sábado, 21 de janeiro de 2012

LIXO, LIXEIRAS E PROBLEMAS OU DA SUÉCIA A BANGLADESH


O protesto que moradores de uma localidade em  Socorro fizeram, interrompendo o transito numa estrada, são sinalizações das dificuldades que  serão encontradas  todas as vezes  que se pensar em transferir o lixo gerado em um município, para depositá-lo  em outros, tenham esses depósitos o nome que tiverem, tanto fazendo se forem lixões ou aterros sanitários. Ninguém quer receber lixo dos outros, e o prefeito  Fábio Henrique, deixou isso bem claro, quando se pretendeu levar  lixo de Aracaju   para um aterro sanitário naquele município. Essas dificuldades e a premência de tempo para que desapareçam os lixões,   estariam a indicar caminhos  novos para a solução do velho problema. Há interesses mesclados, econômicos, políticos. Assim, quando dinheiro e poder  estão em jogo, as soluções requeridas devem  buscar a conciliação de propósitos.. No caso, há ainda o componente técnico, que é talvez mais complicado. Fazer o correto descarte do lixo não é coisa fácil, ainda mais num país como o nosso, que convive com séculos de omissões. Herdamos de Portugal o mau  costume .   Na França, na Inglaterra, século 17,  existiam legislações avançadas  sobre o meio ambiente. No século 18 os esgotos de Paris já não despejavam suas sujeitas no Sena. Portugal até conseguiu fazer uma legislação eficiente sobre a preservação das florestas, que haviam sido devastadas pela construção naval e  civil. Mas  em Lisboa e outras cidades, o costume medieval de lançar o conteúdo de penicos pela janela, ainda atravessava o século 19. Na mesma época, no Rio de  Janeiro, escravos conduziam em barris sobre a cabeça os excrementos dos senhores, que também os alugavam para essa tarefa, imunda, em todos os sentidos. Os excrementos eram lançados  por toda a extensão da orla, principalmente na enseada  de Botafogo, bem perto de onde  vivia o maior dos nossos romancistas, Machado de Assis.. É provável que algumas vezes, absorto em suas meditações ficcionais, o escritor houvesse esbarrado em alguns daqueles negros, seus irmãos,  quase da mesma cor, tratados como bestas, carregando quilos e quilos de merda alheia, que lhes escorriam pelos corpos seminus. Cada época tem seus hábitos,  cada época guarda os seus crimes, junto com suas omissões e alheamentos. O lixo também atulhava as cidades, e nos  habituamos a retirá-lo em carroças, depois em caminhões, para lançá-lo longe, onde  o fedor chegasse apenas aos narizes de favelados, que, por sua vez, viviam do lixo, ou nele literalmente se alimentavam. Nos  convencemos, aceitamos isso como  solução prática, plausível, socialmente correta. A concepção do aterro sanitário, guarda ainda um resquício dessa visão  deturpada, que consiste em livrar a cidade do lixo, deixando-o, porém, ao alcance da periferia.
Nesse debate ou nesse embate sobre o lixo,  os lixões ou aterros, deveria, necessariamente, entrar um componente mais moderno, uma visão de futuro, sem que perdêssemos o contato com a realidade. Essa visão,   que aliás nem seria mais futurista, apenas atual, incluiria a educação ambiental, a formação de uma consciência coletiva sobre o tratamento a ser dado ao lixo, que deveria começar em cada casa, em cada  comunidade, em cada residência, em cada escola.
Zygmunt  Bauman,  pensador da pós-modernidade disse: ¨a sujeira de qualquer espécie parece-nos incompatível com a civilização¨.
 Sujeira de qualquer espécie,  ressaltou o filósofo.
Juntar o descarte do lixo ao interesse econômico é fundamental,   reunindo catadores que vivem na informalidade da imundície dos lixões, em cooperativas de reciclagem. Industrializar o lixo é essencial, transformando-o em adubo, em energia.
O resto do resto, aquilo que não fosse de forma alguma aproveitado,  a parcela mínima, a esquírola de nuga,  como diria o professor clássico,  monsenhor doutor Bragança, iria então aos aterros sanitários, que seriam mínimos, reduzidíssimos, e não chegariam a apavorar prefeitos e comunidades..
Nesses aterros sanitários a Suécia despeja  menos de 5% do seu lixo, e quer reduzir a menos de 1% essa proporção. Temos de nos mirar preferencialmente numa Suécia, jamais em Bangladesh.

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