O
trabalhador atropelado pela Mercedes de 626 cavalos que chega a 334
quilômetros por hora, foi descrito como um imprudente e ameaçador
ciclista, que poderia ter causado a morte de três pessoas, os ocupantes
do meteoro sobre rodas. É compreensível e justo que um pai saia em
defesa do filho, até nas mais adversas situações. Eike, até então
louvado como empresário desprendido, desapegado do dinheiro e sempre
pronto a servir e a participar, no episódio, revelou-se impiedoso,
mesquinho e desumano. Para defender o filho não precisaria cometer o
absurdo de afirmar que o morto, com a imprudência de cruzar a estrada,
poderia ter causado a morte dos três ocupantes do veículo. Para ele,
seres humanos eram apenas os que estavam a bordo da Mercedes? O
trabalhador não morreria também, e afinal, não foi ele o único morto? O
filho, Thor, foi mais sensato. Chegando à delegacia com o privilegio de
entrar pelos fundos, cercado por um batalhão de seguranças e advogados,
disse que, independente do fato de ter sido ou não o trabalhador a causa
do acidente, ele lamentava a perda de uma vida, solidarizava-se com a
família, e estava disposto a contribuir com o que fosse necessário, e
mais do que isso. Eike, se colocasse o sentimento humano antes da
vaidade, teria de sentir o peso na consciência por ter cometido a
insanidade de por nas ruas um carro com potência de 634 cavalos, depois
disso, teria de anunciar uma homenagem ao trabalhador morto, construindo
próximo de onde ele morava, no distante Xerém, uma escola, um posto de
saúde, uma quadra de esportes, fosse lá o que fosse, e ao que fosse
feito, desse o nome do trabalhador atropelado e morto pela máquina
mortífera que o seu filho pilotava. Além, evidentemente, da substancial
indenização aos familiares, que não paga uma vida, mas é o princípio da
justiça que se faz a pessoas pobres que perderam assim tão
violentamente um ente querido, e ainda sentem o constrangimento de vê-lo
antecipadamente apontado como culpado, e até potencial causador de mais
três mortes. O trabalhador pedalava perigosamente uma ameaçadora
bicicleta que quase mata os três desprotegidos passageiros da máquina
de um milhão e setecentos mil reais. Esta parece ser a versão do
empresário, do homem mais rico do país. Domingo passado apareceu
boiando morta na praia de Ipanema uma baleia. Quem sabe, o inadvertido
cetáceo passou à frente de um dos iates de Eike Batista, quase matando
os que a bordo desfrutavam a ¨dolce vita ¨. Seria a própria baleia
assassina tão perigosamente cruzando os mares . Se esse tipo de versão
pega, coitado de quem não tiver uma Mercedes Mac- Laren.
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário