segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O TEMPO DE PLANTAR, O TEMPO DE COLHER


Num dos capítulos do Eclesiastes com aquela percuciência  sábia  tão usual nos textos bíblicos, ficou registrado um sempre oportuno ensinamento. Há dois tempos distintos, o tempo de plantar e o tempo de colher. Na antiguidade, nada melhor para assinalar a passagem dos dias do que  aqueles dois períodos tão importantes  e arraigados na vida  das pessoas.     Recomenda-se que não sejam atropelados esses dois marcos que se transformavam  em calendário cuidadosamente obedecido, porque,  em consonância com os hábitos   das  gentes, em sintonia com o fluir das estações, o pulsar da própria natureza.
 A estratégia política que para si mesmo traçou o governador Marcelo Déda, parece ser inspirada na tão decantada sabedoria   que sempre se pode extrair dos preceitos  do livro maior da cristandade.
Esse nervoso clima de ansiedades mal contidas que antecipa  distantes projetos políticos, não parece afetar em nada o comportamento do governador. Ele já disse,  duas ou três vezes, que tem no pulso um relógio  exclusivo para definir momentos decisivos para cada um dos embates eleitorais . Um, bem próximo, para o ano que vem, outro, mais distante,  para 2014, que, todavia, poderá ter seus contornos melhor desenhados após os resultados de 2012.
Sem ter concluído ainda o primeiro ano do seu mandato, é quase certo que o governador pensa no seu futuro político, que passaria pela tentativa de chegar ao Senado. Orador brilhante, ele seria um ornamento raro num parlamento que anda tão carente de brilho. Déda sabe que  no Senado a sua fluência oratória  e capacidade de articular-se o transformariam numa estrela de primeira grandeza no opaco firmamento político que hoje temos. Seguramente, assim pensando, estaria a torcer para que se mantivesse a unidade do bloco que o fez conquistar o segundo mandato. Com  o potente grupo dos irmãos Amorim, o senador Valadares, Jackson Barreto e o seu PT, afinados, a conquista do Senado para ele, seria quase um tranquilo passeio, e quem saísse na cabeça da chapa a disputar o governo teria, igualmente , uma tranquila jornada.
 Quase com certeza  Déda estaria interessado em preservar  a mesma aliança e buscando fórmulas engenhosas para construir um  sonhado consenso.
 Semana passada  o vice-governador Jackson Barreto numa comentadíssima entrevista, adiantou o seu legítimo propósito de sair candidato à reeleição, caso assuma o governo, na hipótese  mais do que provável da desincompatibilização de Déda. Declarou-se, com todas as credenciais que seu currículo político lhe confere, um candidato em compasso de espera,  e, para isso, invocou a compreensão do senador Eduardo Amorim, hoje, o nome mais cogitado e com maior arquitetura eleitoral para concorrer ao Governo.  Sugeriu-lhe Jackson que tivesse paciência, pois afinal, ele reeleito, não mais poderia ser candidato, e então, em 2018, quando se encerra o mandato do senador,  Eduardo,  que é muito jovem, disputaria o governo. A ideia do Vice-Governador mereceu uma dura resposta vinda do deputado federal André Moura, que disse ¨respeitar  fila preferencial de idoso em qualquer lugar, menos na política ¨. A contundente manifestação do deputado, que é muito próximo a  Edivan  e ao senador Eduardo Amorim, traduz quase a essência do sentimento de rejeição do bloco a qualquer alternativa que não seja a candidatura ao governo de Amorim. Por outro lado, os dois suplentes de Eduardo, o empresário Laurinho Menezes,  e o engenheiro Kaká Andrade, interessados, o primeiro, em pisar por 4 anos nos tapetes do Senado,  e o segundo, em  pelo menos fazer o mesmo por pelo menos  seis meses  ,  receberam muito mal a sugestão de Jackson, e não querem outra coisa, eles os alternos, a não ser a candidatura ao governo do senador titular.
Salomonicamente equidistante desse debate,  Marcelo Déda concentra-se na semeadura. Por enquanto, ele  tem três vistosas sementes: o  acordo Petrobrás- Vale, que deverá ser assinado nos  próximos dias; o Canal de Xingó, e a unidade de sulfato de amônia da FAFEN.
Esses     projetos envolvem investimentos superiores a dez bilhões de reais. O Canal de Xingó, junto com outras intervenções de menor porte   que estão em andamento, formam o elenco de providencias para garantir o suprimento de água indispensável  à demarragem  econômica do semiárido, que tem na pecuária leiteira a sua grande vocação, até agora contida  pela impossibilidade de levar água farta e sem custo aos rebanhos.
 O  acordo Vale- Petrobras  que transforma uma antiga  e irresolvida   pendenga numa parceria proveitosa às duas grandes empresas, possibilitará a produção do potássio a partir da carnalita.
    Será feito então um  dos maiores investimentos da Vale no país, assegurando a posição de Sergipe como único local no hemisfério sul onde se produz potássio  e permitindo   a ampliação do polo de fertilizantes,  hoje instalado na região da Cotinguiba,   num raio de 30 quilômetros em torno da mina, e da fábrica de amônia e ureia.  O sulfato de amônia a ser produzido, outro elevado investimento, tornará ainda mais viável e competitivo o nosso polo de fertilizantes. Semeadas as sementes, se assim se poderá redundantemente dizer, Déda colocará nas mãos  as ferramentas para a colheita.

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