domingo, 17 de julho de 2016

O POLÍGONO DAS SECAS NAS TERRAS DO SEM- FIM



 O POLÍGONO DAS SECAS
 NAS TERRAS DO SEM- FIM
 Quando se criou a SUDENE no final da década dos cinqüenta,  ( os  ¨ anos dourados  ¨ e jamais repetidos de Juscelino Kubitscheck , redesenhou-se geograficamente  o nordeste, e nele surgiu a imagem geométrica  de um polígono  delimitando a área  fustigada por uma adversidade climática que se chama seca.  Desde então, o polígono se  amplia acompanhando a incidência da estiagem que  nas quatro direções  se torna uma presença cada vez mais freqüente. O semiárido nordestino, ou seja, o Polígono das Secas. começa no norte mineiro e ultrapassa o Paranaíba avançando pelas terras maranhenses    onde a devastação das florestas faz refluir a Amazônia encharcada cada vez para mais longe. Em Belém do Pará já não se marcam mais os encontros vespertinos para antes ou depois da chuva, porque a chuva  que era uma espécie de relógio da natureza  não mais  existe com aquela regularidade cronometrica   .
O sul baiano , as  ¨terras do sem fim¨ como Jorge Amado as denominou, eram  ubérrimas, férteis e molhadas. Os cacauais extensos conviviam com a floresta,  em parte  preservada para sombrear as árvores,  fazendo-as produzir o ¨ fruto de ouro ¨, que criou  uma era de fastígio ao lado de um  drama social.  Agora, as terras quase embrejadas do sul baiano estão ficando assemelhadas ao semiárido. Se a SUDENE ainda valesse alguma  coisa , breve, as populações de Teixeira de Freitas, de Eunápolis, Porto Seguro, de Ilheus, Itabuna, Itapetinga, estariam reivindicando a ampliação ainda maior do Polígono das Secas, para que nele  ¨as terras do sem fim¨ fossem incluídas. Há 30 anos quem descia as serranias rumo  a Porto Seguro, ou seguia em direção ao Espírito Santo cruzava, na estrada, com  as carretas numerosas conduzindo toros de árvores gigantescas. Era a devastação já em curso acelerado da vigorosa floresta atlântica, dando lugar às extensas pastagens e culturas diversas. Não tiverem sequer o cuidado de não tocar nas matas que protegiam as encostas, as nascentes  , as margens dos rios. Hoje, o processo de desertificação na terra desprotegida anda acelerado, as nuvens de chuva rareiam, e a seca causa mortandade nos rebanhos, inclusive na região de Itapetinga, onde sergipanos que naquela época ali engordavam bois, diziam que a maior dificuldade era contar o rebanho, porque o capim alto escondia as reses. Os cacaueiros estão morrendo, a cultura do café quase inviabilizada, os rios volumosos transformam-se  em riachos intermitentes. Uma cidade como Eunápolis, nascida e vertiginosamente ampliada pela prosperidade que veio com a derrubada da floresta e das centenas de serrarias instaladas,  está ameaçada de ficar sem água.
Aquele fascínio que Pero Vaz de Caminha revelou na primeira carta descritiva da vastidão recém descoberta  foi desaparecendo,   agora, na terra ¨ em  que se plantando  tudo dá , ¨ começam a surgir os desertos.

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