sábado, 19 de março de 2011

O DEM, ENTRE O DESANIMO E A EUFORIA

Sucessor do precocemente envelhecido pêfêlê, o DEM é agora em Sergipe um ajuntamento resistente de políticos que, por força das circunstancias, tornaram-se todos ciclotímicos. Eles vivem momentos de pura euforia, ou se recolhem a um estado depressivo de quase completo desencanto em relação ao futuro. .
Não se trata de um patológico distúrbio bipolar. Os sentimentos dos antigos pêfelistas , variando do otimismo róseo ao pessimismo cinzento, estão relacionados a fatos concretos.
Há pessimismo quando se constata que o esvaziamento é a tendência dominante. O idealizado partido-ponte do prefeito paulistano Gilberto Kassab, se chegar a ser efetivamente concretizado, provocará uma diáspora na oposição, e o DEM será o maior fornecedor de migrantes. Isso reduzirá ainda mais as bancadas , e haverá o choque imenso: a perda da prefeitura de São Paulo, o quarto orçamento do país.
Aqui, sucessivas declarações do deputado federal Mendonça Prado causaram mal estar entre aliados que ¨deram sangue¨ no combate oposicionista, e ajudaram João Alves a manter-se eleitoralmente firme. Há, nesse particular, correligionários e também aliados de outro partido, como é o caso do deputado do PP Venâncio Fonseca. Ele, com Augusto Bezerra, foram na Assembléia os escudeiros atentos e leais de João Alves. Augusto Bezerra está de malas arrumadas para transferir-se ao PDB de Kassab, caso aquele partido fique mesmo na órbita dos irmãos Amorim, o que agora não são mais favas contadas. O vereador Juvêncio, um dos mais eficientes quadros do DEM, também está pronto a fazer o mesmo trajeto.
Mas, há um fato político que poderá suspender toda esse ensaio de debandada. Esse fato será o anúncio da candidatura de João Alves à prefeitura de Aracaju. Só isso, garantem Machado, Juvêncio, Venâncio, e o próprio Augusto Bezerra, poderia salvar a oposição sergipana representada pelo DEM, da ameaça real de dissolução.
João ainda faz beicinho, se diz pouco motivado a enfrentar uma segunda eleição num período de dois anos, alega que não tem recursos, não sabe se conseguirá arrecadar, com amigos, o mínimo para uma campanha que não será barata, ainda mais porque os ¨amigos¨ sempre diminuem quando o político faz, compulsoriamente, aquele desagradável trajeto do poder para o lado sem atrativos da oposição. Além disso, João enfrentaria forte resistência da sua mulher, a senadora Maria do Carmo. Talvez ela preferisse candidatar o genro Mendonça Prado, reservando João ou ela própria para 2014. Mas o deputado Mendonça é, justamente, o nome mais rejeitado entre os demistas que restam. Com ele, Venâncio Fonseca garante que não vai.
Porém, quando se desenha para o próximo ano um quadro com João candidato à Prefeitura, ai, as coisas mudam completamente, todos , sejam demistas ou pepistas, assumem o discurso de um Doutor Pangloss, o mundo se torna róseo, o futuro a guardar-lhes as melhores surpresas.
E tanto otimismo se fundamenta na certeza de que a coligação no poder não se manterá unida. E saem, pinçando aqui e ali, declarações que apontam para essa evidencia. Um nome consensual é, no entendimento de um demista atilado como Jose Carlos Machado, tão impossível como transformar água em vinho, milagre até agora só atribuído ao suave Homem de Nazaré. Já se ouvem e se lêem algumas entrevistas do prefeito Edvaldo anunciando candidaturas do seu raquitíssimo PC do B, espécie de PR de antigamente, que redescobriu as excelências da garupa. O velho PR tinha nomes brilhantes no cenário político, Julio Leite, Armando Rolemberg, intelectuais articulados, Jaime Araújo, Rabelo Leite, Viana de Assis, Jose Carlos de Souza, a chamada ¨turma do Tio Júlio ¨, acompanhando conservadores, todavia, atuando com uma nítida visão de centro-nesquerda. O PR costumava sair-se muito confortável, instalando-se na garupa do PSD. O PDT também se vê com chances de ter candidato. O PT, sem duvidas, parece disposto a não abrir mão da disputa. Tem nomes, Márcio Macedo, Rogério Carvalho, Sílvio Santos, Ana Lúcia, Iran, entre outros, e está no poder. O PMDB se ensaia como protagonista de primeira linha, nele estão o vice-governador Jackson Barreto, o deputado federal Almeida Lima, o médico ex-deputado e agora chefe da Casa Civil, Jorge Alberto , o ex-vice –governador duas vezes, Benedito Figueiredo. E há ainda a força em plena ascensão do grupo dos irmãos Amorim. Embora o senador Eduardo esteja a recomendar comedimento e paciência, já se multiplicam os nomes: deputados Zeca Silva, capitão Samuel, o suplente de senador Laurinho Menezes. Há quem garanta que o grupo poderá, estrategicamente, desistir de candidato próprio, preservando-se para 14. Só quem até agora não disse nada a respeito de Aracaju foi o pastor deputado federal Heleno Silva que está com os olhos voltados para Canindé do São Francisco.
O PSB do senador Valadares não estaria a sobrar, muito pelo contrário. Existem alguns afoitos como o deputado Adelson Barreto e o prefeito Sukita de Capela que se insinuam possíveis candidatos. Valadares, é enxadrista político capaz de memorizar à frente 10 possíveis jogadas do adversário, e ter 11 guardadas na cabeça para neutralizá-las, depois, anunciar o xeque –mate. O senador agora, apenas pensa. E cala. Em Simão Dias sabem que ¨capa-bodes ¨calado pode ser um bom ou péssimo sinal. Edvaldo Nogueira andaria a estimular Valadares Filho a tornar-se candidato com seu apoio. Repetiria a mesma iniciativa que teve com Albano Franco ? Valadares Filho seria, precisamente, um excelente nome, desde que fosse o consenso, que agora , tem-se como o milagre impossível.
Além desse enorme caldeirão fervente, os otimistas demistas, estariam também a apostar num desgaste acentuado do prefeito Edvaldo, e nas dificuldades que Déda enfrentaria ao longo deste ano.
E ainda são todo eles embalados pela música agradável entoada por marqueteiros que delineiam, para João, uma campanha mais ou menos nesses termos: Ele, em contraponto com as caras novas que irão surgir, seria a Cara da Experiência, e para consolidá-la colocariam na TV um grande mapa de Aracaju.
Diria então um locutor: Veja como seria Aracaju sem as ações de João Alves. E iriam retirando do mapa, sucessivamente, a Orla da Atalaia, a Coroa do Meio, a ponte da Barra, a ponte do Poxim, a ponte de Socorro, o Hospital João Alves, avenidas, o Parque da Cidade, uma maternidade, várias escolas, redes de esgotos, o Teatro Tobias Barreto, os prédios da Assembléia, do Tribunal de Justiça, o Centro de Criatividade.
A maior parte dessas obras aracajuanas de João como prefeito, e governador três vezes, foi apenas por ele iniciada, depois, concluída por sucessivos prefeitos, de Heráclito Rolemberg em diante: governadores, desde Valadares, passando por Albano Franco, até agora, Marcelo Déda. Isso será lembrado, sem dúvidas. Este é, exatamente, o debate no qual João sonha em se envolver.

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