sábado, 3 de setembro de 2016

O PIANTELA FECHANDO OS “PETRALHAS” E “COXINHAS”

O PIANTELA FECHANDO OS “PETRALHAS” E “COXINHAS”
O Piantela é o mais famoso dos restaurantes brasilienses e talvez aquele que mais figurou nos últimos 30 anos na crônica política como palco onde o poder se encontrava. Ulisses Guimarães e a sua roda movimentada sorviam o poire, aquela aguardente francesa que terminou sendo o símbolo de um tempo. No Piantela, os políticos mais influentes do país ocupavam mesas vizinhas. Lula poderia estar numa delas, noutra o deputado Caiado e ninguém trocava insultos, pelo contrário, ali se fazia uma confraternização civilizada de todas as tribos, por mais adversas que fossem. Por justiça vale registrar que o período em que o PT esteve no poder, petistas não saíram a insultar adversários. Registre-se, em Sergipe, a elegância e civilidade do governador eleito Marcelo Déda que, ao lado de Eliane, no ato de transmissão do cargo no palco do teatro Tobias Barreto, onde estava o governador João Alves, convidou ao dispositivo restrito a senadora Maria do Carmo, fez uma homenagem ao casal, e até usou a frase: “O mérito maior de uma vitória se mede pelo valor do adversário”.    
De repente tudo mudou. E ambos os lados no confronto, que principiou nas ruas, são igualmente culpados. Cunhou-se a palavra “petralhas” para os petistas e diante do povo nas ruas, não importa se eram ricos ou “direitistas” responderam com outra palavra um tanto idiota: “coxinhas”. É verdade que não houve repressão, mas, pensaram apenas em desqualificar e rotular as manifestações.
Daí em diante tudo desandou e, pessoas por serem petistas ou de esquerda, até por vestirem vermelho, passaram a ser insultadas e agredidas. Veja-se o que aconteceu com Chico Buarque, um artista do povo brasileiro, que mereceria apenas aplausos gerais e irrestritos.
O restaurante Piantela agora fechou e não foi em consequência da crise econômica. Espécie de templo da cordialidade e da convivência política, o Piantela fechou porque o clima tenso, extremamente radicalizado, agora uma nódoa infeliz na política brasileira, não mais permite o convívio civilizado.
O repórter político da Rede Globo, Gerson Camaroti ao comentar, lamentando o fim do Piantela, lembrou de um passado quase recente, quando ele, freqüentador assíduo, chegava a uma mesa e encontrava lado a lado o petista Marcelo Déda e o pefelista Luiz Eduardo Magalhães. Os dois jovens e promissores políticos, adversários combativos, tinham algo em comum: a crença no valor da política como  arte da convivência e  da evolução social. Por isso, combatiam, dialogavam e faziam do Piantela o espaço de cordialidade onde se desfaziam as tensões.

Quanta falta eles nos fazem para que se inicie a urgente tarefa de restauração da política sem ódio.

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