segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A CONTINÊNCIA DOS MILICOS E A OLIMPÍADA



 A CONTINÊNCIA DOS MILICOS E A OLIMPÍADA
Durante os Jogos Pan-Americanos surgiu a polêmica que revive, agora, durante esta Olimpíada do Rio de Janeiro. Atletas brasileiros vencedores, subindo ao pódio, batem continência à bandeira e ao hino.  Agora, como antes, surgem críticas na mídia antiga e nas redes sociais, onde a atitude era considerada imprópria, por juntar a jogos pacíficos de confraternização mundial um comportamento próprio dos militares. Para alguns, a continência nos remetia aos tempos da ditadura, o espaço de poder ocupado pelos fardados, com seus hábitos castrenses, e as armas que lhes asseguravam o mando inconteste.
Passou o tempo, já se vão trinta e seis anos desde quando se restabeleceu o primado da democracia, que já nos havia sido em parte facultada pela abertura lenta, gradual e segura, iniciada por Geisel, e seguida por Figueiredo.
Democracia necessariamente convive com as contradições, os percalços, as disputas, os antagonismos, os choques de interesses, as visões diferenciadas, e é justamente isso que a faz saudável, ao contrário das ditaduras, que se enfezam, revidam, e mordem até o próprio rabo quando contrariadas.
 Continuamos até hoje alimentando uma resiliente desconfiança, ou preconceito, em relação aos militares. Alguns, até imaginam que ao bater continência numa comemoração de vitória olímpica, eles estivessem a mandar um recado: “Estamos aqui, vigiando vocês. Comportem-se.” Por outro lado, o gesto não destoa da fraternidade olímpica, do sentimento de paz que os jogos transmitem.
Não há nada disso. O mundo mudou, o grande choque ideológico que polarizava a humanidade se desfez. As circunstancias internas e externas são diferentes. Não persistem motivos, ou equívocos, para que se dividam os brasileiros entre bons e maus, como a ditadura insistia em fazer.
Os que batem continência são integrantes das nossas três armas. Eles têm orgulho das corporações às quais pertencem, e querem dividir com elas as suas vitorias. Afinal, nelas encontraram o apoio material, o estímulo, o ensinamento, para que se tornassem campeões, isso com disciplina, organização, e sentimento de brasilidade.
Façamos um rápido percurso pelos números.
O Brasil tem duzentos e quatro milhões de habitantes, As nossas forças armadas, somando os recrutas, andam em torno de 300 mil integrantes. Representam, portanto, algo em torno de um e meio por cento das brasileiras e brasileiros, mas a proporção do verde oliva, do azul, ou do amarelo, batendo continência entre todos os que sobem aos pódios, anda em torno de trinta por cento. Não há dúvida de que eles têm orgulho das corporações às quais pertencem, e que fazem um diferencial na forma como se pratica o esporte neste grande país, hoje sede da Olimpíada.  Até sexta-feira, apenas havíamos conseguido uma medalha de ouro, outra de prata, e três de bronze. Dos cinco medalhados, dois homens e uma mulher são militares, do exército, e da marinha.
Por que eles deveriam ficar escondidos, sem deixar claro de onde saíram?

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