DA VILA OLIMPICA
AO SUPERMERCADO
Fiscais do Ministério do
Trabalho chegaram rápidos e pressurosos à Vila Olímpica, quando uma equipe de
mais de 600 trabalhadores começava um serviço de emergência para reparar falhas
registradas em alguns dos trinta prédios com mais de 3 mil apartamentos. As
torneiras e chuveiros que não funcionavam,
esgotos entupidos, paredes manchadas, ar condicionado desliagado,
lâmpadas que não acendiam, foram alguns dos problemas detectados pela delegação
da Austrália, que reclamou e gerou pelo mundo uma sucessão de desprimorosas
noticias em relação ao Brasil e à nossa capacidade para realizar uma
olimpíada, privilégio exclusivo do clube restrito de países ricos, só quebrado pela
África do Sul, e agora, pelo Brasil. Os
fiscais multaram, criaram todo tipo de
dificuldades, alegando abusos na
contratação e nos horários alongados das jornadas de trabalho.
Havia urgência, era preciso
correr contra o tempo, fazer jornadas de
trabalho incomuns de até 15 horas. Tudo
isso era emergencial, duraria apenas uns três ou quatro dias. Os fiscais não
enxergaram a dimensão do problema, a necessidade premente de uma ruptura com a
ortodoxia burocrática que se encastela
na nossa legislação trabalhista, para que
tudo ficasse bonito, limpinho e operacional nos grandes edifícios, que
logo estariam abrigando atletas do mundo
todo.
Os fiscais complicaram tudo,
agindo com espantosa insensibilidade e
quase inviabilizaram os consertos. Enquanto eles se esmeravam em cumprir suas inoportunas tarefas fiscalizatórias , os
trabalhadores esperando o desfecho do
imbróglio, maldiziam os burocratas que lhes tiravam a oportunidade de
ganhar um inesperado dinheirinho extra em tempos difíceis de desemprego.
Na Vila Olímpica os fiscais
sabiam que logo virariam noticia, ganhariam destaque na mídia brasileira e
internacional.
Já por aqui, nos supermercados de Aracaju,
onde em alguns deles se cometem as
maiores iniqüidades , graves
desrespeitos à caduca legislação trabalhista, e à dignidade humana, parece que não
chegam os fiscais. Ou se chegam, não
enxergam as condições humilhantes de quase trabalho escravo, a rotina dos
funcionários de grande parte
dos supermercados aracajuanos. Os caixas,
na sua maior parte mulheres, são os mais submetidos ao regime semi-escravo de trabalho, e isso
eles fazem à vista de todos, inclusive, sem duvidas, dos fiscais e dos dirigentes dos sindicatos dos
trabalhadores, todos, calados e quietos.
Nos seus países de origem
essas redes de supermercados que aqui operam, tratam bem melhor, pagam bem mais
aos seus trabalhadores, talvez porque lá exista fiscalização, e os sindicatos
sejam menos omissos. Ou coniventes......
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