O POLÍGONO DAS SECAS
NAS TERRAS DO SEM- FIM
Quando se criou a
SUDENE no final da década dos cinqüenta,
( os ¨ anos dourados ¨ e jamais repetidos de Juscelino Kubitscheck ,
redesenhou-se geograficamente o nordeste,
e nele surgiu a imagem geométrica de um
polígono delimitando a área fustigada por uma adversidade climática que
se chama seca. Desde então, o polígono
se amplia acompanhando a incidência da
estiagem que nas quatro direções se torna uma presença cada vez mais freqüente.
O semiárido nordestino, ou seja, o Polígono das Secas. começa no norte mineiro
e ultrapassa o Paranaíba avançando pelas terras maranhenses onde a devastação das florestas faz refluir
a Amazônia encharcada cada vez para mais longe. Em Belém do Pará já não se
marcam mais os encontros vespertinos para antes ou depois da chuva, porque a
chuva que era uma espécie de relógio da
natureza não mais existe com aquela regularidade cronometrica .
O sul baiano , as ¨terras
do sem fim¨ como Jorge Amado as denominou, eram
ubérrimas, férteis e molhadas. Os cacauais extensos conviviam com a
floresta, em parte preservada para sombrear as árvores, fazendo-as produzir o ¨ fruto de ouro ¨, que
criou uma era de fastígio ao lado de
um drama social. Agora, as terras quase embrejadas do sul
baiano estão ficando assemelhadas ao semiárido. Se a SUDENE ainda valesse
alguma coisa , breve, as populações de
Teixeira de Freitas, de Eunápolis, Porto Seguro, de Ilheus, Itabuna,
Itapetinga, estariam reivindicando a ampliação ainda maior do Polígono das
Secas, para que nele ¨as terras do sem
fim¨ fossem incluídas. Há 30 anos quem descia as serranias rumo a Porto Seguro, ou seguia em direção ao
Espírito Santo cruzava, na estrada, com
as carretas numerosas conduzindo toros de árvores gigantescas. Era a
devastação já em curso acelerado da vigorosa floresta atlântica, dando lugar às
extensas pastagens e culturas diversas. Não tiverem sequer o cuidado de não
tocar nas matas que protegiam as encostas, as nascentes , as margens dos rios. Hoje, o processo de
desertificação na terra desprotegida anda acelerado, as nuvens de chuva rareiam,
e a seca causa mortandade nos rebanhos, inclusive na região de Itapetinga, onde
sergipanos que naquela época ali engordavam bois, diziam que a maior
dificuldade era contar o rebanho, porque o capim alto escondia as reses. Os
cacaueiros estão morrendo, a cultura do café quase inviabilizada, os rios
volumosos transformam-se em riachos
intermitentes. Uma cidade como Eunápolis, nascida e vertiginosamente ampliada
pela prosperidade que veio com a derrubada da floresta e das centenas de
serrarias instaladas, está ameaçada de
ficar sem água.
Aquele fascínio que Pero Vaz de Caminha revelou na primeira
carta descritiva da vastidão recém descoberta
foi desaparecendo, agora, na terra ¨ em que se plantando tudo dá , ¨ começam a surgir os desertos.
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