O ROTEIRO DAS SERRAS
Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Alberto Caieiro poetou: ¨ Não basta abrir a janela para ver os campos e o rio, não é
bastante não ser cego, para ver as
árvores e as flores.¨
Eça de Queiroz, em A
Cidade e as Serras, criou o personagem Zé Fernandes. Ele distanciava-se das futilidades mundanas subindo a serra de Thormes para cultivar o espírito. E as flores no
jardim.
Já Honoré de Balzac conseguia ser cosmopolita e camponês, virtude ou
esperteza existencial que um escritor
chinês, Lyn Yutang, não alcançava, dizendo-se um montanhês, cuja mais exata visão
de inferno era um apartamento numa cidade grande.
Domingo passado nos propusemos a traçar o roteiro para a
escalada das serras ao nosso alcance. Vagueamos na introdução, e o espaço acabou, por isso, passemos ao roteiro.
Comecemos aqui, em Aracaju, onde se avista com facilidade o
Morro do Urubu, área urbana, acomodando uma floresta que recobre o alto, e
cresceu no sopé, depois que dali foi retirada
a lixeira da cidade. O acesso é feito
por veículos, mas, para quem se propõe a
percorrer outros desafios de caminhadas íngremes, ali seria um bom começo. Em
cima já houve uma escola de hipismo, hoje, há um teleférico sempre ocioso. O Morro do Urubú poderia
constar no roteiro aracajuano com o atrativo da caminhada até o alto. O
trecho final é curto, atravessando uma mata até onde praticantes de vôo livre desejam montar
uma plataforma. Surge a vista magnífica da cidade, do rio, da Barra dos Coqueiros e do mar.
Na serra de Itabaiana, o ponto mais alto de Sergipe, existe acesso para veículos, ali, a caminhada deve ser melhor opção. Cruza-se a Floresta Nacional
de Itabaiana, criada por insistência de Déda, para preservar um bioma agredido. É preciso autorização do IBAMA.
Sabiá, praticante
ultra radical de radicais esportes, autor da façanha única no mundo: o salto em para-quedas,
sem ter para -quedas, ajuda a fazer o
marketing , levando, na sua ¨casa
voadora ,¨ um valente Cessna – Skylane, a bela e recatada tripulante Isadora,
águia vaidosa, presente de Percílio,
amigo das aves, criador, para elas, do
refúgio serrano.
Faz tempo, havia jabuticabas saborosas no sítio de seu
Hercílio, o começo da subida. A serra ainda guardava mistérios minerais que
o nosso maior geólogo, o autodidata Walter de Assis Ferreira Batista ia
desvendando, para sua decepção enorme, por nunca encontrar as esmeraldas, nem a
prata que atraíram o bandeirante Belchior Dias Moreira .
A caminhada não é martírio, torna-se
refrescante, quando se vai em direção às
bacias de mármore ou granito , com a água fria e límpida, que vem do alto.
Na Serra da Miaba
entre Campo do Brito e São Domingos, há o cenário das águas que saem das
entranhas de pedra, formando um rio correndo entre altos paredões . Desde que muito se busque, não é de todo
impossível encontrar-se algum faiscante cristal de rocha, ou pedrinhas de malacacheta, a mica.
Nas alturas da Itabaiana a geógrafa e ambientalista Lilian
Wanderley encontrou um bosque de
coníferas. Trata –se de uma espécie de pinheiro, similar às araucárias
encontradas no sul do país. Como a altitude, dizem os climatologistas, corrige
a latitude, no alto da serra as temperaturas equatoriais se amenizam . Aquela
planta vem de um período geológico remoto, quando o nordeste brasileiro era frio. O achado da raridade botânica gerou a
mobilização para que fosse criada a área de reserva ambiental. A Expedição Serigy,
que reúne gente muito ocupada em busca
de algum lazer esportivamente concebido, irá à Serra em busca das coníferas, e
a geóloga Lilian será convidada especial.
As subidas a pé, nas serras, são feitas por um
grupo de jovens, onde se inclui um idoso
que tem , nessas excursões, uma forma de manter-se em ordem, enquanto o avanço da idade a tudo
desordena.
Para quem sente o chamado da natureza, nada
melhor do que escalar uma montanha.
Num raio de 80
quilômetros, tendo Canindé como centro, há
diversas serras e variadas trilhas.
Um grupo de improvisados
montanhistas, não confundir com alpinistas, com a experiência de várias escaladas
recomenda, especialmente, a Serra da Guia em Poço Redondo, a Serra Grande
em Canindé, e os picos da Serra do
Peito de Moça, no Sítio do Tará , em Paulo Afonso. Junte-se o prazer da
escalada a um fim de semana em Canindé, noitada em Piranhas, no lado alagoano do rio, e se completará um
roteiro fascinante, com as navegadas pelo Canion,
o banho no Talhado, a descida do São Francisco até o Ecoparque, em Poço Redondo,
onde está a Grota do Angico, com as cruzes a marcar a batalha perdida de Lampião.
As subidas às serras podem ser feitas de forma mais completa
com um pernoite no topo, descartando-se
a idéia de fazer fogo, sem esquecer roupas de frio.
Para a Guia, deve-se
telefonar antecipadamente a Zefa da Guia, telefone ( 79) 9 98 19 89 06. Ela providenciará o
apoio de um dos seus sobrinhos guias. Para o Peito de Moça , a perfeita
escultura em pedra dos bicudos,jovens e bem proporcionados seios femininos, telefonar para o guia experiente e atencioso, Bené ( 75)
88 60 – 55 20. Chegar ao bico do peito, é a meta principal.
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