O PARQUE DA CIDADE E A ARQUITETA CANDIDATA
O capitalismo não pode existir sem mercado. Melhor dizendo, não
há economia sem mercado.
Mas afinal o que vem a ser exatamente o mercado?
Prescindindo das complicações do economês, basta que
recorramos a um clássico da economia, ao referencial Adam Smith, em A Riqueza
das Nações, onde, numa concisa simplicidade, quase assim ele escreveu: “O
Mercado é onde o campo e a cidade se encontram para comprar, vender e trocar.”
No fundo da Idade Média, surgiram, fora dos muros das cidades
as feiras livres, ou os mercados. Quem estava dentro dos muros levava o que tecia,
o que forjava, a sua artesania, a sua indústria. Os de fora traziam o cereal, a
fruta, as carnes. O feudalismo perdendo a auto-suficiência ia dando lugar ao
capitalismo, o regime da livre iniciativa, que assim se definia, até deixar-se submergir
na onipotência do mercado, e entronizar o capital especulativo.
Numa entrevista à iluminada Folha da Praia, a arquiteta e
urbanista Ana Libório denuncia a prevalência do capital especulativo, que
conduz a desvirtuada ocupação do solo nesta nossa capital onde inexiste um Plano Diretor. O lucro
prepondera sobre a racionalidade. E a nossa cidade se vai deteriorando, os
pobres sendo jogados cada vez mais para muito longe. A idéia de uma cidade
humana e equidosamente estruturada, se esvai na indiferença conivente. Ana
Libório é candidata a vereadora de Aracaju, e não precisaria dizer mais nada
para merecer o voto livre do aracajuano além da entrevista aos argutos
jornalistas da Folha praiana. Ela defende a cidade que queremos, onde haja o
poder público e a iniciativa privada, mas, sem a contaminação dos vícios
especulativos de um mercado libertino.
O Parque da Cidade,
criado onde havia uma lixeira, quando João Alves foi prefeito biônico, (1975-1979)
aproveita as elevações do Morro do Urubú, onde ainda restava uma nesga da Mata
Atlântica, a sumida floresta umbrosa que recobria todo o litoral brasileiro.
O Parque tem sofrido várias agressões. Foi reduzido, invadido,
apesar de ser uma área de reserva natural, que deveria ser intocada.
O jornalista Claudio Nunes no altivo Blog que alimenta, com
matérias tantas vezes relacionadas ao interesse público, denunciou mais uma
agressão ao Parque da Cidade. Tratores derrubaram a vegetação de uma área
situada no lado leste do Morro, depois, aplainaram o terreno.
Assim, um imprescindível patrimônio natural da cidade, se
transformaria, pela malcheirosa alquimia especulativa em um valor de mercado, e
tudo estaria plenamente justificado.
O terreno afetado, poderá até ser uma área privada, contígua
ao Parque, é isso que se deveria de imediato esclarecer. Se assim não for, como
justificar tratores desmatando e aplainando um terreno em área de reserva?
O Procurador de Justiça Eduardo Mattos, respeitado
ambientalista, distribuiu nota onde diz serem falsas as informações de que, na condição
de Secretário Ambiental da Prefeitura de Aracaju, teria autorizado a ocupação.
Mas o Parque, repetimos, é área de reserva, e pertence ao estado.
Suspeita-se que o objetivo seria criar, na vertente leste do
Morro do Urubú, um condomínio de luxo, coisa improvável, porque ali é
periferia. Casebres feitos por invasores
pobres foram demolidos com tratores que estariam prestando serviços a invasores
ricos?
Seria a lógica perversa
do capital que tudo pode, mais uma vez, desconstruindo a idéia possível de uma
cidade planejada para todos os seus habitantes.
No caso, o essencial agora seria delimitar toda a área do
Parque, e também rigorosamente mantê-la íntegra.
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