terça-feira, 8 de maio de 2012

O ABRIL DOS SEM TERRA

O ABRIL DOS SEM TERRA

Todo mês de abril é a mesma coisa. O MST faz mobilizações em todo o país, ocupa terras, interrompe estradas, em alguns raros episódios  há depredações, às vezes resultantes de provocadores que se infiltram.   Num movimento de massas é difícil, quase impossível conter alguns excessos. E são esses excessos, a noticia invariável que é sempre exagerada pela  grande mídia, que não disfarça o preconceito contra o MST. Nisso,  jornais, rádio e televisão, sempre porta-vozes dos interesses de poderosos setores econômicos e políticos, não destoam daquela visão feudal que ainda contamina grande parte da sociedade brasileira. Entre nós, a questão da terra se manteve através dos séculos, desde a Colônia à República como um intocável tabu. O Brasil entrou na História tornando-se  o maior latifúndio  do planeta, sendo retalhado em gigantescos quinhões distribuídos  entre  a nobreza com maiores serviços prestados à Coroa, ou maior capacidade de bajulação revelada naquela competição de sabujismo  que costuma cercar os tronos.  Continuamos sendo uma enorme fazenda de onde saiam os exclusivos integrantes da classe dirigente. Assim, não havia como afastar o ranço feudal que nos caracterizou como Nação.
 Um tanto descuidado, como sempre viveu, o Imperador Pedro II retornou ao Brasil de uma viagem que fizera à Europa, e encontrou a nobreza, toda a aristocracia cafeeira e canavieira em ebulição. A Princesa Izabel assinara a Lei Áurea, acabando a escravatura. Como eles iriam sobreviver sem o braço escravo? E ainda mais,  falava-se que a Princesa alimentava perigosas ideias de distribuir terras com a escravaria libertada? Como admitir tal sacrilégio? Foi,  a indiferença da aristocracia dos donos da terra,  muito mais do que a insatisfação nos quarteis, a causa determinante da queda do Império. Os que rodopiaram ao som de valsas no último baile da Ilha Fiscal, eram os mesmos aristocratas que não poupavam críticas ao Imperador por ter permitido tamanha ousadia cometida pela princesa.
 A revolução de 30, seria,  no sonho dos jovens tenentes, a força capaz de romper a estrutura feudal. Vencedores pelas armas, eles foram derrotados pelas artimanhas dos ¨carcomidos¨, os velhos coronéis latifundiários. A ideia de mudança era velha, sua realização difícil. Vinha dos primórdios do Império, antes mesmo da independência, quando um grande  e tão esquecido brasileiro, Jose Bonifácio de Andrade Silva, inteligência brilhante, cultura e pensamento postos além do seu tempo, oferecia uma receita para os males de um país que breve surgiria livre, e entre eles destacava a Reforma Agrária.
 Seguindo orientação do Departamento de Estado americano, o marechal Castello Branco,  nos primeiros meses após o golpe de 64, encarregou o americanófilo   ministro Roberto Campos de elaborar um projeto para a reforma agrária. Surgiu o Estatuto da Terra, talvez o documento mais objetivo e realista que já se tenha feito para a mudança da estrutura agrária. Foi rapidamente engavetado. Afinal, no  simularco  de poder político encarnado pelos  representantes da oligarquia da terra, que dava ¨suporte¨ parlamentar ao regime das baionetas, falar em reforma agrária era o mesmo que chamar de volta os  ¨comunistas¨ e convidá-los a retomar o poder.
Coube ao MST, que só é lembrado pelos eventuais erros de abril, quebrar os grilhões que mantinham um Brasil modernizando-se ao lado do atraso do latifúndio improdutivo, mantido  exclusivamente para a especulação, e como símbolo de status social e poder.
 Procura-se, avidamente, os erros,  mas esquecem-se de ver, ou não querem mesmo enxergar, o que acontece nos assentamentos, a evolução política e cultural dos seus integrantes, a formação de técnicos, os engenheiros, os médicos, que estão saindo do seio de uma gente que antes servia apenas como braço semiescravo.
No caso específico de Sergipe, nem aqueles eventuais erros de abril podem ser detectados, porque, por aqui, a liderança do hoje deputado João Daniel se tem caracterizado pelo cuidado em evitar que qualquer ação possa fugir do controle e dar argumentos aos  herdeiros ideológicos dos  senhores das Capitanias Hereditárias. 

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