A CONTINÊNCIA DOS MILICOS
E A OLIMPÍADA
Durante os Jogos Pan-Americanos surgiu a polêmica que revive,
agora, durante esta Olimpíada do Rio de Janeiro. Atletas brasileiros vencedores,
subindo ao pódio, batem continência à bandeira e ao hino. Agora, como antes, surgem críticas na mídia
antiga e nas redes sociais, onde a atitude era considerada imprópria, por
juntar a jogos pacíficos de confraternização mundial um comportamento próprio
dos militares. Para alguns, a continência nos remetia aos tempos da ditadura, o
espaço de poder ocupado pelos fardados, com seus hábitos castrenses, e as armas
que lhes asseguravam o mando inconteste.
Passou o tempo, já se vão trinta e seis anos desde quando se
restabeleceu o primado da democracia, que já nos havia sido em parte facultada
pela abertura lenta, gradual e segura, iniciada por Geisel, e seguida por
Figueiredo.
Democracia necessariamente convive com as contradições, os
percalços, as disputas, os antagonismos, os choques de interesses, as visões
diferenciadas, e é justamente isso que a faz saudável, ao contrário das
ditaduras, que se enfezam, revidam, e mordem até o próprio rabo quando
contrariadas.
Continuamos até hoje
alimentando uma resiliente desconfiança, ou preconceito, em relação aos
militares. Alguns, até imaginam que ao bater continência numa comemoração de
vitória olímpica, eles estivessem a mandar um recado: “Estamos aqui, vigiando
vocês. Comportem-se.” Por outro lado, o gesto não destoa da fraternidade
olímpica, do sentimento de paz que os jogos transmitem.
Não há nada disso. O mundo mudou, o grande choque ideológico
que polarizava a humanidade se desfez. As circunstancias internas e externas
são diferentes. Não persistem motivos, ou equívocos, para que se dividam os
brasileiros entre bons e maus, como a ditadura insistia em fazer.
Os que batem continência são integrantes das nossas três armas.
Eles têm orgulho das corporações às quais pertencem, e querem dividir com elas
as suas vitorias. Afinal, nelas encontraram o apoio material, o estímulo, o
ensinamento, para que se tornassem campeões, isso com disciplina, organização,
e sentimento de brasilidade.
Façamos um rápido percurso pelos números.
O Brasil tem duzentos e quatro milhões de habitantes, As
nossas forças armadas, somando os recrutas, andam em torno de 300 mil
integrantes. Representam, portanto, algo em torno de um e meio por cento das
brasileiras e brasileiros, mas a proporção do verde oliva, do azul, ou do
amarelo, batendo continência entre todos os que sobem aos pódios, anda em torno
de trinta por cento. Não há dúvida de que eles têm orgulho das corporações às
quais pertencem, e que fazem um diferencial na forma como se pratica o esporte
neste grande país, hoje sede da Olimpíada. Até sexta-feira, apenas havíamos conseguido
uma medalha de ouro, outra de prata, e três de bronze. Dos cinco medalhados, dois
homens e uma mulher são militares, do exército, e da marinha.
Por que eles deveriam ficar escondidos, sem deixar claro de
onde saíram?
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