo publicou um consistente editorial
destacando a importância do acordo firmado em Sergipe entre a PETROBRAS
e a Vale, para tornar possível a produção do potássio a partir da
carnalita. O jornal, um dos mais influentes do país, com a sobriedade
que caracteriza a sua página de opinião, mostrou a importância
estratégica para o Brasil do aumento de produção do insumo, vital para a
indústria de fertilizantes. Sergipe produz potássio desde a década dos
80, quando bem sucedidas ações do governador Augusto Franco convenceram
o último dos presidentes militares, o general Figueiredo, a criar e
estatal Petromisa, e iniciar algo inédito no Brasil: a busca de sais
minerais a uma profundidade de 400 metros. Nos tornamos, então, o
único produtor de potássio no hemisfério sul, naquela época só
produzido, em escala, no Canadá, na Alemanha e na Rússia. A produção
sergipana chegou a representar mais de 50% do consumo brasileiro de
potássio. Essa porcentagem se foi reduzindo, porque a capacidade da mina
Taquari-Vassouras permanecia estável, enquanto crescia a demanda de
fertilizantes. Hoje, o potássio de Sergipe chega apenas para suprir
20% do mercado. Logo depois de empossado em 1990, o presidente
Collor quebrou uma promessa feita em Aracaju ao governador Valadares e
ao senador Albano Franco. Com uma penada extinguiu a PETROMISA.
Espalhou-se que por trás da medida estavam os interesses do grupo
Monteiro Aranha, maior importador de potássio. Na mina, viravam
sucata os custosos equipamentos da empresa. Começou uma luta difícil na
qual se empenharam os trabalhadores, liderados pelo geólogo Jose
Eduardo Dutra, e à qual aderiram o governador Valadares e o senador
Albano Franco, então presidente da CNI. Marcelo Déda, um
recém-formado bacharel em Direito, juntou-se aos sindicalistas, e
aquela foi uma estreia promissora, enquanto o destino reservava, para o
jovem advogado, uma participação decisiva em outra etapa de luta, que
surgiria 30 anos depois. A batalha pelo potássio, pelos minérios
sergipanos, vem de longe, desde a década dos 50, quando Walter Baptista,
um autodidata, reunia grandes plateias para falar sobre as imensas
jazidas em nosso subsolo. O economista Aloísio de Campos começou a
analisar a viabilidade econômica dos minérios, e o primeiro resultado
prático foi a Fábrica de Cimento, instalada em Aracaju no governo de
Luiz Garcia. No governo de Paulo Barreto, o secretário do planejamento
Jacó Charcot Pereira Rios criou um grupo de trabalho para montar a
estratégia geral de aproveitamento econômico dos minérios do nosso
subsolo. Por aquela época já se exploravam as jazidas de petróleo e gás
no mar, e a PETROBRAS instalava a unidade de produção de gás natural.
Em 1972 o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma matéria sobre
indícios de potássio na Amazônia, classificando as jazidas como as
únicas conhecidas no Brasil. O assessor de comunicação do grupo de
trabalho fez uma carta ao editor- chefe do Estadão, detalhando a
extensão das jazidas sergipanas, onde se incluíam os sais
potássicos, magnesianos e sódicos, mostrando, ainda, que Sergipe tinha a
particularidade, única no país, de possuir, num raio de 40 quilômetros
jazidas de gás, petróleo e sais minerais, e que essa condição singular
favorecia a montagem de um polo mineral químico e petroquímico de
grande porte. No mês seguinte, o jornal mandava a Sergipe o jornalista
Paulo Roberto. Ele instalou-se no Conselho de Desenvolvimento Econômico,
conversou com seus técnicos, com técnicos da PETROBRAS. O resultado
da viagem a Sergipe foi uma série de primorosas reportagens sobre as
nossas potencialidades minerais, pela primeira vez reveladas ao Brasil
por um grande jornal. Apressaram-se as decisões em Brasília.
Afastado o aventureirismo pirata do Gupo Lume, o presidente Geisel
optou pela solução estatal para o potássio. Enquanto isso, criava-se a
Nitrofértil, também estatal, que produziria a amônia e ureia, formando
a base, com o potássio, que viria logo em seguida, para a criação de um
polo de fertilizantes em Sergipe. Mais de 25 anos depois de iniciado o
processo de extração da taquidrita que a usina transformava em
potássio, aquela matriz dava sinais de esgotamento. Era preciso, então,
recorrer-se a outro sal, a carnalita . Mas havia inumeráveis
complicadores. O governador Marcelo Déda, trabalhando em silêncio,
reuniu uma equipe técnica, articulou-se com decisivos setores da
estatal do petróleo e da mineradora Vale. Muniu-se de argumentos, e foi
ter sucessivas conversas com a presidente Dilma. Num determinado
momento, ela, com acuidade de quem antes comandara o Ministério das
Minas e Energia, vislumbrou todo o potencial daquilo que lhe sugeria o
governador sergipano, e dele tornou-se a decisiva aliada. Com o estilo de gerente que exige resultados, Dilma deu um prazo à PETROBRAS para que se entendesse com a Vale. No
editorial, O Estado de S. Paulo registra a visão do governador Marcelo
Déda, a sensibilidade da presidente para equacionar, com rapidez e
consistência técnica e econômica, um problema que parecia caminhar para
um impasse. O jornal destaca o impacto econômico do Projeto
Carnalita, para o Brasil e Sergipe em particular. Afinal, não é
todo dia que se anuncia um projeto de 4 bilhões de dólares que irá
gerar, durante a sua montagem, 4 mil empregos diretos, e depois, quando
em funcionamento, 700 empregos diretos permanentes, na sua maior parte
reservados a técnicos altamente qualificados.
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