Não são apenas árabes de pele tostada, narizes aduncos e olhos castanhos, rígidos seguidores do Alcorão, que andam a explodir bombas, espalhando o pânico e a dor. Esses atos terroristas ocorridos na Noruega foram cometidos por gente loira de olhos azul que se define como fervorosamente cristã defensora da cultura ocidental, da supremacia dos brancos. A cultura da violência, da ferocidade, não está apenas vicejando onde se ouve o dolente chamado dos muezins convocando para as orações. A intolerância assassina pode estar crescendo entre os que assistem às missas, contritos e piedosos, naquelas naves imensas das catedrais góticas, onde a luz filtrada pelos coloridos vitrais sugere visões míticas do paraíso, ou, nos ambientes mais despojados dos templos evangélicos, em que, as vezes tão ruidosamente, muitos estão a proclamar o amor a Cristo. O fundamentalismo cristão, denominação que passa doravante a freqüentar os noticiários, pode ser uma segunda crucificação daquele andarilho Homem de Nazaré, que aconselhou suavemente: Amai-vos uns aos outros. O sentimento que move o terrorismo é o mesmo em qualquer latitude onde vivam os que a ele recorrem. Quando a frustração e a desordem existencial encontram a explicação de tudo na identificação de um inimigo responsável pelas desditas coletivas ou individuais, surge o ódio que encontra sua arma política na impiedade da violência ilimitada. As ressalvas morais que poderiam deter as mãos assassinas, são insuficientes diante do cultivo do ódio que se auto-justifica e glorifica como heroísmo extremo e santificado.
Isso é o terrorismo, e ele não tem fronteiras. Depois das bombas e dos tiros em Oslo, é forçoso reconhecer que se faz inútil combater o terrorismo nas montanhas indomáveis do Afeganistão, ou em operações de tropas especiais e de serviços secretos que podem até matar um Osama Bin Laden. As hordas bárbaras estão dentro das nossas muralhas. Nos campi de universidades seculares, onde grandes humanistas difundiram suas idéias, existe alguém preparando um explosivo, municiando uma metralhadora, para espalhar a morte e tentar deter a invasão dos remanescentes redutos brancos por aquela gente indesejável, que vem da África, da Ásia, da América Latina, também, dos quintais incivilizados da Europa, o mundo eslavo. Não é apenas uma desprezível excentricidade a exibição orgulhosa da Cruz Suástica, das fotos de amalucados assassinos como Adolf Hitler. A crise econômica, a insegurança que se espalha onde antes havia uma prosperidade que se acreditava permanente; a descrença nos modelos políticos vigentes, a visão apocalíptica que identifica o fim da civilização ocidental na miscigenação das raças, nas mudanças de hábitos sociais, tudo isso é caldo de cultura para a radicalização política e o apelo desatinado à fúria bestial do terrorismo.
Paradoxalmente, em Oslo, a capital escolhida para que nela se faça a entrega do Prêmio Nobel da Paz, aparece agora essa expressão funesta do terrorismo loiro, onde se pensava existir uma civilização, uma bem-sucedida social democracia blindada contra o extremismo.
Nas ruas de Oslo, por toda a Europa, desfilam, cada vez mais numerosos, aqueles brutamontes de cabeças raspadas, os skin-heads, que passaram das agressões isoladas contra estrangeiros, árabes, turcos, negros, e os homossexuais, para uma ação política estrondosamente sangrenta.
O nazismo tem fracas, todavia impregnadas manchas resistentes no espectro político de quase todos os países europeus. Nos anos que marcaram a ascensão de Hitler, nos países que seriam logo invadidos, proliferaram os quinta-colunas aqueles que abriam caminho aos invasores. Desses, um dos mais famosos foi o norueguês Vidkum Abraham Lauritz Quisling, ou simplesmente major Quisling, substantivo próprio transformado em adjetivo para classificar abjetas traições. Quisling tramou com os alemães a invasão do seu país, a deposição do rei Haakon VII, para chefiar, ele próprio, um governo títere. Haakon VII, um homem excepcional, era o príncipe Carlos da Dinamarca. Após a independência da Noruega em 1905, depois de quatrocentos anos anexada à Suécia, e por cem, à Dinamarca, ele adotou, quando eleito rei pelo povo norueguês o nome de Haakon VII. (Foi o único rei até hoje eleito pelo volto popular) O último rei de uma Noruega independente fora Haakon VI no século XIV. Haakon VII, já idoso, juntou o remanescente das tropas que resistiam à invasão alemã e fez uma marcha épica pelas montanhas geladas até o extremo norte do país, combatendo incessantemente. Embarcaram em um navio inglês no porto setentrional de Tromso, salvando as reservas de ouro da Noruega, suas tropas fieis, e partindo para um exílio de cinco anos em Londres até o final da guerra, quando, de volta ao poder, assistiu à condenação e ao fuzilamento do major Quisling.
A Noruega, sem ter muito mais o que fazer com tanto dinheiro que lhe sobra da exploração do petróleo no Mar do Norte, com pouco mais de 4 milhões de habitantes, é um país que parece imerso num clima imaginoso dos contos de fadas. A riqueza não se mostra ostentatória, mas é facilmente perceptível no bem estar social que abrange toda a população.
Em 17 de maio, quando comemoram o Dia da Constituição, grande festa nacional, os noruegueses enchem as ruas de Oslo vestindo seus coloridos e reluzentes trajes típicos, bebem, dançam nas ruas, e não há violência, nem se faz necessária a presença ostensiva da polícia. Por toda a cidade sente-se no ar um cheiro forte de churrasco. Descendentes de pescadores, e ainda pescando muito, os noruegueses comem muita carne vermelha, e de excelente qualidade. A partir de agora, nos 17 de maio, quando longas filas se formam em frente ao palácio, na saudação descontraída à família real, o rei, a rainha, estarão respondendo às aclamações efusivas dos súditos, mas, cuidadosamente amparados por grossa proteção de vidro blindado.
Isso é o terrorismo, e ele não tem fronteiras. Depois das bombas e dos tiros em Oslo, é forçoso reconhecer que se faz inútil combater o terrorismo nas montanhas indomáveis do Afeganistão, ou em operações de tropas especiais e de serviços secretos que podem até matar um Osama Bin Laden. As hordas bárbaras estão dentro das nossas muralhas. Nos campi de universidades seculares, onde grandes humanistas difundiram suas idéias, existe alguém preparando um explosivo, municiando uma metralhadora, para espalhar a morte e tentar deter a invasão dos remanescentes redutos brancos por aquela gente indesejável, que vem da África, da Ásia, da América Latina, também, dos quintais incivilizados da Europa, o mundo eslavo. Não é apenas uma desprezível excentricidade a exibição orgulhosa da Cruz Suástica, das fotos de amalucados assassinos como Adolf Hitler. A crise econômica, a insegurança que se espalha onde antes havia uma prosperidade que se acreditava permanente; a descrença nos modelos políticos vigentes, a visão apocalíptica que identifica o fim da civilização ocidental na miscigenação das raças, nas mudanças de hábitos sociais, tudo isso é caldo de cultura para a radicalização política e o apelo desatinado à fúria bestial do terrorismo.
Paradoxalmente, em Oslo, a capital escolhida para que nela se faça a entrega do Prêmio Nobel da Paz, aparece agora essa expressão funesta do terrorismo loiro, onde se pensava existir uma civilização, uma bem-sucedida social democracia blindada contra o extremismo.
Nas ruas de Oslo, por toda a Europa, desfilam, cada vez mais numerosos, aqueles brutamontes de cabeças raspadas, os skin-heads, que passaram das agressões isoladas contra estrangeiros, árabes, turcos, negros, e os homossexuais, para uma ação política estrondosamente sangrenta.
O nazismo tem fracas, todavia impregnadas manchas resistentes no espectro político de quase todos os países europeus. Nos anos que marcaram a ascensão de Hitler, nos países que seriam logo invadidos, proliferaram os quinta-colunas aqueles que abriam caminho aos invasores. Desses, um dos mais famosos foi o norueguês Vidkum Abraham Lauritz Quisling, ou simplesmente major Quisling, substantivo próprio transformado em adjetivo para classificar abjetas traições. Quisling tramou com os alemães a invasão do seu país, a deposição do rei Haakon VII, para chefiar, ele próprio, um governo títere. Haakon VII, um homem excepcional, era o príncipe Carlos da Dinamarca. Após a independência da Noruega em 1905, depois de quatrocentos anos anexada à Suécia, e por cem, à Dinamarca, ele adotou, quando eleito rei pelo povo norueguês o nome de Haakon VII. (Foi o único rei até hoje eleito pelo volto popular) O último rei de uma Noruega independente fora Haakon VI no século XIV. Haakon VII, já idoso, juntou o remanescente das tropas que resistiam à invasão alemã e fez uma marcha épica pelas montanhas geladas até o extremo norte do país, combatendo incessantemente. Embarcaram em um navio inglês no porto setentrional de Tromso, salvando as reservas de ouro da Noruega, suas tropas fieis, e partindo para um exílio de cinco anos em Londres até o final da guerra, quando, de volta ao poder, assistiu à condenação e ao fuzilamento do major Quisling.
A Noruega, sem ter muito mais o que fazer com tanto dinheiro que lhe sobra da exploração do petróleo no Mar do Norte, com pouco mais de 4 milhões de habitantes, é um país que parece imerso num clima imaginoso dos contos de fadas. A riqueza não se mostra ostentatória, mas é facilmente perceptível no bem estar social que abrange toda a população.
Em 17 de maio, quando comemoram o Dia da Constituição, grande festa nacional, os noruegueses enchem as ruas de Oslo vestindo seus coloridos e reluzentes trajes típicos, bebem, dançam nas ruas, e não há violência, nem se faz necessária a presença ostensiva da polícia. Por toda a cidade sente-se no ar um cheiro forte de churrasco. Descendentes de pescadores, e ainda pescando muito, os noruegueses comem muita carne vermelha, e de excelente qualidade. A partir de agora, nos 17 de maio, quando longas filas se formam em frente ao palácio, na saudação descontraída à família real, o rei, a rainha, estarão respondendo às aclamações efusivas dos súditos, mas, cuidadosamente amparados por grossa proteção de vidro blindado.
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