sábado, 2 de julho de 2016

O ROTEIRO DAS SERRAS



O ROTEIRO DAS SERRAS
Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Alberto Caieiro  poetou: ¨ Não basta abrir a janela       para ver os campos e o rio, não é bastante não ser cego, para  ver   as árvores e as flores.¨
Eça de Queiroz,    em A Cidade e as Serras, criou o personagem Zé Fernandes. Ele  distanciava-se das futilidades mundanas    subindo a serra de Thormes  para cultivar o espírito. E as flores no jardim.
Já Honoré de Balzac   conseguia  ser cosmopolita e camponês, virtude ou esperteza  existencial que um escritor chinês,  Lyn Yutang, não alcançava,  dizendo-se um montanhês, cuja mais exata visão de inferno era um apartamento numa cidade grande.
Domingo passado nos propusemos a traçar o roteiro para a escalada das serras ao nosso alcance. Vagueamos na introdução, e o espaço  acabou, por isso,  passemos ao roteiro.
Comecemos aqui, em Aracaju, onde se avista com facilidade o Morro do Urubu,   área urbana,  acomodando uma floresta que recobre o alto, e cresceu no sopé, depois que dali  foi retirada a lixeira da cidade.  O acesso é feito por veículos,  mas, para quem se propõe a percorrer outros desafios de caminhadas íngremes, ali seria um bom começo. Em cima já houve uma escola de hipismo, hoje, há um teleférico  sempre ocioso. O Morro do Urubú poderia constar no  roteiro aracajuano  com o atrativo da caminhada até o alto. O trecho final é curto, atravessando uma mata até  onde praticantes de vôo livre desejam montar uma plataforma.  Surge  a vista magnífica da cidade, do rio,  da Barra dos Coqueiros e do mar.
Na serra de Itabaiana,  o ponto mais alto de Sergipe,  existe acesso para veículos,  ali, a caminhada  deve ser melhor opção. Cruza-se a Floresta Nacional de Itabaiana, criada por insistência de Déda, para preservar um bioma  agredido. É preciso autorização do IBAMA.
 Sabiá, praticante ultra radical de radicais esportes, autor da  façanha única no mundo: o salto em para-quedas,  sem ter para -quedas, ajuda a fazer o marketing , levando,  na sua ¨casa voadora ,¨ um valente Cessna – Skylane, a bela e recatada tripulante  Isadora,   águia vaidosa, presente de Percílio,  amigo das aves, criador, para elas, do refúgio serrano.
Faz tempo,  havia  jabuticabas saborosas no sítio de seu Hercílio,  o começo da subida.  A serra ainda guardava mistérios minerais que o nosso maior geólogo, o autodidata  Walter de Assis Ferreira Batista ia desvendando, para sua decepção enorme, por nunca encontrar as esmeraldas, nem a prata que atraíram  o bandeirante  Belchior Dias Moreira .
A caminhada não é  martírio,    torna-se refrescante,  quando se vai em direção às bacias  de mármore ou granito ,  com a água  fria e límpida, que vem do alto.
 Na Serra da Miaba entre Campo do Brito e São Domingos, há o cenário das águas que saem das entranhas de pedra, formando um  rio  correndo entre  altos paredões .   Desde que muito se busque, não é de todo impossível encontrar-se algum faiscante cristal de rocha, ou  pedrinhas de malacacheta, a mica.
Nas alturas da Itabaiana a geógrafa e ambientalista Lilian Wanderley  encontrou um bosque de coníferas. Trata –se de uma espécie de pinheiro, similar às araucárias encontradas no sul do país. Como a altitude, dizem os climatologistas, corrige a latitude, no alto da serra as temperaturas equatoriais se amenizam  .  Aquela planta  vem de um período geológico remoto,  quando  o nordeste brasileiro era  frio. O achado da raridade botânica gerou a mobilização para que fosse criada a área de reserva ambiental. A Expedição Serigy, que  reúne gente muito ocupada em busca de algum lazer esportivamente concebido, irá à Serra em busca das coníferas, e a geóloga Lilian será convidada especial.
 As subidas a pé,  nas serras, são feitas   por um grupo de jovens, onde se inclui um  idoso que tem , nessas excursões, uma forma de manter-se  em ordem, enquanto o avanço da idade a tudo desordena.  
Para quem sente o chamado da natureza,   nada melhor do que  escalar  uma montanha.
 Num raio de 80 quilômetros, tendo Canindé como centro, há   diversas  serras e  variadas trilhas.
Um grupo de  improvisados montanhistas, não confundir com alpinistas,  com a experiência de várias escaladas recomenda, especialmente, a Serra da Guia em Poço Redondo, a Serra Grande em   Canindé, e os picos da Serra do Peito de Moça, no Sítio do Tará , em Paulo Afonso. Junte-se o prazer da escalada a um fim de semana em Canindé, noitada em Piranhas,  no lado alagoano do rio, e se completará um roteiro  fascinante, com  as navegadas  pelo Canion,  o banho no Talhado, a descida do São Francisco até o Ecoparque, em Poço Redondo, onde está a Grota do Angico, com as cruzes a marcar  a batalha perdida de Lampião.
As subidas às serras podem ser feitas de forma mais completa com um pernoite no topo,  descartando-se a idéia de fazer fogo, sem esquecer roupas de frio.
Para a  Guia, deve-se telefonar antecipadamente a Zefa da Guia, telefone  ( 79) 9 98 19 89 06. Ela providenciará o apoio de um dos seus sobrinhos guias. Para o Peito de Moça , a perfeita escultura em pedra dos  bicudos,jovens  e bem proporcionados seios femininos,  telefonar  para o guia experiente e atencioso, Bené ( 75) 88 60 – 55 20. Chegar ao bico do peito, é a meta principal.

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