sábado, 3 de setembro de 2016

A HERANÇA E O DISCURSO

A HERANÇA E O DISCURSO
Dilma é agora ex-presidente. Consumou-se o que já era aguardado. Para a História restará a dúvida sobre a justiça da decisão do Senado.   Diante dessa questão que atravessará o tempo dividem-se os brasileiros. O rito do processo seria impecável não houvesse a marca inicial das digitais repugnantemente sujas de um notório cafajeste. Deles, aliás, o cenário político brasileiro está infelizmente repleto.
Numa Nação afundada em crise e sem perspectivas de solução por uma presidente, cuja inabilidade a levou ao isolamento, Temer, eleito com ela e que com ela era processado por crime eleitoral, descobriu que era tratado com desdém e encontrou o pretexto para o gesto que a mosca azul já lhe zumbia ao ouvido.  Começou a fortalecer-se a trama do impeachment que as ruas pediam. É essa característica de nítido apoio de amplos setores da população que minimiza os efeitos de uma trama que, em outras circunstancias, seria repelida como inominável absurdo. Itamar, na mesma condição, após o afastamento de Collor, teve o cuidado ético de manter-se afastado do caldeirão político onde se preparava o ato final de afastamento do presidente. Itamar não fez negociações para ampliar apoios no Senado.   Um julgamento não pode ser isento, respeitável, se os “juízes” são diretamente cooptados pelo maior interessado no resultado final. Nesses meses negociaram-se cargos, ofereceram-se vantagens, sendo essas, apenas, as excrescências mais explicitas. E a mídia falava nessas “negociações” a sombra e com o uso do poder, como se tudo isso fosse normal.  A nossa “ingênua” Constituição, absurdamente, diz que em caso de impeachment o presidente processado sai, para não influir no processo e entra o vice, diretamente interessado em permanecer no cargo.  
Não pensaram, os constituintes, no tamanho da ambição do vice? Não imaginaram que melhor seria colocar na chefia da Nação o presidente do Supremo Tribunal Federal, enquanto durasse o julgamento?
Em condições normais de temperatura econômica e pressão política, o corpo vivo do país reagiria com inaudita indignação a uma trama repleta de suspeições.
Claro, os que perderam não irão permanecer quietos, conformados, ainda mais se os vencedores resolverem tripudiar sobre eles.
Esse clima onde o ódio suplanta a sensatez, despreza a razão e  assim inviabiliza o diálogo e a  cordialidade.
Infelizmente, ao ser defenestrada, a ex-presidente tornou-se menor ainda do que foi no exercício da presidência.
Claro, ela não poderia sair mansa, conformada, o que poderia ser interpretado como covardia ou admissão da culpa.
Mas não precisaria rufar tambores para a guerra.
E caberia a pergunta: Ela que não conseguiu comandar pacíficos brasileiros quer ser agora a generala em chefe de facções guerreiras?
Mais do que a injustiça que entende ter sofrido, a presidente, ao cair, teria de passar os olhos pela cena brasileira. A deplorável e desanimadora cena de desemprego, recessão, quebradeira geral dos governo e das empresas (exceto as financeiras, naturalmente) e admitir que houve erros, ou pelo menos reconhecer que o Brasil vive um momento extremamente doloroso e grave. A nossa titubeante economia exige ações urgentes, paz social, tolerância, comedimento. E a presidenta caída vem nos propor a guerra?
E Temer parece que de ultima hora também se fez belicoso, ameaçando até os seus próprios aliados, ampliando o confronto. Não se tem notícia de que algum dos generais presidentes, no período autoritário, tenha, em público, exigido irrestrita submissão dos seus aliados.

Precisamos de união, paz, comedimento, de idéias, inovações, discernimento e nos saem  mesquinharias, daqueles que teriam de juntar esforços para que escapemos desse aterrador buraco onde nos meteram.

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