domingo, 4 de dezembro de 2011

NOS ESQUECEMOS DE NÓS MESMOS


Inaugurava-se o Museu da Gente Sergipana, festa bonita, pompa e circunstancia como recomendava obra tão importante, e portentosa. O Museu se fez com recursos provenientes do BANESE através de um Instituto  que foi criado para desenvolver ações na área da cultura. A festa tinha um duplo significado porque assinalava, também,  meio século de existência do banco estadual, um dos poucos que ainda restam. Mesa formada,  solenidade em andamento, discursos sendo proferidos, e entre os convidados  estava o ex-governador do Amapá Gilton  Garcia. Ele é filho do ex-governador de Sergipe Luiz  Garcia, que  criou em 1961 o Banco de Fomento do Estado de Sergipe,  atual BANESE. Luiz Garcia foi, na política sergipana, uma presença civilizatória. O seu nome não deixou de ser citado  na ocasião, mas foi lembrado de passagem pelo presidente do banco Saumíneo Nascimento. Não se tratou de descortesia ou esquecimento, apenas, um episódio recorrente da amnésia à sergipanidade  que, naquele instante, o próprio Saumínio , um dos competentes responsáveis pela criação do Museu, ajudava a curar, a extirpar  definitivamente do nosso cotidiano.    Fechando a solenidade, o governador Marcelo Déda referindo-se a Gilton que estava próximo,  naquilo que o cerimonial denomina ¨dispositivo¨,   deu então a exata medida do que representou  para  Sergipe a criação do BANESE por Luiz Garcia. O Museu da Gente Sergipana vem a ser exatamente a memória  de quem habita este território,  que vai das securas ásperas da proximidade com o  baiano Raso da Catarina , à leveza dos ventos atlânticos  umedecendo os massapês, entre os estuários largos do São Francisco e do Real- Piauí- Piauitinga. É a História de um povo das selvas, depois, quase extinto pela violência da conquista, tantas vezes disfarçada em catequese, e da outra gente que foi surgindo, fazendo a boa genética da mistura dos  sangues negro, europeu, indígena. Não é, como acentuou o governador,  algo efêmero, com  vida curta de um espetáculo. O  Museu  é a permanência do culto ao passado, a reverencia às lições da História,  um aprendizado para melhor enfrentar o futuro.  Isso nos fará certamente menos esquecidos, menos  descuidados de nós mesmos, mais apegados a uma indispensável dose de autoestima.
Esse papel de preservação da memória institucional, já vem sendo cumprido por dois exemplares memoriais, o da Justiça, criado pelo desembargador Pascoal Nabuco, e o Palácio Museu inaugurado  ano passado. O Palácio Museu Olímpio Campos cumpre  uma missão que é essencialmente pedagógica.  Pequena equipe comandada pelo diretor Oyama Teles e pelas professoras Eliana Borges, coordenadora de educação e Isaura Cunha, coordenadora de museologia,  cumpre o papel de fazer do Museu uma ferramenta da educação. Nos últimos meses foi iniciado um calendário de comemoração dos aniversários dos ex-governadores, dos vivos, e dos que já se foram. Mês passado   faziam aniversário Lourival Baptista e Paulo Barreto de Menezes, e era também mês de nascimento de  Luiz Garcia e Apulcro Motta. Sobre Luiz Garcia falou sua neta a advogada Gláucia Garcia. Paulo Barreto esteve presente ajudou a avivar a memoria da pessoa escolhida para falar sobre ele e Lourival, que, vivendo em Brasília, tinha um neto a representá-lo. Familiares de Apulcro Motta estavam presentes, e sobre ele falou o professor e historiador Milton. Em novembro comemoraram-se  os aniversários de Albano Franco e Martinho Garcez. Sobre Martinho, jurista, político liberal, falou o professor Manoel Prado Neto esboçando um panorama do mundo daquela época e da província sergipana. Sobre Albano falou o economista e professor Marcos Melo. Dezenas de pessoas presentes transformaram em festa o aniversário. Albano sorridente, cercado pelos alunos do Colégio Albano Franco  lembrando que  ao  inaugurar o Teatro Tobias Barreto, Déda, que então era prefeito de Aracaju, disse  que aquele teatro era a prova da maioridade cultural de Sergipe,  e ele, parodiando    naquela ocasião o agora governador, dizia:¨ Este palácio Museu é a prova da maturidade cultural de Sergipe.¨ O  Museu  que surgiu no quase desmoronado prédio do antigo Atheneu Sergipense, é muito mais, chega a ser quase uma ousadia, comparável aos grandes centros culturais do país. É a nossa  plena consolidação de uma maturidade cultural duramente alcançada.
 Essa nova fase de valorização da  sergipanidade   estimulada por Marcelo Déda é um marco civilizatório, nos faz  esquecer malquerenças, superar antagonismos, e juntar tudo no mesmo melting-pot que originou e faz viver Sergipe.
 Agora mesmo, a Câmara de Aracaju aprova um projeto da  diligente vereadora Mírian Ribeiro, criando o Dia da Personalidade Sergipana. Se fará a escolha, por uma comissão, de um personagem sergipano entre os vivos e os que já se foram, para ser lembrado e homenageado no decorrer do ano, com o anuncio sempre acontecendo no dia  17 de março, data de fundação de Aracaju.
Valorizar os que  fazem, os que colocam em qualquer setor de atividade uma pedra a mais na construção sergipana, é uma forma de agradecer, de reconhecer, de valorizar.
Mês passado a Emsetur comemorou 40 anos de vida. Elber, o Secretário de Turismo, e Paulo, o presidente da empresa,  tiveram a boa iniciativa de festejar a data com todos os funcionários.  A festa poderia ter sido completa,  com a adesão à essa nova fase de reverencia à nossa memória histórica, no caso, aliás, muito recente. Bastaria lembrar que foi o governador Paulo Barreto   quem criou a  Emsetur ,e o  radialista odontólogo e professor Carlos Magalhães  seu primeiro presidente.  Ali,  começava-se  a pensar turismo profissionalmente em Sergipe.

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