UM MINUTO PELO BRASIL
Existem na Câmara Federal,
agora, duas Comissões que, em meio à nossa tragédia se
transformam no foco principal do trepidante noticiário político. Uma, decide
sobre a abertura do impeachment da presidente Dilma, outra, sobre o processo de cassação do
mandato do deputado Eduardo Cunha.
Em ambas o interesse do Brasil
ficou de fora. Pela porta de acesso às duas passaram os interesses pessoais, as miudezas
políticas, os ódios misturados com
ambições, muitas vaidades e crescentes desatinos.
Numa, tudo se faz para apressar os ritos que as
formalidades legais exigem, noutra, se faz exatamente o contrário.
Nas comissões, os parlamentares
trocam insultos e tapas, nas ruas os
grupos adversários já se enfrentam .
O vice Temer, vaidoso,
escova o terno aguardando a sonhada e conspirada posse, enquanto promove a divisão do bolo do seu provável
futuro governo. A presidente Dilma troca
a faixa de presidente pelo jeans amarrotado da guerrilheira e entrega o governo
para quem se dispuser a ocupá-lo.
Por toda a Nação inflamada
pela falsidade de duas alternativas que a mediocridade individualista da nossa
política, e a cafajestice de uma mídia irresponsável alimentam , uns gritam: ¨Impeachment já ¨; outros dizem: ¨Não passarão.¨
O confronto se agudiza, a radicalização a tudo contamina.
Para tratar dos interesses
maiores do Brasil não se gasta sequer um minuto.
Façamos um passeio pela realidade brasileira.
A governabilidade inexiste.
Dilma faz um caminhar angustiante em
busca de um apoio político indispensável para barrar o impeachment.
O PMDB, depois de 13 anos de
aliança com o PT, com todos os compartilhamentos e conivências que essa parceria exigiu, de repente decide romper a aliança. Parlamentares inflamados começam a gritar:
¨Fora PT, Temer Presidente.¨ A atitude de quem participou tão proximamente do
governo, seria circense se não fosse desprezível.
Ai se poderia perguntar: Se
faz um impeachment com o objetivo
de tornar Temer presidente.? A um homem que tem uma biografia
respeitável, e é doutor em Direito Constitucional,; deveria
repugnar-lhe a simples alusão ao seu nome como beneficiário de um ato forjado para atender objetivos pessoais ou de grupos .
Um deputado que é, até agora,
o mais bem sucedido meliante da nossa afrontada República, Eduardo Cunha,
torna-se o principal líder do impeachment. O que poderia ser uma ação política
em favor do Brasil, torna-se um suspeito conluio de interesses contrariados, paralelos
às ambições e vaidades desmedidas, tudo perigosamente temperado com a
insensatez do ódio.
Enquanto isso, a economia dá sinais de
colapso, o desemprego cresce, as receitas despencam. Estados e municípios
aproximam-se da insolvência. Apenas para citar um só caso: No Rio de Janeiro,
onde deverá acontecer a Olimpíada, a
interrupção de obras pela PETROBRAS quase falida, e pelas empreiteiras
sufocadas pela Operação Lava a Jato, transformou cidades antes florescentes
como Macaé e Itaguaí em quase desolados cemitérios. Também
no Rio, com a segurança pública afetada
pela incerteza dos salários impontuais, os bandidos voltam a dominar a cena. Esse quadro de aumento da violência registrado
em todo o país, se traduz nas assustadoras cifras letais. É algo estarrecedor que nos faz
ultrapassar a Síria, dizimada há cinco anos por uma guerra civil.
A gravidade da situação que
atravessamos recomenda, ou impõe, algo que se perdeu em meio à radicalização insensata e absurda
que a tudo contamina , algo que se poderia simplesmente denominar:
responsabilidade pública.
Em qualquer das duas
circunstancias a que nos levará a crise política, a posse de Temer ou a
permanência de Dilma, haverá gravíssimas conseqüências. O impeachment, tal como
se coloca, é um exagero orquestrado irresponsavelmente, que só
o clima extremamente radicalizado justifica, mas, pode chegar à
deposição da presidente. Nesse caso, Temer, assumindo sob a sensação de golpe
que será sentida por expressiva e bem
articulada parcela da sociedade, principalmente sindicatos e movimentos
sociais, provocará, então, uma permanente instabilidade para o novo governo, com riscos evidentes de
gravíssimos confrontos.
Caso não prospere o
impeachment, a permanência da presidente
Dilma não será pacificamente aceita pela
grande maioria da população. E ai a crise continua.
Como se vê , as duas alternativas são desastrosas. Todavia
, surgindo qualquer uma delas, haverá o
remédio eficaz da política, aquela arte capaz de amenizar os piores conflitos.
A questão crucial é saber se teremos políticos aptos a exercitar plenamente a arte magistral da
política posta a serviço do interesse público.
É difícil que isso venha a
acontecer, mas, parodiando Dom Pedro I , lembramos que para o bem de todos e
felicidade geral da Nação, é imprescindível que aconteça.
Haverá, sem duvidas, o
minuto para o Brasil, e as vozes sensatas
da CNB, do STF, saídas também da própria política, já sinalizam a
possibilidade desse minuto.
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