É A HORA:
ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE
Fazendo a defesa do
impeachment o jurista Miguel Reale pediu licença para uma declaração pessoal.
Ele condenou, duramente, a atitude do deputado Bolsonaro que, na Câmara,
declarou seu voto favorável ao julgamento da presidente e, na mesma ocasião,
fez o elogio da tortura, a pior forma de crueldade covarde e desumana,
homenageando o coronel Ulstra, um ser humano moralmente degenerado. Lembrando que foi presidente da Comissão que
apurou os atos de tortura e os assassinatos cometidos durante o período da
ditadura civil-militar, Reale externou sua solidariedade às famílias das
vítimas do sinistro torturador e assassino.
Há, no Congresso Nacional, deputados
e senadores que são energúmenos fascistas como Bolsonaro, larápios, mentirosos,
farsantes e chantagistas como Eduardo Cunha; idiotizados hipócritas e
exibicionistas ridículos como a deputada mulher do prefeito de Montes Claros,
preso, um dia depois em que ela o apontou como exemplo para o país; há gangsters cínicos como Maluf, mas há também pessoas dignas que salvam a
política de rolar completamente pelo esgoto.
O Congresso é a própria
imagem do povo brasileiro, mas, nos últimos anos, cresceu no Senado e na
Câmara, de forma desproporcional, a quantidade
daqueles malfeitores que se distanciam completamente do modo de vida sacrificado e digno da grande
maioria dos brasileiros. Esses
malfeitores infelizmente nos representam.
Repugnados com os desmandos,
a irresponsabilidade, a ausência de espírito publico e a roubalheira
desembestada, na qual se envolveram
políticos e empresários essencialmente picaretas, os brasileiros chegaram
a malsinar a atividade política, e forçaram o impeachment.
Em meados de maio Michel
Temer deverá ser o Presidente da República. Há esperança que se mistura à muita
desconfiança. Esperança de que haja, pelo menos, um mínimo de competência
política e gerencial, para retirar o país dessa situação de calamidade. Se
alguém alimentar esperança em alguma mudança para melhor dos nossos hábitos
políticos, com certeza, logo estará decepcionado.
Nada mudará, porque o
Congresso continua o mesmo, porque a política continuará sendo praticada da
mesma forma. Nada mudará porque, simplesmente, não existem condições políticas
para que alguma mudança estrutural ocorra.
Não serão feitas as tão
esperadas reformas. Continuaremos com as eleições desvirtuadas e apodrecidas
pelo poder econômico; com as dezenas de partidos, que são apenas instrumentos
para as negociatas; continuaremos tropeçando nos mesmos obstáculos das leis
envelhecidas, dos sistemas obsoletos, do Estado emperrado pelos vícios, pela
ineficiência. Diante desse quadro, diante da radicalização política e do
crescimento de uma extrema direita intolerante em todos os sentidos, e de uma
esquerda que em grande parte restou desmoralizada, é ingenuidade ou má fé
acreditar que o Brasil começa a mudar.
No instante em que a
legitimidade do poder é posta em dúvida, em que a política se torna
desacreditada, e até a própria democracia começa a ser vista com desdém, seria
a hora de convocar uma Assembléia Nacional Constituinte. Uma Constituinte
exclusiva, instituída com dia e hora para iniciar e terminar a tarefa, sem que
dele participem políticos com mandatos, e que os constituintes passem ao largo
dos privilégios, e até com a exigência de que ficariam inelegíveis para
qualquer cargo por 8 anos.
Os candidatos à Constituinte
deveriam ter ficha rigorosamente limpa, e
seriam barrados , se contra eles
houvesse suspeitas publicas, ou denuncias formuladas por qualquer cidadão, sem
que ficasse cabalmente demonstrado que seriam
infundadas e falsas.
O processo eleitoral teria
de ser rigorosamente blindado para impedir a interferência do poder econômico, por
outro lado, o Estado proporcionaria meios, largos espaços nas mídias para que
se travasse o grande debate democrático, a defesa de idéias e de projetos.
Uma eleição para a Constituinte
teria de se processar sem a presença de marqueteiros, sem os engodos das
imagens pré-fabricadas, e com a possibilidade da existência de candidatos sem
filiação partidária. E mais ainda: com eleição majoritária.
Só uma Constituinte teria
legitimidade e poder para fazer as mudanças indispensáveis, sem as quais o
Brasil continuará apenas tentando sobreviver às sucessivas crises que virão.
Temer seria o Estadista que
a hora exige, se tomasse a iniciativa corajosa e magnânima de convocar a
Constituinte.
Tudo isso pode ser devaneio
ou utopia. E parece ser mesmo.
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