segunda-feira, 17 de outubro de 2011

OS RICOS A IGREJA E O TEMPO DAS INDULGENCIAS

Contrariando a metáfora do sapiente Santo Antônio que identificou  no coração de um poderoso homem rico ,  nada mais do que um cofre para guardar dinheiro, e, por isso,  recusou-se a  dizer-lhe missa de corpo presente, a Igreja Católica manteve, por muito tempo, o instituto das indulgencias.
Era uma forma de perdoar pecados através  dos  óbulos   recebidos. Havia uma espécie de  equivalência entre o grau do pecado cometido e o valor em dinheiro ou bens da contribuição. Como os pobres não tinham  o que dar, a indulgencia  nascida na Idade Média e que sobreviveu até meados do século passado, era assim, como se fosse um passaporte privilegiado que teriam os endinheirados para que se lhes abrissem as portas celestiais.
As indulgencias foram abolidas, enquanto a Igreja fazia aquele transito que chegou a ser definido  como ¨opção preferencial pelos pobres¨, algo que até contraria algumas convicções de teólogos, muito  mais contrariados ainda com as práticas da ¨teologia da libertação¨ que, segundo eles,   tendo a frente o cardeal Ratzinger, atual papa Bento XVI, era uma indigesta salada profana de evangelho e marxismo.
Quando mais se acentuava aquele  quase cisma que polarizava a Igreja, estabelecendo-se um nítido confronto que envolvia a interpretação bíblica à luz da ideologia política de cada um, os ricos, os chamados privilegiados, chegaram a se sentir excluídos, substituídos, ao que diziam, pela nova leva de cristãos preferenciais, os pobres. Muitos deixaram de frequentar a Igreja, passaram a sentir, com o fim das indulgencias, os efeitos daquele quase anátema: ¨Na verdade vos digo:  é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus¨ .
  Há interpretações variadas sobre o texto bíblico. Pela agulha não passaria um camelo, seria uma corda, ou não seria uma agulha,  mas uma porta  Sucessivas traduções do aramaico para o hebraico, o grego, o latim, foram modificando alguns termos sem que, segundo os especialistas, a essência  dos significados houvesse sido alterada, embora admitindo-se interpretações  diversas que variam do alegórico à ortodoxia.
Mas o fato é que, sendo camelo ou corda a passar pelo fundo da agulha ou pela porta,  o  caminho do rico até o paraíso estaria repleto de obstáculos.
Agora, com o refluxo dos entrechoques entre  progressistas e conservadores, com o afastamento de integrantes do clero que tanto incomodavam  aos setores ultramontanos ,    parece que os ricos não mais se sentem afrontados  frequentando as igrejas,  tendo  a certeza que nos púlpitos não estarão mais os padres que pregavam a igualdade social com a redistribuição forçada da riqueza.
Mas, exatamente em tempos assim, tão sossegadamente aquietados, a Catedral Metropolitana de Aracaju está em péssimo estado de conservação, e já houve até informações  sobre a possibilidade de desabamento de uma das suas torres. A Arquidiocese estaria necessitando de algo em torno de 6 milhões de reais para fazer a reforma completa do templo e não dispõe desse dinheiro. Sairam  o Arcebispo e o bispo auxiliar, Dom Lessa e Dom Henrique em busca de apoio do governo do estado. Há dificuldades, porque  vivemos num estado laico, e não há como justificar a destinação de recursos públicos para uma determinada confissão religiosa. Tanto o governador Marcelo Déda quanto o vice – governador  Jackson Barreto, se prontificaram a encontrar uma saída para o problema, talvez, com a alegação de que a Catedral é um patrimônio publico que deve ser preservado, e nisso, evidentemente, o governo pode assumir responsabilidades.
Mas, levando-se em conta o valor, levando-se mais ainda em conta o numero de ricos ou muito ricos que existem em Aracaju e em todo o Estado, parece inacreditável que alguns  deles,  não tenham ainda assumido a responsabilidade direta por toda a reforma da Catedral. Mais difícil ainda, acreditar que tal omissão aconteça quando se sabe que os ricos gostam do cenário da Catedral para fazer suntuosos casamentos,  batizados,  ou,  quando a alma  se desapega do corpo, lá se realizam as missas de sétimo ou trigésimo dias, adjutórios rituais  que auxiliam,  para os que têm fé, na condução da alma liberada até as mansões  hospitaleiras da vida eterna.
 Antes, a Igreja Católica sabia lidar muito bem com a avareza, amenizando-a com  a possibilidade de  conceder indulgencias capazes de afastar os temores  da descida aterrorizante até os quintos dos infernos.
Antes que as torres da Catedral desabem, alguns, que se dizem católicos apostólicos romanos, poderiam começar a tirar as mãos do bolso, mesmo sem  a recompensa transcendental das indulgencias.

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