quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O CIRCULO VICIOSO DA RIQUEZA


Quando se começou a teorizar no final dos anos cinquenta o atraso dos países periféricos, um economista sueco, Gunnar Myrdal, escreveu livro que se tornou texto obrigatório para todos os estudantes de economia. Naquele tempo estudante utilizava livros. Myrdal diagnosticou os males do subdesenvolvimento com uma curta expressão : ¨círculo vicioso da pobreza¨ . Era o conjunto cumulativo de fatores que contribuíam para agravar indefinidamente o quadro de carências nos países do terceiro mundo. Pobreza gerando mais pobreza , destino perverso de dois terços da população mundial. Vinte anos antes, o pernambucano Josué de Castro , dando publicidade ao então oculto problema da fome falava sobre o ¨ ciclo do caranguejo ¨, uma outra causação circular da miséria, nos mocambos sobre os mangues do Recife, a metáfora brasileira que antecipava a teoria de Myrdal.
O economista escandinavo oferecia, lá de longe, do topo do primeiro mundo, algumas
sugestões para romper o circulo recorrente e insolúvel da miséria.
Agora, diante da crise europeia, podemos parafrasear Myrdal, constatando a existência no primeiro mundo de um círculo vicioso da riqueza. É a prosperidade artificialmente criada. Operações financeiras irresponsáveis, com devedores e credores colocados no mesmo nível de ousadia temerária. Para tapar o rombo dos bancos que fizeram créditos podres para alimentar economias irreais, o Banco Central Europeu vai liberar quinhentos bilhões de euros. Será a salvação para mais de 400 bancos ameaçados de insolvência. Os bancos voltam a fortalecer seus caixas, enquanto, nos países devedores e falidos, seus governantes se encarregam das medidas de arrocho caindo sobre a sociedade, leia-se classe média e pobres. Fazem o superávit recomendado cautelosamente pelo FMI, saldam suas dividas, e os bancos, outra vez com excesso de dinheiro, abrem as torneiras do crédito fácil. Novamente os países se endividam, e o círculo da riqueza prossegue até o dia da ruptura final de um sistema que precisa recriar-se para poder sobreviver sem os sobressaltos recorrentes. Se não houver coragem para o rompimento do círculo vicioso com a estatização de todo o sistema financeiro, um dia, o ciclo se rompe pela exaustão, e aí a falsa riqueza acaba.
 

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