quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

BRASIL PAÍS DO FUTURO COM ESSAS ESCOLAS?


Numa escola da Prefeitura de Aracaju onde à noite se desenvolve o programa de Educação de Jovens e Adultos, um professor de matemática dedicado ao seu ofício, elaborou uma prova. Dela constavam 3 questões. Uma, valendo quatro pontos, onde se pedia a resolução de 4 raizes quadradas, e mais 3, valendo 6 pontos, que transcrevemos: a) Uma mercadoria que custava 1200 reais, foi vendida à vista com um desconto de 25 %. Qual o preço pago pelo comprador?
b) Em um hotel há 180 hospedes, sendo que 50 % são estrangeiros, e desses estrangeiros 20% são italianos. Qual o total de italianos que estão hospedados neste hotel? ( Faça o cálculo demonstrativo ).
CALCULE: a) 12% de 1200= b) 15% de 1500= c) 4 % de 300 = d) 5% de 600 =
De uma turma composta por aproximadamente 15 alunos nem um só acertou as três últimas questões.
Quando, em 1941, o escritor judeu vienense Stefan Zweig chegou ao Brasil fugindo da maré montante nazista que se espalhava pela Europa, surpreendentemente, não foi mandado de volta pela ditadura brasileira que mantinha com os regimes totalitários da Alemanha e Itália uma indisfarçada relação de simpatia e identidade. O intelectual famoso logo conquistou a admiração do ditador Getúlio Vargas, e talvez, como forma de garantir um duradouro salvo-conduto escreveu o livro Brasil País do Futuro. É uma visão no melhor estilo ufanista, tão simpático ao complexado orgulho de países em duvida com a própria identidade.
O Brasil, um continente, onde corriam os maiores rios, onde havia as mais extensas florestas, onde existiam, ainda inexplorados, fantásticos recursos naturais, tinha o futuro magnifico carimbado pela geografia.
Stefan Zweig entendia que o caminho brasileiro para o futuro estava traçado pelo destino que o fez grande, e pela sociedade multiétnica e multicultural que aqui foi forjada. Passou quase despercebida ao escritor austríaco, a necessidade que tínhamos de formar o indispensável material humano, capaz de enfrentar e vencer a enorme tarefa de construir um promissor futuro para o gigante deitado eternamente em berço esplêndido.
Setenta anos transcorridos desde então, e o Brasil agora parece que consolida definitivamente aquele sonhado encontro com o futuro de prosperidade e bem estar.
Quando nos deparamos com o desempenho pífio, (ou seria calamitoso? ) daqueles alunos de uma escola do subúrbio aracajuano, desempenho que não é somente nosso, mas, multiplica-se pela maioria das escolas brasileiras, públicas e também privadas, depois dessa decepcionante constatação de fracasso educacional, será que o sonhado futuro não estaria mais uma vez a nos escapar?
Temos agora em Sergipe um choque de razões. A razão do governo que se aferra corretamente à responsabilidade com as contas públicas, por isso, nega-se a conceder aos professores uma majoração que poderia transformar-se numa cascata dizimadora da estabilidade financeira.
Temos, do outro lado, a razão dos professores. Há séculos marginalizados, anseiam correr contra o tempo e alcançar conquistas a curto prazo, que, um tempo bem mais longo, historicamente lhes negou.
Como joguete repicando entre estas duas razões, a de Estado e a corporativa, rasteja a tragédia da escola pública sergipana e brasileira.
É imperioso que essas duas razões finalmente se encontrem, e dos desencontros gerem uma síntese dialética de entendimento, indispensável para retirar a escola pública da degradação onde afunda.
Pensar a Escola, de onde o pensamento há muito desapareceu, é fundamental.
Como entender democratização da Escola se ela não se transforma em instrumento eficaz para a evolução da sociedade? Democratizar é estender benefícios sociais através da disseminação efetiva do conhecimento. Mais importante do que a eleição direta de um diretor é descobrir e fortalecer vocações de tecnólogos, de cientistas, estimular a criatividade, a inventividade, o conceito de cidadania. Desse papel não pode eximir-se a Escola.
Salários compatíveis com a importância do magistério são essenciais, mas, é preciso que as escolas sejam constantemente avaliadas, os resultados auferidos constantemente, os professores reciclados, motivados, para que o oficio de ensinar não se transforme num blá- blá- blá repetitivo, enfadonho e inócuo.
A Escola deve ser aberta às ideias, palco até de embates ideológicos, isso é saudável para a democracia, para o próprio processo educacional, para a liberdade de expressão. E tudo funciona até como estímulo ao ato de pensar. Mas é preciso deixar bem clara a distancia entre Escola e ¨colégio eleitoral ¨.
Existe agora a ameaça de uma greve que seria deflagrada logo no início do próximo ano letivo. Com essa ameaça pairando no ar, qual o sentimento dos pais ao matricularem seus filhos numa escola pública ?
A greve iria ajudar a recuperar os alunos bisonhos que não souberam responder àquelas questões elementares de matemática na escola municipal aracajuana ?
Finalmente, a greve seria contra quem ? Contra os alunos, as famílias, a sociedade ?
O bom senso recomenda que em nome de Sergipe, em nome de um país que precisa consolidar o seu futuro, todos se desarmem, e passem a ter como meta a recuperação, a renovação, o reerguimento da escola pública.

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