segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

FRAGMENTOS DE UM ALMOÇO

Este ano, o ex-governador Albano Franco não fez o tradicional almoço para jornalistas e radialistas. Alegando que está agora sem mandato, preferiu reunir no seu apartamento um pequeno grupo de amigos, velhos ou novos no métier (aliás, nova mesmo no ofício só tinha a colunista Paula Toquinho) tanto assim, que se procurava entre os presentes um decano, posto que Ivan Valença recusava-se a assumir. Onde há jornalistas, surgem, além de muitas perguntas, boas ideias postas em discussão. O apartamento de Albano tem vista dominante sobre a Treze de Julho, onde se estende o manto verde do manguezal. Mangue, aliás, agora objeto de uma polêmica envolvendo moradores da privilegiada região, candidatos a prefeito e ambientalistas. Entre os moradores a maioria identifica no mangue a fonte do mau cheiro que se espalha pela região. Albano discorda, atribui aos esgotos, corretamente, a culpa pela fedentina. Outros entendem que o mangue deveria ser removido, e ali, sobre um aterro, nascer uma área verde e de lazer, um parque, com plantas mais nobres, eliminando-se as plebeias, espécimes que formam o manguezal. Há quem diga que seria um projeto do candidato a prefeito João Alves Filho. Desta opinião partilha a colunista Thais Bezerra, já o jornalista Nilson Socorro defende a permanência do manguezal, a vereadora Miriam Ribeiro partilha da mesma opinião, acrescentando que seja dada prioridade ao fim do despejo dos esgotos. Nilson vai mais longe, sugerindo um projeto de aproveitamento turístico do manguezal, com a construção de passarelas entre as árvores para passeios ecológicos; além disso, o desbaste do mangue em alguns locais para melhor ventilação do Calçadão da 13, e criando-se, também, mirantes voltados ao estuário, sem destruir a vegetação, hoje, a maior área verde urbana de Aracaju.
Albano anunciou a criação do Instituto Augusto Franco, que substituirá a Fundação. O Instituto será mantido por ele e seu filho Ricardo. A inauguração ocorrerá com um Seminário sobre as perspectivas de Sergipe e do nordeste, reunindo em Aracaju  economistas,  empresários e jornalistas de primeira linha. O ex-governador fez uma projeção otimista sobre Sergipe e o Brasil, ressaltando, contudo, que Sergipe necessitava de mais investimentos do governo central. Para demonstrar a ascensão social que estaria a ocorrer, Albano revelou uma inusitada constatação pessoal, fugindo a todos os critérios adotados por diferentes metodologias, todavia, sendo uma amostra indiscutível da realidade. Frequentador todos os anos de um almoço antecedido por uma Missa, que o padre Inaldo oferece aos pobres, Albano diz ter notado que a cada ano os comensais diminuem. Este ano, a redução foi ainda maior. Brevemente, o Padre Inaldo terá de oferecer um almoço de confraternização natalina, sem necessariamente ser dirigido exclusivamente aos que padecem a dor da fome, porque, senão, ficará sem convivas. Já o jornalista Nilson Socorro, fazia, quase em sentido oposto, uma avaliação também inusitada sobre a violência entre as camadas mais pobres, que apenas começam a se socializar, graças à convivência com a didática civilizadora do trabalho. Lembrava que, nas segundas-feiras, quase duplica ou triplica o numero de enterros no cemitério São João Baptista. O fúnebre recorde é o resultado da violência nas áreas periféricas de Aracaju, onde moram os mais carentes ou marginalizados, que se exterminam na guerra das madrugadas de sábados e domingos, quando faca, revólver, pauladas, garrafadas, fazem sempre mortos além de um dígito. 

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