segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A NOTÍCIA DAS CHUVAS QUE CHEGARAM


Benfazejas águas de outubro chegaram sem fazer surpresa.  Difícil, nessa quadra outonal, esperá-las.
 Mais difícil ainda,  sufocados nas quenturas tropicais, acreditar na existência de quatro estações. O que temos,  neste semiárido nordeste, é verão, seco, quente, e inverno, tempo das chuvas e de menos calor . Perdidas as ilusões  tanto outonais como primaveris, teremos, sem escapatórias, de  ficar restritos às duas estações bem definidas, que de fato existem para nós, habitantes dos ¨tristes trópicos¨, assim,  tão  desprimorosamente  chamados por Claude Levi-Strauss, que, nas andanças brasileiras, deve ter esquecido da nostalgia dos invernos europeus, e faltou-lhe, também, o faro lúbrico de um Gilberto Freire para descobrir os tão evidentes prazeres e as esfuziantes alegrias tropicais. Chuva forte já em outubro, é  coisa rara, ainda mais quando acompanhada por trovoadas. Não dá para esquecer, apesar de tempos tão cambiantes, que no verão também temos chuvas, aquelas, associadas a  raios e trovões.  Aguaceiros fortes, que enchem as barragens no sertão, aliviam  o jejum de águas nos rios que abastecem as cidades.  Essas aguas estivais somente nos chegam  depois de novembro, e com alguma sorte podem atravessar fevereiro, imiscuir-se em março.   Trovoadas andam nos últimos anos escassas. Há meninos, vivendo  no nordeste,  que chegam aos 4,  5 anos, sem ouvir o ribombar de um trovão, sem ver um raio rasgar o céu, assim como aquelas outras crianças do deserto que quase chegam à puberdade sem satisfazer a vontade de molharem-se com a água que cai do céu.
 Então, chegadas assim em outubro,  chuvas fartas que caíram,  teriam de ser uma grande surpresa, embora agradável,  todavia,  surpreendentes mesmo, vistas como improvável e raro acontecimento cada vez mais fortuito. Se não houve a surpresa, isso se deve a um cidadão chamado Overland Amaral e à sua reduzida equipe de técnicos  manipulando os instrumentos, os computadores da nossa pequena estação meteorológica instalada na CODISE. As previsões agora se tornaram mais fáceis, resultam do acompanhamento em tempo integral e real das imagens produzidas pelos satélites meteorológicos em órbita. Barômetros, higrômetros, balões, anemômetros, tornaram-se  anacrônicos. O tempo é ciberneticamente monitorado.
 Quando Viana de Assis, então Secretário da Indústria e Comércio resolveu criar o sistema de informações meteorológicas havia  descrédito em relação ao novo setor  visto como desnecessário, e com precárias condições para cumprir suas tarefas.
O geógrafo Overland,    especializado em meteorologia,  conseguiu, enfim, dar credibilidade ao que era um campo fértil para piadas.
Quatro dias antes da chegada das chuvas, ele  já estava na mídia a anunciá-las.    Foi ousado, desceu ao detalhe,  até à previsão da hora exata e o local onde as nuvens começariam a soltar suas cargas, e o volume delas.  A Defesa Civil entrou em cena,  houve tempo suficiente para advertir a população.
Se isso acontecesse na Europa, nos Estados Unidos, Canadá, Japão, seria um fato corriqueiro. Nesses locais do primeiro mundo onde a previsão meteorológica é algo essencial para a vida das pessoas, para a movimentação da máquina dos negócios,  as variações do tempo são acompanhadas com muita atenção. Nas ilhas britânicas, onde  ¨  intempéries do tempo¨ ( como tão redundantemente dizia um político sergipano) ocorrem a todo instante, o assunto  faz parte inseparável de todas as conversas.  Ingleses, tão insipidamente formais,  falando com aquela cara de nojo, costumam  ¨quebrar o gelo ¨ nas abordagens homo ou hétero- afetivas, -estas últimas cada vez mais escassas-  fazendo observações espirituosas sobre o tempo. Nos  tramas policiais ingleses, o detetive, tantas vezes, se faz meteorologista. Já os franceses, mais gustativos, preferem  colocar um patê, uma terrine, um fromage, um bordeaux, um boujaulais, este,  se for novembro, entre os olhares ardentes de duas pessoas que se entredevoram. Literalmente.
Aqui, o tempo é pouco levado em conta, tanto assim que nos principais noticiários das nossas televisões não mais de 2 minutos são reservados às previsões, feitas, além de tudo,  um  tanto descuidadamente.
O meteorologista Overland,  poderia tornar  mais útil a repartição meteorológica que comanda,  se afinasse pontualmente as  previsões, e as fizesse no tempo de plantar e colher, com a antecedência possível, detalhando cada região, para que as pessoas, semeando, e  a  espera de chuvas, soubessem melhor se elas chegariam com um mínimo  de certeza.

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