domingo, 7 de agosto de 2016

DE FATO E DE FICÇÃO



  DE FATO E DE FICÇÃO
Chegamos a uma fronteira onde o fato e a ficção  se misturam. E o fazem de tal forma, e o fazem tão rápido, que  nem tivemos tempo ainda de parar, e sobretudo de refletir.
Quando acabou o ano 1984, dissemos: Olha ai não aconteceu. Onde está o Grande Irmão, o Big Brother, poderoso, envolvido naquela bruma de mistérios que separa todos os ditadores  da gente comum, que os afastam até do mundo real ?
Onde estão as câmeras  intrometidas, fiscalizando todos em todos os lugares ?
Onde estão os agentes do Estado  se imiscuindo na vida, monitorando os passos e o pensamento das pessoas ?
 No réveillon de 1985, o ano que findava não confirmou a previsão sinistra feita pelo escritor George Orwell no livro a que deu o título sintético e numeral: 1984. Naquele ano, segundo a futurologia orweliana , o mundo seria uma espécie de  prisão virtual, onde o Big Brother estaria presente, atento, vigilante, estendendo vistas e ouvidos por todas as casas, apartamentos, fábricas, escolas, ruas, estradas, campos, utilizando-se dos recursos ilimitados da tecnologia, da ciência posta a serviço da dominação  da humanidade.
George Orwell escreveu suas previsões aterradoras pouco depois de combater, como voluntário, nas tropas anti-fascistas, derrotadas na Guerra Civil Espanhola.  O mundo caminhava para a Segunda Grande Guerra e ele assistia amedrontado a ascensão dos  estados totalitários. O escritor morreu cedo, aos 47 anos em 1950, e nem pode confirmar ou desmentir o que houvera previsto.  Ele nem imaginaria que o seu Big Brother seria transformado num show de sacanagens: o cabaré virtual onde o sexo vira mercadoria, na engrenagem capitalista que Orwell  detestava.
Sem exageros agora podemos afirmar:  1984 está ai, presente agora três décadas depois.
Mergulhamos no mundo virtual. E ele é perigoso. Se não temos ainda o Big Brother , estamos em vias de criar um Estado policialesco, estimulado pelo pavor que espalham os terroristas, pelo calafrio que perpassa as espinhas dos poderosos do mundo, sentindo que são vulneráveis a um hacker qualquer, instalado longe, no terceiro mundo em alguma  favela imunda de Bangladesh ou do Burundi.
As pessoas há muito tempo deixaram  conversar vendo uma o olho da outra. Apenas digitam, olham as telinhas. Quando aqui no Brasil a delação premiada tornou-se moda, ou modismo, veio com ela a banalização da escuta telefônica como arma da policia e da Justiça. Só que esses instrumentos de intromissão não ficam sobre o controle da sociedade, são  restritos os que a ele têm acesso. Em qualquer  ¨cacete- armado¨ vendendo  buginganga chinesa se compra aparato eletrônico  de espionagem e invasão.
E de tanto banalizar o que antes seria inadmissivel, que é a violação pelo Estado ou por quem quer que seja da intimidade e da inviolabilidade do pensamento e das manifestações  das pessoas, agora, qualquer canalha pode tirar proveito da molecagem eletrônica e com ela tornar-se um herói delator.
É, embora tardiamente , o Big Brother de Orwell chegou, está entre nós, e causando estragos. A ele ficamos todos submetidos e inertes.
O Big Brother,  depois,  faz acordos de leniência e vai morar em  Itaipava .

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